Projecto de conservação da águia-imperial em Portugal, co-financiado por fundos europeus, termina no final deste ano.
Ao longo dos sete anos que passaram desde a primeira apresentação pública do projecto LIFE Imperial, o número de casais de águia-imperial aumentou para mais do que o dobro, anunciou esta quarta-feira a equipa responsável pelo projecto, coordenado pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
Em Junho de 2013, quando o LIFE Imperial foi pela primeira vez apresentado, havia 11 casais reprodutores desta espécie. Sete anos mais tarde, em 2020, foram contados 24 casais. Destes, três situam-se na região da Beira Baixa, na área do Tejo Internacional, e os restantes 21 habitam o Alto e o Baixo Alentejo, indicou à Wilder o coordenador do projecto, Paulo Marques.
Durante o projecto, que começou no terreno em 2014, foram investidos quase 2,5 milhões de euros. Esse valor “resulta de uma candidatura liderada pela LPN ao Programa LIFE da União Europeia, que financiou 75% do montante”, explicam os responsáveis em comunicado.
A águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) é considerada Em Perigo Crítico de extinção em Portugal, onde só voltou a nidificar em 2003, depois de ter deixado de se reproduzir no país durante os anos 80. Esta águia muito grande caracteriza-se pelas asas longas e uniformemente largas e cauda relativamente curta.
“O projeto teve um impacto muito significativo na conservação da águia-imperial-ibérica e da natureza como um todo”, sublinha a equipa, que lembra que “as acções permitiram não só aumentar a população da espécie e o conhecimento sobre a sua ecologia, sobretudo no Alentejo e na Beira Baixa, mas também aplicar medidas de gestão do território que aumentaram a sua sustentabilidade e promoveram um maior equilíbrio”.
Entre as diferentes acções aplicadas nas áreas alvo do LIFE Imperial, onde ocorre a espécie, conta-se a instalação de ninhos artificiais para facilitar a procriação destas águias, uma vez que muitos casais que nidificam em Portugal são ainda jovens e inexperientes na construção dos ninhos.
Outra das principais medidas traduziu-se na criação de estímulos para o crescimento das populações de coelho-bravo, que em Portugal atravessa tempos difíceis, mas representa 60% da alimentação das águias-imperiais e é muito importante para as novas crias. Por exemplo, construíram-se maroços, que são abrigos artificiais para os coelhos.
Criadas sete equipas cinotécnicas para detectar venenos
Por outro lado, a equipa dedicou-se também a combater as ameaças à conservação das águias-imperiais, como as mortes por envenenamento e a electrocussão.
Foi dessa forma que foram criadas as primeiras sete equipas cinotécnicas para detecção de venenos no âmbito da GNR, o que “desencadeou a transferência de informação técnica para análise e interpretação de situações de ilícito por autoridades nacionais como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e o Ministério Público.”
Desenvolveram-se também novas técnicas para a minimização da electrocussão, em cooperação com a EDP Distribuição, tal como um novo tipo de emissor GPS para aplicação em aves de rapina.
A equipa fez também contas a outros ganhos do projecto, que se reflectiu “a nível social e económico dos 14 concelhos abrangidos pelo projeto, mais fragilizados do que a generalidade do país.”
Plano de acção aguarda luz verde do ICNF
“Chegados ao término do projeto, coincidente com o final do ano, e apesar dos sólidos alicerces que foram criados, o trabalho não pode ser dado por concluído”, avisam os responsáveis do LIFE Imperial. Em causa está a necessidade de “um plano de acção específico para a próxima década, que foi já elaborado e que aguarda a sua aprovação final pelo ICNF.”
A equipa do projecto sublinha ainda que “a conservação da Natureza leva o seu tempo e requer um investimento condigno face aos desafios que enfrenta”. Mas apesar do tempo que pode demorar até que sejam alcançados resultados, entretanto esse esforço reflecte-se “na tão necessária proteção de espécies ameaçadas de extinção e na consequente valorização socioeconómica dos territórios menos favorecidos onde habitam.”
Além da LPN como entidade coordenadora, o Life Imperial conta com vários parceiros: a GNR, o ICNF, EDP Distribuição, a Câmara Municipal de Castro Verde, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a SEO/BirdLife – Sociedad Española de Ornitología e a empresa TRAGSATEC – Tecnología y Servicios Agrarios.
Saiba mais.
Assista a um vídeo do LIFE Imperial sobre a situação da águia-imperial em Portugal e sobre as diferentes medidas deste projecto.
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