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Puya raimondii, a rainha dos Andes, é uma espécie Em Perigo, segundo a Lista Vermelha da UICN. Foto: P. Bonnet/Cirad

Metade das plantas terrestres ainda nunca foram fotografadas em estado selvagem

18.08.2021

Segundo um artigo publicado na revista Nature Plants, cerca de metade das plantas na Terra ainda nunca foram fotografadas em estado selvagem. Os autores apelam a um esforço mundial para conhecer melhor e proteger a biodiversidade vegetal.

Os autores chegaram a esta conclusão ao estudar 25 sites de Internet que reúnem fotografias de plantas, como o Pl@ntNet, uma plataforma online que ajuda as pessoas a identificar as plantas através de fotografias criada em 2009, com o apoio da Agropolis Fondation.

Redes sociais como o Flickr, projectos de ciência cidadã como o PI@ntNet e o iNaturalist, passando por sites de universidades, como o projecto brasileiro Flora do Brasil e a galeria Live Plant Photos… Com tantos paparazzis da Botânica, seria de pensar que a flora terrestre já teria sido toda fotografada. E várias vezes.

Puya raimondii, a rainha dos Andes, é uma espécie Em Perigo, segundo a Lista Vermelha da UICN. Foto: P. Bonnet/Cirad

Mas tal não é o caso, segundo Pierre Bonnet, investigador do Cirad – organismo francês de investigação agronómica e de cooperação internacional – e co-autor do artigo publicado na Nature Plants a 29 de Julho. “Fotos de várias dezenas de milhares de espécies de plantas estão consultáveis na Internet. Isso já é admirável e ilustra os esforços feitos com esse objectivo”, disse, em comunicado. “No entanto, várias dezenas de milhares de outras ainda não estão representadas nem com uma única foto. Essas espécies, as menos conhecidas e muitas vezes as mais ameaçadas, só são identificáveis através das suas descrições textuais e espécimes em herbários, o que limita em muito os esforços para a sua conservação.”

Os resultados deste artigo sugerem que a maioria das plantas que ainda não foram fotografadas poderão estar nas zonas tropicais. O Brasil alberga, por exemplo, cerca de 35.000 espécies de plantas, mais do que qualquer outro país do continente americano, e cerca de 15.000 destas espécies ainda nunca foram fotografadas.

Os autores alertam também para outro problema: nenhum dos sites analisados ilustra a maioria das espécies existentes, nem mesmo o Google ou o GBIF (sistema mundial de informação sobre a biodiversidade), que reúnem contribuições dos principais actores mundiais da conservação da biodiversidade vegetal.

Para Nigel Pitman, investigador no Field Museum e o autor principal do estudo, esta é uma tarefa urgente. “Não se trata apenas de fazer um catálogo. Estamos em plena crise de extinção mundial. Como podemos proteger as plantas em perigo sem saber como se parecem? É preciso criar uma galeria mundial, acessível online, capaz de organizar facilmente as fotos das plantas e onde seja fácil encontrá-las.”

Esta investigação centrou-se nas plantas do Hemisfério ocidental: a América do Norte (que tem a flora mais bem fotografada), a América do Sul, a América Central e as Caraíbas (que têm a flora menos fotografada).

Este trabalho envolveu 31 autores de três continentes: América (Estados Unidos, Brasil, Equador, Argentina, Peru), Europa (França, Reino Unido, Suíça) e Austrália. “Constitui uma primeira fase para identificar as fraquezas neste domínio e faz recomendações para uma progressão rápida sobre este assunto”, segundo os autores.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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