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Macho de Willisornis vidua, ou rendadinho-do-Xingu, uma das aves analisadas no estudo. Foto: P. V. Cerqueira

Cientistas encontram explicação para a enorme variedade de aves na Amazónia

05.07.2019

Dezenas de espécies de aves da Amazónia foram estudadas por uma equipa internacional de cientistas, entre eles quatro portugueses, para descobrir por que tem a Amazónia tantas espécies.

Há mais de um século os cientistas procuram compreender de que maneira se originou a diversidade na Amazónia.

Num artigo publicado a 3 de Julho na revista Science Advances, uma equipa de investigadores de 10 instituições internacionais – entre elas o CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos/ InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto) – avançam uma explicação: as oscilações do clima, mais concretamente da humidade, ocorridas há milhares de anos atrás.

O estudo reuniu dados de dezenas de espécies de aves Amazónicas, com mais de 6.000 registos e dados genéticos recolhidos de aproximadamente 1.000 indivíduos.

Ariramba-de-bico-amarelo (Galbula albirostris), uma das aves analisadas no estudo. Foto: A. Gambarini

“Estudámos diferentes espécies de aves, endémicas de regiões distintas da Amazónia, e analisámos de que maneira as alterações na paisagem e no clima ocorridos no passado estariam relacionadas com o surgimento destas diferentes espécies”, explicou, em comunicado, Sofia Marques Silva, investigadora do CIBIO-InBIO e primeira autora do artigo.

Os investigadores concluíram que a imensa diversidade biológica encontrada hoje na Amazónia estará intimamente relacionada às oscilações do clima no passado, que ocorreram de maneira distinta em cada região.

As linhagens mais antigas de aves surgiram nas regiões mais húmidas do oeste e norte da Amazónia. Estas terão, por sua vez, originado as linhagens mais jovens nas regiões a sul e sudeste, relativamente mais secas.

Segundo Sofia Marques Silva, “o fator crucial que explica a grande biodiversidade são as oscilações da humidade durante o Plistoceno (há entre 2,5 milhões e 11 mil anos atrás), as quais não foram homogéneas ao longo da Amazónia e nem ocorreram nos mesmos intervalos de tempo”.

A questão da oscilação da humanidade no passado, defendem estes investigadores, é mais relevante do que a influência dos rios na diferenciação de algumas espécies, como defendeu o famoso naturalista Alfred Russel Wallace no século XIX.

Segundo Wallace, os grandes rios da bacia Amazónica teriam promovido o isolamento de populações que, ao longo das gerações, se teriam diferenciado dando origem a novas espécies.

Rio Roosevelt, na região oeste da Amazónia. Foto: Alexandre Aleixo

Já o ornitólogo J. Haffer em 1969, leva em conta que o isolamento e posterior diferenciação ocorreram em diferentes regiões da Amazónia denominadas refúgios. Os refúgios são regiões isoladas que permaneceram húmidas e mantiveram sua cobertura florestal durante episódios recorrentes de clima seco, ocorridos no Plistoceno.

O impacto futuro das alterações climáticas

O artigo científico indica ter havido no passado um gradiente bastante acentuado na variação climática desde o noroeste, historicamente mais húmido, até o sudeste da Amazónia, relativamente mais seco.

Estas evidências explicariam a existência de uma maior e mais antiga diversidade de aves no oeste e norte da Amazónia.

O sul e sudeste abrigam uma menor e mais recente diversidade de aves, que teriam surgido somente quando o clima esteve propício para o estabelecimento da floresta húmida nesta área. A cobertura florestal aí deverá ter sido instável e altamente influenciada pela redução de precipitação na região.

Este estudo traz à discussão o papel da maior floresta tropical do planeta no âmbito das alterações climáticas.

Macho de Willisornis vidua, ou rendadinho-do-Xingu, uma das aves analisadas no estudo. Foto: P. V. Cerqueira

Os autores do artigo alertam que a região sudeste da Amazónia, historicamente a mais vulnerável a mudanças climáticas, é hoje a mais ameaçada pela desflorestação.

“Se considerarmos os impactos das alterações climáticas actuais é provável que as mudanças históricas na distribuição da cobertura florestal nesta região ocorram novamente, e com elas a perda da biodiversidade e dos serviços ecossistémicos dos quais todos nós dependemos”, alertam, em comunicado.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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