Em Portugal são sete as espécies de aves de rapina nocturnas. Mas qual a diferença entre mocho e coruja? E o bufo-real e o bufo-pequeno, onde ficam? Torne-se um perito com as dicas da investigadora Inês Roque.
A riqueza de rapinas nocturnas no nosso país assenta em sete espécies: três corujas (coruja-do-nabal, coruja-do-mato e coruja-das-torres); dois mochos (mocho-galego e mocho-d’orelhas); e dois bufos (bufo-real e bufo-pequeno).
Todas são indicadoras de ecossistemas equilibrados e de grande valor biológico. Fazem controlo natural de pragas de micromamíferos e insectos e, como são predadores de topo, ajudam à sustentabilidade das populações das suas presas.
Mas qual a diferença entre mocho e coruja? E os bufos?
“Em termos gerais, poderíamos dizer que os mochos são as aves de rapina noturnas de pequeno porte, as corujas são as de médio porte e o bufo é a maior das aves de rapina noturnas”, explica Inês Roque, investigadora do Laboratório de Ornitologia – Universidade de Évora.
Mas a resposta nem de longe é assim tão simples e o tamanho não é o critério que as distingue.
“O critério do tamanho é inviabilizado pelo bufo-pequeno, que é sensivelmente do tamanho da coruja-das-torres.”
Algumas rapinas noturnas têm penachos auriculares, que são penas longas localizadas junto ao ouvido e que parecem orelhas. Tal é o caso do bufo-pequeno e do bufo-real.
Mas, mais uma vez, este critério não serve para distinguir os bufos das outras rapinas nocturnas. “Este critério é inviabilizado pelo mocho-d’orelhas, uma espécie migradora que está em Portugal a partir de maio, que é sensivelmente do tamanho do mocho-galego e que também tem “orelhas”. E não é um bufo”, acrescenta Inês Roque.
Há ainda o critério da cor dos olhos.
“Em geral, as corujas têm olhos pretos, os mochos têm olhos amarelos e os bufos têm olhos cor-de-laranja.”
“Só que depois temos a coruja-do-nabal, outra espécie migradora que está em Portugal a partir de outubro, que tem olhos amarelos (e não é um mocho).”
Conclusão: “os nomes comuns são apenas isso, não podem ser associados a uma característica específica e não têm valor taxonómico”, diz Inês Roque. Podem variar de acordo com a cultura local. Por exemplo, o bufo-real também pode ser chamado de mocho em algumas regiões de Portugal.
Saiba mais.
Conheça estes números sobre as populações das sete espécies:
Coruja-das-torres (Tyto alba):
Residente
Estimativa populacional: 5.700-8.100 casais
Tendência negativa
Estatuto: Pouco Preocupante
Mocho-d’orelhas (Otus scops):
Estival
Estimativa populacional: 3.500-7.700 casais
Tendência negativa
Estatuto: Informação Insuficiente
Bufo-real (Bubo bubo):
Residente
Estimativa populacional: 380-580 casais
Tendência incerta
Estatuto: Quase Ameaçado
Mocho-galego (Athene noctua):
Residente
Estimativa populacional: 58.000-137.000 casais
Tendência negativa
Estatuto: Pouco Preocupante
Coruja-do-mato (Strix aluco):
Residente
Estimativa populacional: 8.000-15.000 casais
Tendência incerta
Estatuto: Pouco Preocupante
Bufo-pequeno (Asio otus):
Residente
Estimativa populacional: 200-1.000 casais
Tendência incerta
Estatuto: Informação Insuficiente
Coruja-do-nabal (Asio flammeus):
Invernante
Estimativa populacional: 100-160 indivíduos
Tendência não disponível
Estatuto: Em perigo
Estimativas populacionais: Lourenço et al.2015. Current status and distribution of nocturnal birds (Strigiformes and Caprimulgiformes) in Portugal. Airo 23: 36-50.
Tendências populacionais: GTAN-SPEA, 2017. Relatório do Programa NOCTUA Portugal (2009/10 – 2016/17). Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa (relatório não publicado).