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Afinal, as primeiras flores da Terra podem ter nascido na água

19.08.2015

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos e da Europa concluiu que as primeiras plantas com flores podem ter surgido em lagos de água doce. Até agora, acreditava-se que a origem destas plantas estava em terra firme.

 

As conclusões da equipa, publicadas esta semana na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, sugerem que as primeiras angiospermas, ou seja, plantas com frutos e flores verdadeiros, terão surgido em ambientes aquáticos. Os cientistas estudaram uma planta aquática fóssil, a Montsechia vidalii, e sustentam que terá sido uma das primeiras plantas a florescerem na Terra, há 125 milhões a 130 milhões de anos atrás.

David Dilcher, paleobotânico da Universidade de Indiana, e um grupo de investigadores europeus, estudaram mais de 1000 exemplares de Montsechia vidalii, recuperados a partir de depósitos de calcário nas montanhas das Astúrias. Este material fóssil, descoberto em Espanha há mais de 100 anos, tinha sido até agora “fracamente compreendido e mesmo mal interpretado”, afirma o cientista americano.

Após uma análise detalhada da morfologia e da anatomia dos espécimes encontrados em Espanha, os investigadores concluíram que a planta fóssil é parente das Ceratophyllum – plantas aquáticas angiospermas dos dias de hoje, de cor verde escura e muito utilizadas para decoração de aquários e lagos artificiais.

O trabalho da equipa foi extremamente moroso. Os restos fossilizados de cada planta foram retirados com muito cuidado da pedra calcária, através da aplicação gota a gota de ácido clorídrico. Também as cutículas, a fina camada protectora que cobre as folhas, foram descoloradas numa mistura de ácido nítrico com cloreto de potássio.

 

Ilustrações baseadas nos vestígios fósseis de Montsechia vidalii mostram como eram as folhas e sementes da planta. Foto: Oscar Sanisidro
Ilustrações baseadas nos vestígios fósseis de Montsechia vidalii. Foto: Oscar Sanisidro

 

Foi através da comparação com outros vestígios fósseis encontrados no mesmo local, em especial de algas de água doce, que a equipa situou a idade da Montsechia vidalii num período que vai de 125 milhões a 130 milhões de anos. Pela mesma altura, no início do Cretácico, andavam pela Terra dinossauros como o braquiossauro.

Já antes, os investigadores tinham proposto uma planta aquática encontrada na China, a Archaefructus sinensis, como uma das primeiras plantas com flores na história da Terra.

“Uma ‘primeira flor’, tecnicamente, é um mito, assim como o ‘primeiro humano’”, considera Dilcher, que estuda o aparecimento e evolução das angiospermas há décadas. “Sabemos por esta nova análise que a Montsechia foi contemporânea, se não mais antiga, do que a Archaefructus.”

O próximo passo dos cientistas vai ser investigar mais a fundo a relação entre a Montsechia vidalii e a Ceratophyllum. Vão também procurar perceber melhor quando é que as primeiras angiospermas deram origem a outras espécies.

“Ainda há muito para descobrir sobre a forma como um número reduzido de antigas espécies de plantas portadoras de sementes deu eventualmente origem à enorme e bonita variedade de flores, que agora estão presentes em quase todos os ambientes da Terra”, sublinha Dilcher.

Neste trabalho de investigação, o paleobotânico americano trabalhou em conjunto com cientistas da Universidade de Lyon, em França, do Leibniz Institut for Evolution and Biodiversity Science, na Alemanha, e da Universidade de Barcelona, em Espanha.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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