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Urze. Foto: C. Löser/Wiki Media

Ao proteger esta planta, estamos a salvar os abelhões

11.10.2019

As pequeninas flores da urze, planta nativa em Portugal, abrigam uma substância que defende estas abelhas silvestres contra um preocupante parasita, descobriram agora cientistas no Reino Unido.

A nova descoberta foi publicada pela revista Current Biology, num artigo assinado por investigadores dos Royal Botanic Gardens – Kew e do Royal Holloway, ligados à Universidade de Londres, noticiou a BBC.

Em causa está o parasita Crithidia bombi, comum em abelhões silvestres, que pode passar de um insecto para outro quando estão nas flores ou nos ninhos.

A equipa testou o néctar de 17 plantas comuns no Reino Unido, incluindo dentes-de-leão, trevos, hera e urzes, para avaliar os efeitos na defesa contra doenças, consideradas uma das principais caudas para o declínio das abelhas.

As conclusões indicam que o néctar das flores de urze (Calluna vulgaris) – planta que em Portugal é também chamada de torga – tem os melhores resultados. Em causa está uma substância química agora identificada pelos cientistas, baptizada em inglês como ‘callunene’, inspirada no nome científico da urze.

Abelhão pousado em flores de urze. Foto: Bea.miau/Wiki Commons

“Tal como nós, os polarizadores podem apanhar doenças que os deixam mal. As abelhas também enfrentam pressões adicionais devido à destruição de habitats, pesticidas e alterações climáticas”, disse Hauke Koch, biólogo dos Kew Gardens, citado em comunicado.

“Enquanto que os apicultores podem ajudar colónias doentes de abelhas-do-mel, por exemplo tratando-as directamente dos parasitas, não conseguimos ajudar as abelhas silvestres da mesma forma. A nossa descoberta mostra, todavia, que uma voa maneira de ajudar os polinizadores na natureza pode ser proteger plantas medicinais essenciais para eles”, salientou.

Os investigadores reproduziram o parasita em laboratório, numa solução líquida, e aplicaram-lhe néctares de diferentes espécies. O néctar da urze mostrou ser o mais poderoso. Depois de aplicarem este néctar em abelhões Bombus terrestrisque também ocorrem em Portugal – perceberam que ajuda a impedir que estes insectos sejam infectados.

Os morangueiros e as tílias também mostraram bons resultados.

“Manter populações saudáveis de abelhas e de outros polarizadores é central para a sustentabilidade dos ecossistemas e para a produção de comida para os humanos”, disse Mark Brown, do Departamento de Ciências Biológicas do Royal Holloway. “Percebermos quais são as plantas necessárias para mantermos um equilíbrio saudável entre as abelhas e os seus parasitas pode ajudar-nos a restaurar habitats que favoreçam a saúde destes insectos.”

Cientistas avisam sobre declínio dos urzais

Na Europa, onde a planta da urze está espalhada por vários países, incluindo Portugal, esta espécie é considerada um dos maiores produtores de néctar, essencial para abelhas e abelhões.

No entanto, alertam os cientistas, uma boa parte do habitat natural desta espécie tem vindo a desaparecer e a fragmentar-se a grande velocidade. Em causa está principalmente a transformação dessas terras em terrenos agrícolas – como aconteceu no Reino Unido, onde nos últimos 150 anos desapareceram cerca 85% dos urzais das terras baixas, segundo o Wildlife Trust.

Urzal em Burntridge Moor, no Reino Unido. Foto: Mike Quinn/Wiki Commons

A urze é nativa em Portugal Continental e nos Açores e está hoje naturalizada na Madeira, onde foi introduzida por humanos. Floresce entre Fevereiro e Novembro.

O portal Flora-On indica que esta planta pode encontrar-se “em urzais, tojais, sargaçais e outros matos baixos, em campo aberto ou sob coberto de sobreirais, pinhais e outros povoamentos florestais, desde dunas litorais a alta montanha.”


Saiba mais.

Em Portugal, há registo de 680 espécies diferentes de abelhas, entre as quais várias espécies de abelhões. Recorde algumas medidas que pode tomar para ajudar estes e outros insectos polinizadores.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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