Estudo internacional em que participaram investigadores portugueses concluiu que há cada vez menos refúgios para os grandes tubarões que vivem em mar aberto.
São conhecidos por tubarões pelágicos. Muitas destas espécies passam a vida a migrar através de grandes distâncias, percorrendo vários oceanos do mundo, longe das áreas marinhas de jurisdição nacional e da aplicação de medidas de protecção. Mas a maioria dos locais onde se concentram são também dos destinos mais procurados pelas grandes frotas de pesca, indica a equipa, num artigo publicado pela revista Nature.
Os dados obtidos resultam do esforço conjunto de cientistas de mais de 100 instituições, que analisaram os movimentos de 1.681 grandes tubarões pelágicos de 23 espécies diferentes, marcados com aparelhos de transmissão por satélite, enquanto percorriam os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.
Os investigadores compararam esses resultados com os movimentos de embarcações de pesca equipadas com transmissores do Sistema de Identificação Automática, que se destina a assegurar a segurança das frotas e também funciona via satélite.
“Observámos que, em média, 24% do espaço utilizado ao mês pelos tubarões coincide com as zonas de pesca comercial, as quais são responsáveis pela captura da maioria dos tubarões pelágicos”, explicou Nuno Queiroz, autor principal do artigo e investigador do CIBIO-InBIO, num comunicado deste centro de pesquisa ligado à Universidade do Porto.
Mas os resultados são ainda mais preocupantes no que respeita a algumas espécies ameaçadas. “Os tubarões azul e mako chegam mesmo a atingir 76% e 62% de sobreposição espacial [com as embarcações de pesca]”, acrescenta André Afonso, investigador no MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, no pólo do Instituto Politécnico de Leiria, e também membro da equipa. Enquanto que o mako (também conhecido por tubarão-anequim) é hoje considerado Em Perigo de extinção, o tubarão-azul está Em Perigo Crítico. Ambos são apontados como os mais importantes comercialmente.
No que respeita ao tubarão mako, aliás, organizações internacionais já têm alertado para a necessidade de se adoptarem medidas de conservação desta espécie, avisando que Espanha e Portugal estão entre os principais responsáveis pelo excesso de capturas.
“Dado o elevado esforço de pesca em ‘hotspots’ [locais de concentração] de muitas espécies durante porções significativas do ano, e o facto de haver muitos poucos ‘hotspots’ livres de exploração, o nosso estudo revela que o risco de exposição dos tubarões às pescas em mar aberto é espacialmente extenso – estendendo-se através de áreas inteiras de distribuição populacional numa escala oceânica, para algumas espécies”, alertam os cientistas, no artigo publicado.
Em causa está o palangre, uma arte de pesca usada pelas frotas de pesca comercial analisadas no estudo. No palangre, cada embarcação “estende uma linha com uma centena de quilómetros de comprimento, onde estão ligados mais de um milhar de anzóis com isco”, explicou David Sims, outro dos autores do artigo, ligado ao Marine Biological Association Laboratory. “As linhas são muito longas e há milhares destas embarcações em oceanos de todo o mundo.”
A equipa afirma que os dados agora conhecidos são um primeiro passo, mas significativo, para o estabelecimento de uma estratégia de conservação para os tubarões pelágicos em mar aberto.
“Para aumentar a recuperação de espécies vulneráveis, uma solução é a designação de áreas marinhas protegidas de grande escala em volta de ‘hotspots’ de uso ecologicamente importante para os tubarões pelágicos”, sublinham os autores do artigo, adiantando que fazem falta dados mais completos no que respeita às capturas.
No estudo detectaram-se alguns ‘hotspots’ onde a actividade piscatória parece ser hoje mais baixa, precisamente “onde a conservação dos tubarões poderia ser maximizada, minimizando ao mesmo tempo o impacto sobre a actividade de pesca não dirigida a tubarões”, defendem.
Recorde ainda cinco factos sobre as espécies de tubarões que podem ser vistas no Oceanário de Lisboa, neste artigo da Wilder.