O projecto da nova Estratégia para a Conservação e Gestão do Lobo em Espanha, apresentado esta quarta-feira, estabelece um aumento para 350 alcateias, a alcançar em 2030.
O objectivo do novo documento é “homogeneizar o estatuto de protecção da espécie [lobo-ibérico] a nível nacional, incluindo todas as populações espanholas na Lista de Espécies Silvestres em Regime de Protecção Especial”, informa em comunicado o governo.
Em Espanha, o estatuto de protecção deste predador de topo é diferente do que existe em Portugal, pois aplicam-se regras distintas consoante as alcateias habitam territórios a sul ou a norte do rio Douro. No primeiro caso, o lobo está classificado como espécie de interesse comunitário, com a criação de zonas especiais de conservação e a existência de normas de protecção mais apertada.
Já a norte do Douro é considerado uma espécie cuja exploração pode ser objecto de medidas de gestão – o que abre espaço a acções de caça, justificadas com a necessidade de controlar o aumento das populações.
O governo espanhol pretende agora que o lobo passe a estar protegido em todo o território nacional, com base nas recomendações de um comité científico que considerou a “sua importância como património cultural, científico, assim como os serviços ambientais que produz a presença desta espécie nos ecossistemas naturais”.
Esta pretensão pode ainda ser travada, no entanto, pelas regiões das Astúrias, Cantábria, Galiza e Castela e Leão, que pediram a reescrita do documento – que está em curso – e afirmam que haverá graves prejuízos se avançar a proibição de caçar a espécie a norte do rio Douro.
Objectivo: “Populações viáveis de lobos”
O objectivo do projecto apresentado quarta-feira é “alcançar a conservação, gestão e restauração de populações viáveis de lobos como parte integrante dos ecossistemas espanhóis, assegurando a coexistência com o homem.”
São previstas também “directrizes comuns de gestão para quando se observe um aumento importante no número de espécimes numa determinada zona que possa gerar tensões”, que serão sempre geridas “no contexto do equilíbrio ecológico”. E contempla-se a criação de linhas de ajuda financeira, “nos casos devidamente justificados.”
As metas em cima da mesa apontam para um total de 350 alcateias em território espanhol em 2030 – actualmente serão cerca de 300 – para que seja garantida a conservação da espécie a longo prazo. Está previsto também o aumento da área de distribuição entre 10 e 20%, na próxima década, e a redução da perseguição ilegal a esta espécie.
O actual documento pretende actualizar a estratégia em vigor, que data de 2005. Foi elaborado pelo Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico, em conjunto com os representantes das Comunidades Autónomas no âmbito do Comité de Flora e Fauna Silvestres.
Nos próximos meses deverá continuar a ser trabalhado, “com contribuições de todos os agentes implicados na gestão do lobo em Espanha.”
Outro dos objectivos da nova estratégia, aliás, é a criação de uma estrutura de diálogo sobre o lobo que envolva “naturalistas, organizações não governamentais, criadores profissionais de gado, pessoal técnico, municípios, sector da ciência, caçadores, profissionais de turismo” e outros.
Novo censo já no próximo ano
Está prevista também a realização de um novo censo do lobo-ibérico em Espanha nos anos de 2021 e 2022, com a recomendação de que se repita “a cada cinco ou seis anos, com a actualização anual da sua área de distribuição”.
Até 2012 não se tinham realizado contagens coordenadas a nível nacional. Já o censo que se fez entre esse ano e 2014 é apontado como “o mais actualizado e coordenado” em Espanha, apontando para 297 alcateias contadas.
“Constatou-se a expansão recente da espécie”, nomeadamente em direcção a sul, incluindo a Comunidade de Madrid, e a sua “expansão demográfica no Nordeste, assim como nas zonas de planície da submeseta norte”, recorda também o governo espanhol. Já na Serra Morena, uma cordilheira no sul de Espanha, o lobo foi considerado extinto.
Saiba mais.
Em Portugal, está em curso um censo do lobo-ibérico desde 2019, que deverá produzir resultados no final do próximo ano.