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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Alterações climáticas: Cientistas alertam para a perda de oxigénio no oceano

19.01.2021

Um estudo liderado por cientistas portugueses concluiu que a redução de oxigénio nos oceanos é o factor “com mais impacto negativo” nos organismos marinhos, mais do que a acidificação e o aquecimento das águas.

Os autores do estudo, publicado na revista Nature Ecology and Evolution, analisaram os resultados de cerca de 700 experiências publicadas ao longo de 26 anos – entre 1990 e 2016 – que investigaram os efeitos do aquecimento, da acidificação e dos níveis reduzidos de oxigénio no oceano, um processo denominado de hipoxia.

A análise foi liderada por membros do Laboratório Marítimo da Guia (LMG), ligado ao MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, no pólo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

A equipa concluiu que é importante “incluir a perda de oxigénio como uma variável fulcral no estudo dos impactos das alterações climáticas no oceano global” e também no desenvolvimento de acções de mitigação e adaptação, sublinhando que esse factor tem sido “constantemente negligenciado”.

 “A hipoxia causou consistentemente mais impactos negativos do que o aumento da temperatura ou a redução do pH (acidificação) em vários aspectos da performance dos organismos”, sublinhou Rui Rosa, investigador do LMG, citado num comunicado da FCUL.

Esses efeitos fazem-se sentir por exemplo na “abundância, desenvolvimento, metabolismo, crescimento e reprodução” de vários grupos de animais, desde os peixes aos crustáceos e aos moluscos, ao longo de vários estágios da vida. O problema verificou-se também em diferentes regiões climáticas, acrescentou Rui Rosa, que é professor na FCUL e orientador do primeiro autor deste artigo, Eduardo Sampaio.

Foto: Laszlo Ilyes

“Os oceanos são particularmente afetados pelas alterações climáticas.” Com efeito, tanto a hipoxia como a acidificação e também o aumento de temperatura das águas oceânicas – que a equipa apelida de “trio mortal” – estão “de alguma forma ligados ao aumento significativo de gases da emissão de gases de estufa, principalmente do dióxido de carbono”, acrescentou Rui Rosa, contactado pela Wilder.

Ao absorverem o excesso de calor que fica aprisionado na atmosfera e também uma grande parte do dióxido de carbono emitido, as águas oceânicas aquecem e sofrem acidificação, ou seja, uma redução do seu Ph.

O que causa a hipoxia?

Quanto ao fenómeno da hipoxia, tem causas diferentes de acordo com os locais onde ocorre: em zonas costeiras ou em mar aberto. No primeiro caso, segundo o investigador, “estes processos estão interligados com excesso de nutrientes na água e respectivos fenómenos de eutrofização”.

Já nalgumas zonas oceânicas, em mar aberto, pensa-se que “a expansão das ‘zonas mortas’ – com camadas mínimas de oxigénio – está relacionada com o aquecimento  global, dado que o aumento da temperatura leva a uma menor solubilidade de oxigénio”, esclarece o mesmo responsável.

Nessas zonas oceânicas “mortas” são conhecidos outros dois fenómenos que contribuem para a hipoxia. Por um lado, verifica-se uma maior estratificação da coluna de água, ou seja, a formação de diferentes camadas horizontais com densidades diferentes, “algo que não permite ‘mistura’ de O2 ao longo de um gradiente de profundidade.”

Por outro lado, neste caso de forma indirecta, “o aquecimento global afecta processos biológicos que implicam consumos de oxigénio acrescidos, como por exemplo a respiração e a decomposição”, acrescenta Rui Rosa.

A melhor forma de lidar com este “trio mortal”? “As soluções passam pela redução destas emissões [de gases de estufa] e pela diminuição dos níveis de poluição em zonas costeiras”, esta última “de modo a evitar problemas como o da eutrofização.”


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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