Um dos quatro ninhos artificiais para abutres-pretos instalados em Janeiro no Douro Internacional já tem ocupantes, o que aumenta a esperança no nascimento de uma nova colónia da espécie, a longo prazo.
O anúncio foi feito esta quarta-feira pela equipa do projecto Life Rupis, que trabalha pela conservação do abutre-do-Egipto e da águia-perdigueira na região transfronteiriça do Douro Internacional.
O abutre-preto (Aegypius monachus) é a maior ave em Portugal, onde é considerado Criticamente em Perigo de extinção, desde 2005. Em território português há hoje três núcleos reprodutores, incluindo o Douro Internacional e também o Alentejo e o Tejo Internacional. É nesta última região que está hoje a maior colónia, que em 2018 contava com 15 casais.
Os ninhos artificiais tinham sido instalados pela empresa Oriolus, apoiada por vigilantes de natureza e por técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Objectivo: servirem de alternativa segura ao único casal de abutres-pretos que procriava na região há sete anos, uma vez que o ninho anterior tinha ficado destruído num incêndio em 2017.
“Tínhamos falta de boas árvores, com alguma robustez, pois os ninhos construídos pelos abutres-pretos atingem uma dimensão e um peso consideráveis ao fim de alguns anos, à medida que vão acumulando material”, explicou à Wilder Joaquim Teodósio, coordenador do projecto Life Rupis. “Este primeiro casal já tinha construído um novo ninho em 2018, mas numa árvore muito frágil.”
No entanto, o mesmo casal acabou por construir outro ninho já este ano, “numa localização muito melhor”, e as quatro plataformas ficaram a aguardar outros ocupantes. “Tínhamos esperança de atrair outras aves jovens, mas não esperávamos que acontecesse tão depressa”, admitiu o mesmo responsável, ligado à Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
Os abutres-pretos costumam juntar-se em colónias de dezenas de indivíduos, mas a mais próxima fica em Espanha, a cerca de 100 quilómetros, o que surpreendeu os biólogos que acompanham estas aves no Douro.
“Por vezes, casais recém-formados afastam-se de uma colónia, começando um novo núcleo – foi o que sucedeu em Barrancos, por exemplo. Mas normalmente estes novos núcleos formam-se a 10 ou 20 km da colónia de origem – não a 100 km!”, nota um comunicado divulgado pelo SPEA.
A equipa do projecto espera que os dois casais no Parque Natural do Douro Internacional “se reproduzam com sucesso e que este Verão se juntem assim mais duas crias àquela que teve sucesso o ano passado, depois de os pais terem perdido a cria de 2017 no incêndio”.
A longo prazo, caso a nova geração de abutres-pretos ficar na mesma região, e se aves vindas de outros locais ali se fixarem, pode ser que “aos poucos se instale uma colónia de abutres-pretos no Nordeste de Portugal”, acrescentam. “Para esta espécie ameaçada, uma nova população em Portugal seria uma excelente notícia, e um contributo significativo para a recuperação da espécie na Europa.”
O projecto Life Rupis, coordenado pela SPEA, tem mais oito parceiros: Associação Transumância e Natureza (ATNatureza), Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural, ICNF, Junta de Castilla y León, Fundación Patrimonio Natural de Castilla y León, a Vulture Conservation Foundation (VCF), EDP Distribuição e GNR.
[divider type=”thin”]Saiba mais.
Descubra quantos casais de abutre-preto havia no ano passado e quantas crias nasceram em Portugal, neste artigo da Wilder.