Conheça o caracol que foi eleito o Molusco do Ano 2022

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O caracol-pintado-cubano (Polymita picta) foi eleito o Molusco do Ano 2022, votação internacional que permite agora que esta espécie ameaçada tenha o seu genoma sequenciado. Isto poderá ajudar a proteger esta icónica espécie da extinção.

Cientistas do Reino Unido e de Cuba fizeram campanha para que o caracol-pintado-cubano vencesse este concurso, iniciativa da Senckenberg Nature Research Society, do LOEWE Centre for Translational Biodiversity Genomics (TBG) e da Worldwide Society for Mollusc Research. O grande vencedor foi conhecido hoje, depois de uma votação que decorreu entre 25 de Fevereiro e 15 de Março.

Caixa com caracóis-pintados-cubanos. Foto: Bernardo Reyes-Tur

Eram cinco os finalistas nesta competição: três caracóis, um mexilhão e um escafópode. O caracol-pintado-cubano venceu com 10.092 votos, representando 62% do número total de votos ( 16.388 votos vindos de 148 países).

A borboleta do mar (Cymbulia peronii) ficou em segundo lugar (com 2.773 votos), seguida do teredo (Teredo navalis) com 1.643 votos. O escafópode Fustiaria rubescens recebeu 1.115 votos e o caracol Telescopium telescopium, 765 votos.

Como prémio, o caracol-pintado-cubano vai ter todo o seu genoma sequenciado pelo TBG, na Alemanha.

Os caracóis-pintados-cubanos, que apenas vivem numa estreita faixa costeira na zona oriental de Cuba, são conhecidos pelas suas espantosas conchas coloridas e pela sua “seta do amor”, um sistema que usam para atingir parceiros na reprodução e desta forma transferir as hormonas sexuais. Vivem numa grande variedade de habitats, desde florestas tropicais a zonas bem mais áridas e têm um tamanho entre os dois e os três centímetros.

Podem viver entre um a dois anos. Alimentam-se de musgos e de líquenes que encontram nos troncos das árvores. Desta forma ajudam a manter as árvores saudáveis e ajudam à agricultura local.

Cuba albergará a maior diversidade de caracóis do mundo. Mas nenhum tem o complexo padrão e variedade de cores do Polymita picta. Mas são precisamente estas características únicas que tornam esta espécie tão apetecível aos olhos de coleccionadores e de caçadores ilegais, que vendem as conchas a turistas ou as exportam para o estrangeiro.

Além disso, o habitat destes caracóis está ameaçado, o que significa que a espécie está agora Criticamente Em Perigo de extinção, segundo a Lista Vermelha cubana de invertebrados.

Para tentar mudar o destino deste caracol, Angus Davison, da School of Life Sciences na Universidade de Nottingham (Reino Unido), e  Bernardo Reyes-Tur, da Universidade de Oriente, em Santiago de Cuba, uniram esforços nesta iniciativa, em nome do caracol-pintado-cubano. Esperam agora compreender melhor como evoluiu esta espécie e promover a sua conservação.

Caracóis-pintados-cubanos. Foto: Bernardo Reyes-Tur

“Muito obrigada a todos os que votaram. Estou encantado com o facto deste lindíssimo caracol ter sido o vencedor do Molusco do Ano 2022”, comentou Angus Davison, em comunicado.

“Nem sempre os caracóis têm a atenção que merecem, apesar de serem importantes ecologicamente e de, enquanto moluscos, serem um dos grupos de animais mais diversos na Terra”, acrescentou.

O prémio, a sequenciação do genoma da espécie, irá ajudar a orientar medidas de conservação e a compreender melhor a biologia deste caracol.

“Infelizmente, os caracóis-pintados-cubanos estão em risco por causa da perda de habitat e do comércio ilegal das suas conchas a colecionadores e a turistas. O prestígio do prémio vai chamar a atenção e dar mais força aos esforços de conservação”, disse ainda Angus Davison.

Bernardo Reyes-Tur foi mais longe e disse acreditar que a sequenciação do genoma desta espécie vai “beneficiar a conservação destes maravilhosos caracóis e de outras cerca de 1.400 espécies de caracóis terrestres de Cuba”.

“A sequenciação do genoma poderá ajudar a resolver algumas questões intrigantes. Por exemplo, quantas espécies de Polymita existem? E haverá mesmo cinco subespécies de Polymita picta? Ter esta taxonomia básica é crucial para a conservação. Por que é a concha tão variável nesta espécie? Quais são os genes responsáveis por estas cores? A sequenciação do genoma será uma oportunidade de ouro para responder a algumas destas questões, para promover a conservação e colaborar com equipas de investigadores de todo o mundo”, acrescentou Bernardo Reyes-Tur.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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