Na semana em que o mundo celebra as zonas húmidas, a Wilder mostra-lhe que espécies ameaçadas em Portugal mais dependem destes habitats. Desta vez, Jael Palhas, investigador do Centro de Ecologia Funcional e doutorando de Ciências Agrárias e Ambientais na Universidade de Évora, fala de plantas aquáticas de água doce.
Em Portugal estarão registadas cerca de 100 espécies de plantas aquáticas de água doce.
Podem até passar despercebidas, mas todas têm o seu papel crucial no equilíbrio do mundo natural. Quer vivam debaixo de água, nas margens ou quer sejam flutuantes.
“As plantas submersas são particularmente importantes como oxigenadoras da água, suportando a vida animal. Servem também de abrigo e alimento para a fauna submersa e fornecem suporte para os tritões colocarem os seus ovos”, explica Jael Palhas à Wilder.
“As flutuantes têm um papel importante como abrigo e sombra para a fauna submersa e ajudam a manter a água mais fresca no Verão e, consequentemente, mais oxigenada.”
Por fim, “as emergentes e marginais são extraordinariamente importantes na retenção de nutrientes, na exportação de biomassa dos meios aquáticos para os terrestres, limpando a água e disponibilizando os nutrientes para os herbívoros terrestres, além de fixarem as margens e funcionarem também como filtro de sedimentos e poluição”.
Mas são muitas as espécies de plantas aquáticas de água doce em perigo, sublinha este investigador, que se tem dedicado a procurar, a mapear e a propagar espécies ameaçadas. “A situação é mesmo, mesmo dramática”.
Estas são apenas sete das muitas espécies ameaçadas que dependem das zonas húmidas, segundo Jael Palhas.
Estaque-do-Baixo-Mondego (Stachys palustris):
Esta espécie só existe no Baixo Mondego. Aqui só tem três núcleos, um com uma planta, outro com três plantas e outro com cerca de 30. A população que tem três indivíduos está a ser afectada por uma planta invasora parasita que lhe suga a seiva (a Cuscuta arvensis). Na população que tem 30 indivíduos, só seis é que não foram arrasados com escavadoras este ano. E esses iam sendo destruídos por um projecto de requalificação das margens, mas conseguimos que alterassem o projecto para as salvar. Em 2020, esta espécie foi alvo de acções de conservação pelo projecto Flora Reply da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra.
Serralha de água (Groenlandia densa):
A Groenlandia densa é uma planta que está dependente de massas de água carbonatada. Todas as populações estão isoladas e ameaçadas pela poluição e, sobretudo, pela limpeza das linhas de água.
Junco-florido (Butomus umbellatus):
Esta planta está ameaçada no Boquilobo (por sobrepastoreio fora da área de reserva integral e por falta de pastoreio na área de reserva integral), por herbicidas nos arrozais e por competição com espécies invasoras (Paspalum paspalodes, principalmente).
Espiga-de-água-de-folhas-variadas (Potamogeton gramineus):
O Potamogeton gramineus está restrito a poucos pontos na Beira Litoral, ameaçado pela eutrofização e pelas espécies invasoras como o lagostim (que o come) e as acácias (que eutrofizam os charcos).
Nenúfar-anão ou golfo-menor (Nymphoides peltata):
O nenúfar-anão desapareceu de todo o centro do país e já só existe no rio Minho, onde está agora a ser ameaçado por novas espécies exóticas como a Ludwigia peploides.
Fitas ou saca-rolhas (Vallisneria spiralis):
A Vallisneria spiralis esteve desaparecida durante 40 anos e foi redescoberta este Verão pelo Afonso Petronilho, após dois meses de buscas que envolveram o projecto Flora Reply, com a ajuda da Associação Charcos e Companhia e com acompanhamento e auxílio na confirmação da identificação por parte do Udo Schwarzer. Em 2020, esta espécie foi alvo de acções de conservação pelo projecto Flora Reply da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra.
Estrela-de-água (Damasonium bourgaei):
A Damasonium bourgae está Criticamente Em Perigo e já só existe num charquinho no Paul do Boquilobo e em meia dúzia de poças no Algarve. Está muito dependente destas zonas húmidas pequenas e temporárias, que são as menos valorizadas pela população e até, infelizmente, pela comunidade científica e as mais fáceis de destruir. E mais difíceis de mapear também.
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