Uma das metas é duplicar a população reprodutora do abutre-preto em território nacional até 2027, para um total de 80 casais.
Aumentar de quatro para cinco o número de colónias portuguesas desta espécie de ave necrófaga, considerada essencial para a manutenção de ecossistemas saudáveis, é outro dos objectivos do novo “LIFE Aegypius return – consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha”, explica uma informação da associação Palombar, um dos parceiros desta iniciativa.
Durante cerca de 40 anos não houve reprodução de abutres-pretos (Aegypius monachus) em território português, onde só em 2010 a espécie voltou a nidificar, no Parque Natural do Tejo Internacional. É esta área protegida no distrito de Castelo Branco que alberga a maior colónia nacional desta espécie, com 31 casais.
São conhecidas hoje outras três colónias de abutre-preto, todas elas próximas da fronteira com Espanha: uma no Alentejo, onde vive a segunda maior colónia e onde recentemente foram marcadas três crias, na Herdade da Contenda; outra colónia mais recente, na Serra da Malcata; uma terceira no Parque Natural do Douro Internacional.
Populações muito frágeis
O problema é que, tanto em Portugal como do outro lado da fronteira, as populações desta grande ave “apresentam-se hoje muito frágeis, com baixa produtividade e ameaçadas por vários factores”, acrescenta a LPN – Liga para a Protecção da Natureza, outro dos parceiros do projecto. Entre as muitas ameaças estão os fogos florestais, o uso ilegal de venenos, pouca disponibilidade de alimentos, uso de fármacos veterinários como o diclofenaco, perturbação humana na época de reprodução e electrocussão em linhas eléctricas.
Estes problemas são ainda mais preocupantes porque cada casal de abutre-preto tem apenas uma cria por ano. E muitas das pequenas aves não chegam a sobreviver para além dos primeiros meses, devido precisamente a ameaças como a falta de alimento, a perturbação humana e a predação.
Outra das metas do LIFE Aegypius return é assim aumentar o sucesso reprodutor em Portugal, que mede o número de crias voadoras por cada ovo posto. Hoje, este indicador é considerado “muito baixo para uma população viável” – é de apenas 0,38 – e a meta é aumentá-lo para 0,5 – ou seja, uma cria de abutre-preto sobrevivente por cada dois ovos que forem postos.
Se forem alcançadas até ao fim do projecto, todas estas metas vão ajudar a que seja alcançado um dos grandes objectivos: o abutre-preto deixar de ser considerado como Criticamente em Perigo em Portugal – como foi classificado em 2005 pelo Livro Vermelho dos Vertebrados – descendo um degrau no risco de extinção, para o estatuto Em Perigo.
Mais áreas de alimentação sem vedações e munições sem chumbo
Tendo em vista a recolonização natural da espécie, segundo a LPN, estão previstas acções de gestão do habitat “para prevenir os incêndios florestais nas actuais colónias e a melhoria da disponibilidade de alimento através do estabelecimento e integração de novas áreas de alimentação não vedadas em Portugal”.
A transição para munições sem chumbo em várias propriedades de caça é outra das medidas, de forma a reduzir os episódios de intoxicação quando estas aves se alimentam de presas que foram caçadas. Planeada está também a “redução significativa da perturbação ao redor das colónias”, acrescenta esta organização não governamental (ONG).
O novo projecto é coordenado pela Vulture Conservation Foundation, uma organização europeia dedicada à conservação dos abutres, e vai ter um custo total de mais de 3,6 milhões de euros, financiados por Bruxelas em 75%, através do programa LIFE.
Entre os vários parceiros, além da Palombar e da LPN, contam-se outras cinco organizações portuguesas: a Herdade da Contenda, empresa municipal gerida pela autarquia de Moura; SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves; Associação Transumância e Natureza; GNR; Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade. Do lado espanhol, o projecto integra a ONG Fundación Naturaleza y Hombre.