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ADN revela espécies escondidas sob um mesmo disfarce

26.05.2022

A análise molecular de anelídeos marinhos do Nordeste Atlântico revelou que o que era previamente considerada uma só espécie são afinal nove espécies diferentes com a mesma aparência morfológica, segundo a Universidade de Aveiro.

A descoberta de uma equipa das universidades de Aveiro e do Minho deu origem à descrição de cinco espécies novas para a Ciência, estando as restantes a aguardar colheita de mais exemplares para um estudo mais aprofundado.

Exemplar da espécie Eumida sanguinea. Foto: Arne Ny Gren

Os anelídeos são animais invertebrados com o corpo formado por vários segmentos que lembram uma série de anéis fundidos uns aos outros. Fazem parte dos ecossistemas costeiros e vivem em substratos arenosos e lodosos ou entre algas, até cerca de 50 metros de profundidade.

O crescente recurso a técnicas moleculares para a identificação de organismos tem vindo a revelar uma maior diversidade de espécies do que o pensado anteriormente.

Publicado na revista Zoological Journal of the Linnean Society, um estudo de investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA), da Universidade do Minho e da Universidade de Gotemburgo (Suécia) a 148 exemplares da espécie Eumida sanguinea colhidos ao longo da costa europeia (desde a Noruega à Itália) revelou tratar-se, afinal, de um complexo de nove espécies diferentes.  

Estas espécies de anelídeo distinguem-se apenas por variações subtis de coloração corporal e de proporção dos seus apêndices, as quais passam despercebidas até aos olhos mais atentos e experientes.

Com o cada vez maior uso dos testes de ADN poderá haver surpresas com outras espécies. “Na verdade” aponta, em comunicado, a investigadora Ascensão Ravara, do CESAM, “este foi só o primeiro ‘complexo de espécies’ de entre quatro que estamos a estudar”. A equipa – da qual fazem também parte os investigadores Marcos Teixeira, Pedro Vieira, Filipe Costa e Arne Nygren – tem já sinalizadas outras espécies que provavelmente também serão afinal complexos de espécies diferentes. “Certamente existirão mais casos por identificar”, sublinha Ascensão Ravara.

Ascensão Ravara. Foto: Universidade de Aveiro

Antigamente, explica Ascensão Ravara, “a descrição das espécies baseava-se unicamente nas características externas dos organismos [morfologia]”. Hoje em dia, “as técnicas moleculares – com obtenção de sequências de ADN – permitem-nos caracterizar e comparar os organismos também ao nível genético. São duas ferramentas [morfologia e genética] que se complementam e nos ajudam a conhecer melhor o mundo que nos rodeia”.

Os organismos estudados neste trabalho estão depositados na CoBI – Coleção Biológica de Investigação da UA, uma coleção que está disponível para estudo pela comunidade científica. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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