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Povos indígenas vão proteger 240 milhões de hectares de floresta amazónica

02.12.2015

Os povos indígenas da bacia amazónica assumiram a protecção de 240 milhões de hectares de floresta, com base numa gestão milenar, foi ontem anunciado durante a COP21 em Paris.

 

“Se o clima muda, por que não mudamos nós também?”, desafiou Jorge Furagaro, coordenador para o clima e Ambiente na COICA (Coordination of Indigenous Organizations of the Amazon Basin), numa conferência de imprensa dedicada às florestas.

Este responsável anunciou que os povos indígenas assumiram o compromisso de assegurar a protecção de 240 milhões de hectares de florestas na bacia amazónica. “Para nós, as florestas significam a vida, são o nosso supermercado, centro comercial, farmácia, hospital, a nossa casa. Dependemos das florestas”, lembrou.

Jorge Furagaro – falando em nome dos 400 povos e nacionalidades indígenas da Bacia Amazónica – salientou a participação dos povos que vivem na floresta nas iniciativas internacionais para as proteger. “Queremos reduzir o fosso entre as negociações globais e as experiências locais, o nosso conhecimento como povos indígenas.”

Para conseguir cumprir a meta, Furagaro defendeu o Fundo Indígena Amazónico. “Esta é uma plataforma que canaliza recursos para os povos indígenas de forma directa. Há muitos fundos mas a maioria não chega às comunidades locais”, alertou.

Outra condição crucial é garantir a territorialidade destes povos na região, “para que possam garantir a protecção das florestas, através da gestão tradicional que já fazem há milhares de anos”.

Manuel Pulgar-Vidal, ministro do Ambiente do Peru, também esteve na conferência de imprensa e sublinhou as ameaças actuais às florestas. “As florestas estão sob enorme pressão, nomeadamente por causa da exploração mineira e madeireira ilegal, da desflorestação para plantações de óleo de palma.” Na verdade, apenas 20% do óleo de palma produzido a nível mundial é certificado.

Uma das melhores formas para combater a perda de florestas, acrescentou Pulgar-Vidal, é “olhar para elas além da madeira que nos podem dar, para o seu valor global, desde a biodiversidade ao serviços dos ecossistemas e ao conhecimento tradicional”.

A protecção das florestas é um dos pilares da COP21 em Paris, onde 195 países procuram um acordo global para limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 2ºC em relação a 1850, até ao final deste século.

Desde o ano passado que o foco tem estado nas florestas, nomeadamente desde a Declaração de Nova Iorque sobre Florestas, que pede a redução da desflorestação para metade até 2020 e a tentativa de travá-la por completo até 2030.

Para acelerar a resposta a esse pedido foi criada a Agenda de Acção Lima-Paris (LPAA, sigla em inglês) na COP20 em Lima, no ano passado. Esta é uma iniciativa do Peru, França (os países anfitriões das COP20 e COP21, respectivamente) e Nações Unidas. Durante a COP21 em Paris serão organizados 12 eventos para mostrar o que se está a fazer, para anunciar novos compromissos e para incentivar à acção.

[divider type=”thin”]Acompanhe os temas das alterações climáticas e da biodiversidade durante a COP21 na nossa secção especial Clima.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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