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Fóssil encontrado na Escócia pode ser o “bicho” mais antigo da Terra

29.05.2020

Cientistas concluíram que um fóssil de milípede encontrado na ilha escocesa de Kerrera tem 425 milhões de anos, o que o torna no registo mais antigo de um artrópode terrestre.

 

“[Este achado] é mais antigo do que qualquer fóssil conhecido de um insecto, aracnídeo ou qualquer outro bicho rastejante (‘creepy crawly’, em inglês)”, explicou a equipa de investigadores numa nota divulgada pela Universidade de Austin, no Texas, EUA.

 

Foto: British Geological Survey

 

Os milípedes pertencem ao grupo dos artrópodes e à classe Diplopoda. Tal como todos os animais desta classe, têm dois pares de pernas em quase todos os segmentos do corpo. No caso dos milípedes, podem chegar a ter um total de 200 pares de pernas.

A nova descoberta aponta para uma evolução muito mais rápida das plantas e dos artrópodes terrestres, desde as comunidades junto aos lagos até florestas altamente complexas, do que os cientistas pensavam até agora.

“Foi um grande salto para estes tipos minúsculos até chegarem às comunidades florestais muito complexas. No geral, não levou assim muito tempo”, comentou Michael Brookfield, autor principal do artigo publicado em Maio na revista Historical Biology.

Os cientistas concluíram que este fóssil antigo de um milípede Kampecaris obanensis, com os seus 425 milhões de anos, é cerca de 75 milhões de anos mais recente do que a época em que outro grupo de investigadores indicou que viveram os primeiros milípedes. Esse outro cálculo tinha sido realizado com base numa técnica de datação conhecida por relógio molecular, na qual se analisa a frequência de mutações no ADN de um organismo.

Numa outra pesquisa, os investigadores da Universidade de Austin descobriram também que a mesma diferença acontecia com o mais antigo fóssil de uma planta terrestre com caule – com a mesma idade do fóssil de milípede e também encontrado na Escócia.

 

Ilha de Kerrera, na Escócia, onde o fóssil foi encontrado. Foto: Michael Brookfield

 

Ainda que seja possível que haja provas da existência de plantas e de artrópodes terrestres mais antigos, Brookfield acredita que a ser assim provavelmente já teriam sido encontrados.

 

Dos milípedes para florestas com aranhas e insectos

A equipa acredita que tanto os artrópodes terrestres como as plantas evoluíram muito mais rapidamente do que indicavam os resultados da datação por relógio molecular. E a ser assim, de acordo com outros fósseis já encontrados, 20 milhões de anos depois deste primeiro milípede já existiam depósitos abundantes de insectos na Terra. E cerca de 40 milhões de anos mais tarde, nas florestas já viviam comunidades complexas de aranhas, insectos e grandes árvores.

Elizabeth Catlos, também autora do artigo, diz que estão ainda a tentar descobrir quem terá razão. “Estamos todos a colocar hipóteses testáveis e é nesse ponto da pesquisa que estamos agora.”

Para este estudo, os cientistas recorreram a uma técnica complexa que envolve a difícil extracção de zircão dos sedimentos rochosos onde o fóssil foi encontrado. O zircão é um mineral microscópico necessário para datar os fósseis com exactidão.

 

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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