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José e Sérgio estão a inventariar as espécies da Lagoa de Melides

13.05.2015

Numa noite de Abril, duas pessoas de lanterna na cabeça e câmara fotográfica na mão olhavam para os candeeiros do parque de campismo de Melides. Naquela noite, José e Sérgio estavam à procura de borboletas nocturnas. Mas têm uma missão maior: inventariar o maior número de espécies daquele cantinho da costa alentejana. A sua lista já vai em quase 200.

 

Às 22h00 de 19 de Abril, um domingo, José e Sérgio estavam no parque de campismo de Melides, de lanterna na cabeça e câmara fotográfica na mão, para procurar borboletas nocturnas.

José Frade, 49 anos, é mecânico de automóveis. Sérgio Guerreiro, 43 anos, trabalha na PT Empresas. Vivem em Cascais e dedicam-se à natureza por gosto. Especialmente à natureza da Lagoa de Melides.

A saída de 19 de Abril durou até à 01h00, contaram à Wilder. “Embora as expectativas não fossem muito altas conseguimos avistar cerca de 30 espécies, nomeadamente Coscinia cribraria, Spodoptera cilium, Abrostola triplasia, Spudaea ruticilla, Amblyptilia acanthadactyla, Chesias rufata, Adactylotis gesticularia e Macrothylacia digramma”. E algumas aranhas.

 

Adactylotis gesticularia. Fotografia: José Frade
Adactylotis gesticularia. Fotografia: José Frade

 

A surpresa da noite foi a Macrothylacia digramma, uma borboleta nocturna que, segundo Sérgio Guerreiro, pode atingir os seis centímetros de envergadura e voa entre Abril e Junho. Habita bosques e prados e a sua principal árvore hospedeira é a azinheira. “Após um quilómetro de caminhada, a persistência foi nossa padroeira, quando nos deparámos com esta joia noctívaga poisada num canto de noite. Sem frio que nos demovesse, o espanto deu lugar ao contentamento da alma”, escreve Sérgio Guerreiro no seu blogue.

Os dois começaram a fazer saídas nocturnas em busca de borboletas em Outubro de 2014. Para identificar as espécies têm pedido ajuda ao grupo do Facebook Lepidoptera em Portugal. “Reparámos na enorme variedade destes magníficos seres e na sua atracção pela iluminação do parque de campismo. Desde então, fazemo-lo de forma sistemática. E sempre que nos deslocamos a Melides, uma vez por mês, reservamos uma noite para observar estes magníficos insectos”, acrescentaram.

Mas José e Sérgio não vão a Melides só pelas borboletas nocturnas. Desde Setembro de 2014 estão a inventariar as espécies da Lagoa, no âmbito do BioMelides, um projecto de voluntariado em parceira com Junta de Freguesia de Melides.

 

Fotografia: BioMelides

 

Ambos resumiram a ideia principal: “Fotografar, catalogar e divulgar. Ou seja, dar a conhecer e sensibilizar, por intermédio de fotografia e vídeo, a fantástica biodiversidade que ocorre nos mais variados ecossistemas e habitats locais”.

Até agora “estão inventariadas 116 espécies de aves, cerca de 70 espécies de borboletas, mais algumas de invertebrados (aranhas, gafanhotos, libelinhas, etc.), répteis, anfíbios, fungos e plantas, mas apenas um mamífero até ao momento, algo que temos esperanças que venha a mudar”, contam.

Íbis. Fotografia: José Frade
Íbis. Fotografia: José Frade

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez

Pode participar no projecto BioMelides e ser os olhos e ouvidos de José e Sérgio no terreno. Se viu uma ave, um mamífero ou até um insecto que lhe despertou a atenção, publique na página do Facebook da BioMelides com uma fotografia, ou apenas uma descrição do animal e do sítio onde foi observado.

Para o Verão serão organizadas uma saída nocturna, aberta aos residentes no parque de campismo, para observar borboletas, e um workshop sobre observação e fotografia de aves na Lagoa de Melides.

E entretanto aproveite para fazer praia, experimentar percursos pedestres e observar as espécies da Lagoa. José e Sérgio deixam-lhe uma dica: procure as borboletas, nocturnas ou diurnas; este é um óptimo local para as observar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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