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Foto: Helena Geraldes

Investigadores alertam que diminuição da chuva vai pôr ecossistemas em causa

31.10.2019

Dentro de 20 a 40 anos, vai chover menos 30% no interior e no Sul do país e 10% no litoral, reduzindo as águas nos rios e aquíferos, alerta um novo estudo da Universidade de Aveiro divulgado esta semana.

A equipa de investigadores analisou a diminuição da precipitação média anual para o período entre 2046 e 2065. As conclusões, publicadas num artigo na revista científica Science of the Total Environment, apontam para um “cenário de escassez de água no ecossistema e, naturalmente, para consumo humano”, alerta um comunicado da Universidade de Aveiro (UA).

O estudo analisou o período entre 2046 e 2065 que “corresponde a um período de clima futuro de médio prazo definido pelo IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), para avaliar a que condições climáticas a maioria da população portuguesa estaria sujeita num futuro a médio prazo”, explicou à Wilder Paula Quinteiro, coordenadora do estudo e investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), uma das unidades de investigação da UA. 

Uma série de simulações climáticas – realizadas no âmbito do projeto CLICURB – Urban atmospheric quality, climate change and resilience coordenado pelo Departamento de Ambiente e Ordenamento da UA – permitiu chegar a conclusões.

Entre os anos 2046 e 2065, Portugal continental vai sofrer uma diminuição da de 10% na zona norte e em todo o litoral e de cerca de 30% nas zonas interiores e no sul.

Esta redução da precipitação está relacionada com as alterações climáticas. “O aumento da temperatura global do planeta potencia alterações no ciclo global da água, aumentando o contraste entre regiões secas e húmidas”, explica Paula Quinteiro.

O planeta terá, então, uma dualidade de cenários: áreas com um aumento de precipitação e com o consequente agravamento do risco de inundação e áreas com uma redução da precipitação e com o consequente aumento do risco de secas. No caso português, as projeções realizadas apontam para uma redução dos níveis de precipitação durante todo o ano, com exceção dos meses de Inverno.

“A diminuição da precipitação leva a uma diminuição de água verde (água da chuva) disponível no solo, indispensável para o crescimento e manutenção da vegetação”, lembrou a investigadora à Wilder.

Além disso, haverá uma “diminuição de água disponível para recarga de aquíferos e diminuição da água de escorrência superficial que alimenta os cursos superficiais de água”. 

Os resultados da investigação antecipam um “cenário preocupante se não forem tomadas medidas que resultem na otimização da água disponível”.

Por isso, os investigadores apelam à implementação de medidas urgentes para melhor captar e gerir a água da chuva. 

Implementação de medidas urgentes

Os investigadores avaliaram a disponibilidade e escassez de água da chuva em todo o país, considerando diferentes coberturas de solo – agrícola, florestal, urbano e solo predominantemente com vegetação natural.  

Hoje “já se identifica alguma pressão nos recursos de água verde”, alerta a investigadora.

“Em termos médios, verifica-se já alguma pressão na disponibilidade de água verde para todos os usos de solo (agricultura, vegetação natural, floresta), dependendo da região em causa, das suas condições climáticas, da tipologia de solo e espécie vegetal em causa. Num clima futuro de médio prazo é esperado um aumento desta pressão, em particular na região do Alentejo.”

Esta pressão “irá aumentar significativamente no futuro”. Por isso, a equipa de investigadores defende medidas de gestão/captação e eficiência de consumo da água da chuva.

Os investigadores propõem “sistemas de recolha de água da chuva” para beneficiar irrigações agrícolas e florestais.

Outra medida será a realização de um “planeamento integrado de uso de solo e disponibilidade de água da chuva, dos rios e dos aquíferos”.

Em situações mais prementes, Paula Quinteiro diz que “pode ser necessária uma realocação do cultivo para zonas com uma maior disponibilidade de água da chuva”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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