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Alterações climáticas: É preciso alterar forma de produzir alimentos, diz IPCC

08.08.2019

Novo relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) defende gestão mais sustentável do solo e dieta alimentar com mais vegetais.

A crise climática está a reduzir a capacidade do solo para a produção de alimentos e para absorver dióxido de carbono, um dos gases com efeito de estufa (GEE). A mudança para uma gestão mais sustentável da agricultura e do consumo de alimentos pode ser parte da solução para travar as alterações climáticas.

Estas são duas ideias centrais do novo relatório sobre o uso do solo e as alterações climáticas, cujo Sumário para os Decisores Políticos foi apresentado esta manhã em Genebra, na sede da Organização Mundial de Meteorologia. 

O documento, preparado ao longo de dois anos por 107 cientistas de 52 países para o IPCC , organismo das Nações Unidas, analisou até que ponto a forma como usamos os solos contribui para as alterações climáticas e também como estas afectam os solos.

Os investigadores constatam que “as alterações climáticas exacerbam a degradação dos solos” e que o aumento da frequência e intensidade de episódios climatéricos extremos – como as ondas de calor, secas, tempestades mais intensas e nuvens de poeiras – têm tido um “impacto adverso na segurança alimentar e nos ecossistemas terrestres (…) em muitas regiões” do planeta.

Esta é uma das razões para intervir, mas não é a única.

O mesmo documento sublinha que o uso do solo – agrícola, florestal e outros – foi responsável, em média, por pelo menos 23% das emissões de gases com efeito de estufa entre 2007 e 2016.

As alterações climáticas estão a causar uma crescente pressão nos solos, agravando as actuais ameaças à qualidade de vida, à segurança alimentar e também à biodiversidade.

O que podemos fazer

Os cientistas pedem grandes alterações na forma como produzimos os alimentos e nas nossas dietas alimentares, ainda que não defenda, explicitamente, uma alimentação vegetariana.

Uma alimentação mais baseada em vegetais e em carne produzida de forma sustentável poderá libertar milhões de quilómetros quadrados de solos até 2050 e, potencialmente, reduzir anualmente entre 0,7 e oito gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente, diz o relatório.

“Dietas equilibradas, com alimentos vegetais – legumes, frutas, vegetais, leguminosas ou sementes – dão grandes oportunidades para a adaptação e mitigação às alterações climáticas, ao mesmo tempo que geram benefícios significativos para a saúde humana.”

O IPCC esteve reunido esta semana em Genebra para finalizar o relatório. O documento pode ajudar os Governos a implementar soluções em vários sectores com impactes no solo e que ajudem a travar as alterações climáticas.

As soluções passam pela produção sustentável de alimentos, pela gestão sustentável da floresta, conservação dos ecossistemas e restauro dos solos, redução da desflorestação e redução do desperdício alimentar.

Entre as respostas com efeitos imediatos está a conservação de ecossistemas como turfeiras, zonas húmidas, mangais e florestas, grandes sumidouros de carbono. 

Este relatório é um dos contributos da Ciência para os trabalhos a desenvolver pelos Governos durante a Conferência das Partes (COP 25) da Convenção Quadro da ONU para as Alterações Climáticas marcada para Santiago do Chile, de 2 a 13 de Dezembro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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