Este ano foram recenseados 10 casais e um total de 21 crias pré-voadoras de cegonha-preta, espécie Vulnerável, no troço internacional do Rio Douro, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Todos os anos, na época de nidificação da cegonha-preta (Ciconia nigra), uma equipa de transfronteiriça com cerca de 20 elementos segue e vigia a população do canhão fluvial do Douro, de ambos os lados da fronteira.
Os peritos detectaram este ano 21 crias pré-voadoras na região.
O ICNF sublinha que a produtividade por casal foi de 2,6 crias voadoras, “o que constitui um valor acima da média, podendo estar associado à grande disponibilidade trófica nas charcas e cursos de água, por ter sido uma Primavera chuvosa”.
É uma espécie com estatuto Vulnerável no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005) – com uma população de cerca de 90 casais – por causa do “número bastante reduzido de indivíduos”. Ainda assim, explica o ICNF, “a espécie tem o estatuto de Vulnerável e não Criticamente em Perigo por se admitir a possibilidade de imigração de regiões vizinhas”.
Em Portugal, a cegonha-preta distribui-se sobretudo pelo interior do território continental, em zonas inóspitas das bacias dos rios Douro, Tejo e Guadiana, segundo o ICNF. É na bacia do rio Tejo que a espécie é mais abundante, nidificando maioritariamente em rochas de vales encaixados com matagal mediterrânico.
O canhão fluvial do Douro, escarpado e inacessível no seu troço fronteiriço, alberga desde há muito um dos mais importantes núcleos nidificantes da espécie na Península Ibérica. Nesta zona, a espécie muito tímida tem um comportamento rupícola, ou seja, seleciona exclusivamente rochedos verticais, em geral, próximos da margem para instalar os seus ninhos.
“Os ninhos localizam-se uniformemente nos dois lados da fronteira – em Portugal, no Parque Natural do Douro Internacional e em Espanha, no Parque Natural de Arribes del Duero”, explica o mesmo instituto.
Nestas duas áreas protegidas, que totalizam 200 mil hectares, a cegonha-preta e outras aves rupícolas são seguidas e vigiadas, ano após ano e durante a nidificação, por uma equipa transfronteiriça com cerca de 20 elementos que incluem Vigilantes da Natureza (ICNF), Agentes Medioambientales (Junta de Castilla y León) e biólogos de ambos os organismos.
Além de estudar a situação da espécie, como os seus parâmetros reprodutores e as ameaças, as equipas fizeram algumas acções de conservação, como a abertura de charcas e a implementação de medidas de minimização dos riscos de colisão e eletrocussão derivados da presença de linhas elétricas.
No âmbito deste seguimento transfronteiriço, as equipas fizeram visitas regulares aos ninhos. Assim, “foi confirmado que, num dos ninhos que estava a ser monitorizado (situado do lado português), dois juvenis tinham morrido no seu interior. Essa situação ocorreu na fase final do seu desenvolvimento, quando a grande maioria das crias dos outros ninhos já tinha saído dos mesmos”, segundo o ICNF.
Os cadáveres foram recolhidos, com a ajuda da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Freixo de Espada à Cinta, e enviados para o Laboratório de Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde será feita a sua necropsia e avaliação das causas de morte.
No entanto, o ICNF adianta que “não foram encontradas evidências das causas de mortalidade mais comuns, nomeadamente, predação, cordões de plástico, ou ação humana direta”.