Um milhão de euros serão investidos nos próximos três anos em projectos sustentáveis de exploração do mar português. Esta é a primeira iniciativa da parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Oceano Azul, lançada hoje em Lisboa.
O programa Blue Bio Value é o primeiro passo desta cooperação. Serão um milhão de euros a investir ao longo de três anos, financiados a 50% por cada fundação, para apoiar empresas com ideias na área da biotecnologia azul. A abertura do concurso para as candidaturas acontece em Junho e os primeiros projectos poderão começar em Setembro ou Outubro.
O objectivo é “atrair projectos e ideias e transformá-las em oportunidades de negócio”, desde que mudem o paradigma da exploração económica do mar.
“O oceano está a viver uma grave crise ecológica”, salientou Tiago Pitta e Cunha, presidente da Comissão Executiva da Fundação Oceano Azul, esta manhã no Oceanário de Lisboa, após a cerimónia de assinatura do protocolo de colaboração entre as duas fundações. “Não podemos agravar o desequilíbrio dos ecossistemas marinhos. E uma forma de o conseguir é através da biotecnologia”, acrescentou.
Esta nova indústria pode dar respostas a necessidades nas áreas da alimentação, saúde, cosmética e até dos biocombustíveis. Hoje já existem exemplos do potencial da biodiversidade marinha, desde próteses feitas à base do esqueleto externo de camarões, a suplementos alimentares com base em espinhas de peixe, tintas sustentáveis para navios ou cosméticos que utilizam algas.
Prevê-se que o sector da biotecnologia represente, a nível global, mais de seis mil milhões de euros em 2025, segundo dados citados pela Fundação Oceano Azul.
A grande vantagem desta indústria é que trabalha com matérias primas – como esponjas, bactérias ou algas – recolhidas “de forma criteriosa”, garantiu Tiago Pitta e Cunha, muito longe de abordagens lesivas para o ambiente como a exploração por arrasto.
O programa Blue Bio Value quer tornar Portugal um polo internacional relevante neste sector, ajudando também a atrair investidores estrangeiros.
“O oceano será um dos principais motores do desenvolvimento sustentável da economia global”, disse a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, durante a cerimónia. A ambição é que a economia azul represente 5% no total da economia até 2020. “Esse crescimento não pode ser realizado à custa da sustentabilidade ambiental”, acrescentou a ministra. “Os impactos e perdas ambientais do capital natural decorrente da actividade económica não sustentável no risco oceânico corroem a base de recursos da qual esse crescimento depende”.
A ministra defendeu o “desenvolvimento de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes” para minimizar a extracção de recursos e maximizar a reutilização de materiais.
E para proteger estas matérias primas marinhas, Ana Paula Vitorino anunciou que este mês ficará concluída a Rede Nacional de Áreas Marinhas Protegidas. O objectivo do Governo português é aumentar o espaço das áreas marinhas protegidas para 14% das zonas costeiras e marinhas sob jurisdição nacional.
“O desenvolvimento sustentável da economia do mar depende, por um lado, da conservação do meio marinho e, por outro, da valorização do capital natural azul”, declarou Isabel Mota, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian. Por isso, em colaboração com a Fundação Oceano Azul, esta instituição pretende “apoiar iniciativas conjuntas que promovam uma sociedade mais azul, canalizando mais inovação, mais conhecimento e mais investimento para o surgimento de novos modelos de negócio sustentáveis, em substituição dos tradicionais modelos com impacto negativo no ambiente”.
De acordo com Isabel Mota, os oceanos terão um lugar privilegiado no âmbito do recente Programa Gulbenkian Sustentabilidade (2018-2022), mais concretamente em relação à produção e consumo sustentáveis.
Mas a colaboração entre as duas fundações não se esgota no programa Blue Bio Value. “O protocolo que foi assinado hoje é mais vasto” e estão a começar a ser delineadas “mais iniciativas conjuntas” para o futuro, garantiu Tiago Pitta e Cunha.
“Esta crise ecológica coloca desafios enormes para os oceanos”, disse José Soares dos Santos, presidente do Conselho de Administração da Fundação Oceano Azul. “E não temos muito tempo para agir. (…) Mas não podemos não fazer, de forma nenhuma.”