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Com o Mar dividido em dois ministérios, organização receia pela conservação do ambiente marinho

24.03.2022
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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

A nova orgânica e composição do Governo ditou que a tutela do Mar se divida agora em dois ministérios. A Sciaena receia que não se dê a “devida importância à preservação do meio marinho”.

No ano em que Portugal recebe a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, entre 27 de Junho e 1 de Julho, o Mar perde o seu ministério, de acordo com a nova orgânica e composição do Governo, conhecida a 23 de Março.

A tutela do Mar passará a estar dividida entre o Ministério da Economia e do Mar e o Ministério da Agricultura e da Alimentação.

Como reacção à decisão, a organização Sciaena – Oceanos, Conservação e Sensibilização, sentiu a necessidade de apelar hoje a “que a conservação dos ecossistemas marinhos seja definida como prioritária nesta área governativa durante os próximos quatro anos”.

“A questão que se coloca é se estes dois ministérios terão capacidade, interesse e desígnio de dar a devida importância à preservação do ambiente marinho, crucial para assegurar a conservação da biodiversidade e o papel do oceano no combate à crise climática”, comentou, em comunicado enviado à Wilder, Gonçalo Carvalho, coordenador executivo da organização de conservação marinha.

Ainda sem saber quem assumirá as pastas da Secretaria de Estado do Mar e Secretaria de Estado das Pescas, tuteladas por diferentes ministérios, “importa perceber de que forma irão ser articulados entre as duas tutelas os assuntos relacionados com o mar, que necessitam de uma abordagem integrada, abrangente e holística”, escreve a organização.

“Fica também por conhecer sob que tutela ficarão dimensões eminentemente relacionadas com conservação marinha como é o exemplo da Rede Nacional de Áreas Marinhas Protegidas.”

A Sciaena receia que o Mar “volte a ser visto e, acima de tudo, gerido como uma fonte inesgotável de recursos”, isto depois da nomeação de António Costa e Silva como ministro da Economia e do Mar. A organização diz que “o antigo presidente do Conselho de Administração da Partex foi, nos últimos anos, uma das principais vozes a nível nacional a favor da extração de recursos não vivos, nomeadamente no meio marinho”.

“Não obstante, a Sciaena espera que o novo ministro e os restantes responsáveis pela tutela do mar e das atividades que dele dependem tenham a capacidade de assegurar uma gestão integrada e com o bom estado ambiental dos ecossistemas marinhos como prioridade absoluta”. Só assim, acrescenta, “será possível assegurar o potencial económico e a importância que estes têm, inclusivamente como fonte de alimento”.

Para a Sciaena, “Portugal tem a responsabilidade de ser uma referência nas políticas internacionais para o mar (dentro e fora da União Europeia), em particular para a conservação da sua biodiversidade marinha e como garante do bom estado ambiental do meio marinho na bacia do Atlântico”.

A organização recorda que Portugal acolherá a 2ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, “em que as atenções mundiais irão recair sobre Portugal e sobre a sua ação política e estratégica no que ao oceano toca”.

“A Sciaena vai continuar a ser, como até agora, um parceiro de diálogo com o governo e grupos parlamentares da Assembleia da República e irá iniciar diálogos construtivos em prol da conservação e gestão dos ecossistemas marinhos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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