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Ganso-patola. Foto: Timo Schluter/Pixabay

Alterações climáticas ameaçam sobrevivência das aves marinhas

06.04.2018

Cada vez é mais difícil para as aves marinhas encontrar alimento para as suas crias por causa das alterações climáticas, alerta um novo estudo publicado a 2 de Abril na revista Nature Climate Change.

 

Uma equipa internacional de investigadores analisou a reprodução de 62 espécies de aves marinhas, desde 1952 a 2016, um período marcado por um aumento significativo da temperatura da superfície do mar.

Nas suas conclusões, os cientistas alertam que as aves marinhas, o grupo de aves mais ameaçado do mundo, não conseguem adaptar os seus ritmos biológicos às alterações da temperatura dos oceanos.

Ou seja, deixaram de coincidir as alturas em que há mais presas nos oceanos – como os camarões, lulas e pequenos peixes, por exemplo – e as alturas em que as aves têm crias famintas para alimentar.

Segundo este estudo, e ao contrário do que acontece com as presas, as aves marinhas não alteraram o seu calendário reprodutivo em resposta ao aumento das temperaturas. As aves marinhas têm uma maior duração de vida do que as suas presas e só se reproduzem quando têm vários anos de idade, o que significa que precisam de mais gerações para se adaptarem.

“Muitas plantas e animais estão a reproduzir-se mais cedo do que em décadas passadas. Por isso foi surpreendente descobrir que as aves marinhas não estão a responder às alterações do ambiente”, comentou, em comunicado Katharine Keogan, da Universidade de Edimburgo.

Esta falta de sincronização entre os ritmos biológicos das aves marinhas e os das presas pode dificultar a obtenção de alimento, em especial durante a época de cria e alimentação das crias. Segundo os investigadores, esta situação põe em risco a sobrevivência de muitas populações já em estado vulnerável.

A equipa estudou 145 populações de aves em 60 locais. Uma dessas populações foi a da cagarra (Calonectris borealis), no arquipélago das Canárias. “Monitorizámos a reprodução desta população de aves desde 2001, o que permitiu contribuir de forma significativa para o resultado final deste trabalho”, comentou Jacob González-Solís, do Instituto de Investigação da Biodiversidade (IRBio) da Universidade de Barcelona.

“No âmbito das áreas oceânicas no Atlântico e no Mediterrâneo prevê-se que as espécies migratórias de longa distância serão as mais afectadas, uma vez que vivem em, pelo menos, duas áreas diferentes durante o ano”, acrescentou.

O desfasamento entre os ritmos biológicos das aves marinhas e os das presas será especialmente prejudicial para as aves da ordem dos Procellariiformes, sobretudo para os albatrozes e para os fulmares. “Estas espécies mostraram menor flexibilidade” no seu ciclo reprodutivo, salientou o investigador Raül Ramos, da mesma universidade. Por outro lado, as aves oceânicas com maior capacidade de resposta aos efeitos das alterações climáticas são as espécies das famílias Pelecaniformes e Suliformes (como os corvos marinhos e os gansos-patola).

Os efeitos das alterações climáticas nas aves marinhas já foram notícia em Março de 2016, com um estudo sobre os impactos no painho-de-cauda-quadrada. Os investigadores demonstraram que pequenos desajustes entre o ciclo reprodutor e os padrões de produtividade marinha podem fazer a diferença entre o êxito e o fracasso na reprodução destas aves.

 

Esta investigação resultou da colaboração de uma equipa internacional de peritos em aves marinhas, liderada pela Universidade de Edimburgo, pelo Centro de Ecologia e Hidrologia (CEH) e pela Prospecção Antárctica Britânica (BAS) do Reino Unido.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça as aves marinhas portuguesas neste atlas especialmente dedicado a estas aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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