Numa das minhas pesquisas recentes sobre uma espécie muito comum e que se encontra atualmente em flor nas nossas florestas e jardins, fui surpreendida com uma nova classificação científica.
O Alecrim, classificado anteriormente como Rosmarinus officinalis, é afinal um parente próximo das Sálvias e o seu nome científico atual é Salvia rosmarinus.
Esta nova classificação ocorreu devido aos resultados obtidos por um grupo de investigadores que, ao analisarem e ao compararem as sequências genéticas de ADN do género Rosmarinus com as do género Salvia, verificaram muitas semelhanças entre os dois géneros que não justificavam a separação.
Na classificação atual das espécies, o nome científico de uma determinada planta é composto por duas partes: o seu género e o restritivo específico. O género agrupa de uma forma clara os indivíduos que apresentam um conjunto de características morfológicas, funcionais e genéticas bem definidas e semelhantes. O restritivo específico é que permite classificar a espécie dentro do género. Este último deve acompanhar sempre o nome do género, pois isolado não tem qualquer significado.
O alecrim
O alecrim já pertencia à mesma família das Sálvias, Lamiaceae, no entanto, a diferença que existia entre os estames das flores das duas plantas, fazia com que estivesse num género diferente. A evolução dos conhecimentos científicos permitiu comprovar que essa diferença não era o suficiente para as considerar plantas distintas, levando a classificá-lo como uma espécie do género Salvia.
É uma planta arbustiva perene, muito ramificada e lenhosa, que pode atingir até 2 metros de altura. De folhagem persistente, as folhas são pequenas, finas, coriáceas e são verde-escuro e brilhante na página superior e verde-acinzentada na página inferior. As flores agrupam-se em espigas terminais e apresentam cor azulada, por vezes rosada ou branca. A floração ocorre ao longo de todo o ano, sendo mais intensa entre dezembro e maio.
Toda a planta é aromática, exala um aroma balsâmico canforado, fresco, herbáceo e doce. E é devido a esta característica aromática e à cor das suas flores, que esta planta que crescia junto das praias do litoral, que os romanos a denominavam como rosmarinus, que em latim significa “orvalho do mar”. A cor azulada das suas flores e o agradável aroma fresco que a planta libertava estavam associadas ao orvalho que se formava junto do litoral.
Alecrim do monte
O alecrim é uma planta nativa da região mediterrânica e pode encontrar-se por todo o país, preferencialmente em zonas de matos, pinhais, azinhais e terrenos incultos. Cresce bem em solos secos e pobres, bem drenados e permeáveis, preferencialmente em terrenos calcários. Prefere locais com uma exposição solar plena, é tolerante ao frio do inverno, ao vento e às geadas. É bastante resistente a períodos prolongados de seca no verão.
Quem não se recorda da música tradicional portuguesa: “Alecrim, alecrim doirado que nasce no monte sem ser semeado…”, homenagem ao alecrim, pela sua resistência e capacidade de adaptação.
Curiosidades e utilizações
Com elevado interesse ornamental, o alecrim é muito comum em jardins mediterrânicos. É um tipo de arbusto de fácil cultivo, com grande tolerância à seca e muito resistente a pragas e doenças, não necessitando de cuidados frequentes.
É uma planta aromática com múltiplas aplicações que passam pela culinária, medicina, aromaterapia, fitoterapia, cosmética, etc. As suas flores são ricas em pólen e néctar, o que a torna uma planta melífera muito procurada e apreciada pelas abelhas, que produzem um mel de elevada qualidade.
Os nomes comuns das plantas levam muitas vezes a algumas confusões. Os ingleses conhecem o alecrim como Rosemary. Em Portugal também é vulgarmente conhecido como rosmaninho e é muitas vezes confundido com outras espécies, nomeadamente o rosmaninho (Lavandula stoechas), que é um termo usado em algumas regiões do país para denominar a alfazema. No entanto, estas duas espécies são morfologicamente bem diferentes, em particular na forma e na coloração e inserção das flores.
A diversidade biológica impõe a necessidade de alguma organização para que se possam conhecer as diferentes espécies de plantas, animais, fungos, etc. Dentro de cada um destes grupos a organização torna-se ainda mais particular e específica. É necessário encontrar semelhanças genéticas, morfológicas, funcionais, entre outras, que permitam agrupar os indivíduos com características pelas quais se assemelham entre si, em pequenos grupos até à espécie, o que irá permitir distingui-los das restantes espécies. A espécie agrupa indivíduos muito semelhantes, capazes de se cruzarem entre si, de se reproduzirem e de gerarem descendência fértil.
Lembrem-se, da próxima vez que se cruzarem com um alecrim, que o nome comum da planta permaneceu inalterado, mas que estão perante uma Salvia rosmarinus em vez de um Rosmarinus officinalis.