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Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Entrevista: “Vamos atingir os objectivos que traçámos para o lince-ibérico”

19.02.2018

O Iberlince, projecto que enquadra a conservação do lince-ibérico em Portugal e Espanha, termina este ano. A Wilder perguntou ao director do Life Iberlince, Miguel Angel Simón, qual será o futuro de um dos maiores projectos de conservação da natureza na Europa.

 

WILDER: O Projecto Life Iberlince, com um orçamento total de mais de 34 milhões de euros, termina este ano. O que se segue na conservação do lince-ibérico?

Miguel Angel Simón: De facto, o Life Iberlince termina a 31 de Dezembro de 2018. É um projecto ibérico que juntou Portugal, Extremadura, Castilla-La Mancha, Murcia e Andaluzia. Neste momento as várias administrações têm orçamento para continuar a trabalhar. Ainda assim, já começámos a preparar um novo projecto Life, o Iberlince II, que será apresentado à Comissão Europeia em meados de Setembro de 2018 e que começará nos primeiros meses de 2019.

 

W: E quais serão os objectivos prioritários na conservação do lince?

Miguel Angel Simón: Em 2018 vamos finalizar o projecto e espero que alcancemos os objectivos que definimos para o Iberlince I. Ou seja, conseguir 115 fêmeas territoriais na Andaluzia (90 fêmeas na Serra Morena e 25 em Doñana) e, pelo menos, cinco fêmeas territoriais por cada nova área de reintrodução fora da Andaluzia. Para o futuro projecto Life Iberlince II, que vai coordenar as acções de conservação futuras, os objectivos serão manter a população andaluza, consolidar as áreas de reintrodução fora da Andaluzia e estabelecer uma ligação efectiva entre todas as zonas de presença e reintrodução. Para isso trabalharemos em duas novas zonas: Río Hortiga (Extremadura) e Sierra Harana (Andaluzia) para tentar iniciar novas reintroduções.

 

Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ

 

W: Hoje há mais de 500 linces na natureza. Este número é o que estava previsto para esta fase?

Miguel Angel Simón: Os números provisórios do censo de 2017 dão um número total de 547 linces-ibéricos em toda a Península, o que implica um crescimento da espécie muito importante, tendo passado de menos de 100 linces em 2002 para mais de 500 em 2017. Mas nós estabelecemos objectivos com mais significado biológico, como o número de fêmeas reprodutoras. Acredito que vamos atingir os objectivos definidos pelo Iberlince I e que os números populacionais deverão consolidar-se nos próximos anos.

 

W: Quantos linces serão reintroduzidos na natureza em Portugal e Espanha este ano?

Miguel Angel Simón: Para as libertações de 2018 temos um total de 30 linces-ibéricos (15 machos e 15 fêmeas), distribuídos de acordo com critérios genéticos pelas diferentes áreas de reintrodução. Para o Vale do Guadiana, Valle de Matachel e Montes de Toledo destinaram-se seis linces-ibéricos por zona (três machos e três fêmeas); depois há cinco para a Serra Morena Oriental (dois machos e três fêmeas); três para Guadalmellato (dois machos e uma fêmea) e quatro para Guarrizas (dois machos e duas fêmeas).

 

W: Como avalia a adaptação dos linces às áreas de reintrodução? 

Miguel Angel Simón: Em geral, a adaptação dos linces libertados tem sido muito boa em todas as áreas de reintrodução. Isto tem a ver com o trabalho minucioso e rigoroso que se realizou previamente na selecção de cada zona, avaliando não apenas as populações de coelho, a qualidade do habitat e as ameaças mas também o apoio social dos habitantes. Os resultados que estamos a conseguir permitem ter muita esperança. À excepção de uma zona onde tivemos um elevado número de atropelamentos durante 2017, as diferentes populações estão a crescer segundo o previsto. O resultado no Vale do Guadiana está a ser muito positivo. Em 2017 registámos um total de 34 linces-ibéricos, com sete fêmeas territoriais e 11 crias. Além disso iniciou-se uma ligação com a população de Doñana-Aljarafe, algo que precisamos potenciar no futuro.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

 

W: Quais são as maiores ameaças à conservação da espécie?

Miguel Angel Simón: A maior ameaça são as doenças virais do coelho-bravo, em especial a febre hemorrágica viral e a recente mutação do vírus que a produz. Isto pode limitar o crescimento das populações de lince-ibérico. Felizmente, o trabalho prévio de selecção de áreas de reintrodução foi exaustivo, privilegiando o facto de serem zonas com densidades altas de coelho. Isto está a permitir que os coelhos recuperem com maior facilidade.

 

W: Que mensagem gostaria de deixar aos cidadãos que acompanham a conservação do lince?

Miguel Angel Simón: Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as pessoas que nos estão a ajudar, participando directamente no projecto de conservação. Proprietários de herdades privadas, associações de caçadores, criadores de gado e a sociedade em geral dedicaram-se aos trabalhos de recuperação deste felino, um património natural único da Península. Acredito que conseguimos que a sociedade considere o projecto de conservação do lince-ibérico como algo seu, onde nós, a equipa do Iberlince, temos apenas o papel de concretizadores dos trabalhos de melhoria. Neste momento, Portugal e Espanha estão unidos por este projecto de conservação e no futuro temos de conseguir uma união física dos linces-ibéricos com a troca de felinos entre as zonas portuguesas e espanholas.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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