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Foto: Programa de Conservação Ex-situ do Lince Ibérico

Quatro linces morreram em Espanha em menos de uma semana

17.01.2017

Na semana passada, entre 12 e 14 de Janeiro, morreram quatro linces-ibéricos em Espanha, dois deles atropelados. Entre estes está Kaplán, um dos primeiros libertados no âmbito do programa Iberlince em Castela-La Mancha, em 2014.

 

A 12 de Janeiro, as autoridades encontraram o cadáver de um lince-ibérico na estrada EN-420 na região de Córdova (entre Montoro e Cardeña). No mesmo dia tinha já sido revelada a morte de Melisandre – lince nascida há dois anos no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves.

O lince encontrado atropelado na EN-420 também era uma fêmea, segundo um comunicado do programa Iberlince, que trabalha para conseguir um número de linces e de populações que garantam a sobrevivência desta espécie. O cadáver do lince foi levado para o Centro de Análises e Diagnóstico da Fauna Selvagem da Junta da Andaluzia, onde foi feita a necropsia.

Dois dias depois, a 14 de Janeiro, foi encontrado outro cadáver de lince-ibérico, atropelado na auto-estrada A-4, no término municipal de Viso del Marqués (Ciudad Real).

A 13 de Janeiro, funcionários de uma zona de caça na mesma zona de Ciudad Real encontraram o cadáver de Kaplán, um dos machos adultos territoriais da área de reintrodução da Serra Morena. Este lince nasceu no Centro de Reprodução de La Olivilla (Jaén) em 2013 e em Julho de 2014 foi reintroduzido na natureza, na propriedade Navarredonda, em Almuradiel.

Kaplán “permaneceu na zona de libertação desde o momento da solta e calcula-se ser o pai de duas ninhadas de lince detectadas em 2016 na Serra Morena, correspondentes às fêmeas Kiki e Kiowa”, segundo o Iberlince.

Os resultados preliminares da necropsia revelam que Kaplán não terá sido abatido a tiro, “uma vez que através das radiografias realizadas não é visível qualquer projétil ou fractura”. Também não foram identificadas lesões musculares, fracturas antigas, ferimentos graves ou hematomas. “De uma forma geral, trata-se de um exemplar bastante debilitado, possivelmente resultante de um processo infecioso”, acrescenta o Iberlince. As autoridades suspeitam de um problema a nível renal.

 

WWF quer cumprimento de medidas para evitar atropelamentos

Estas mortes já mereceram reações. A organização WWF em Espanha acusa o Governo de Madrid de tardar em “acabar com os pontos negros nas estradas onde os linces estão a morrer atropelados” e já pediu uma reunião urgente com Íñigo de la Serna, ministro do Fomento.

“A sangria de atropelamentos de linces nas estradas nos últimos dias deve-se, em parte, ao atraso do Ministério do Fomento em pôr em funcionamento as grandes intervenções prometidas”, como as passagens para a fauna, escreve hoje a organização em comunicado.

A WWF lembra que em 2014 morreram 22 linces atropelados, um “triste máximo histórico”. “É lamentável como começámos o ano no que se refere a mortes de lince”, comentou Juan Carlos del Olmo, secretário-geral da WWF em Espanha. “Pediremos ao novo ministro do Fomento um compromisso firme para que se cumpram em 2017 as acções previstas e assim evitar novos atropelamentos.”

Outra reação veio da Federação Andaluza de Caça (FAC), mais concretamente, em relação à morte de Melisandre, encontrada num couto de caça em Jimena (Jaén), presa numa armadilha. Esta federação expressou a sua condenação pelo sucedido. “Em nenhum caso os responsáveis por este tipo de delito podem identificar-se como caçadores, mas simplesmente como delinquentes e irresponsáveis”, disse José María Mancheño, presidente da federação.

Agora, a FAC espera que o autor do delito seja identificado e punido.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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