Os papa-moscas-pretos são mais pequenos do que o pardal-doméstico e pesam cerca de 12 gramas, mas isso não os impede de atravessarem o maior deserto quente do mundo sem pausas para descanso, concluiu agora uma equipa de cientistas holandeses.
O papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) pode ser observado em Portugal durante as épocas de migração, em especial no mês de Setembro, quando a espécie faz uma pausa prolongada, na viagem de regresso aos territórios de invernação na Costa do Marfim e Guiné.
Para chegarem ao destino final de Inverno, estas pequenas aves partem de países como o Reino Unido e a Holanda para uma viagem que demora cerca de cinco semanas, durante as quais um dos maiores desafios é a travessia do deserto do Sahara – tal como no percurso inverso, na altura da Primavera.
Actualmente, com base em estudos de satélite, considera-se que as diferentes espécies de pequenas aves que atravessam este deserto africano, nas suas rotas de migração, voam apenas durante a noite, parando durante o dia para se abrigarem do calor intenso. No entanto, essa análise não tinha ainda sido feita com recurso a observações de indivíduos.
Agora, dois cientistas holandeses concluíram que os papa-moscas-pretos, que medem apenas 12 a 13,5 centímetros, conseguem atravessar de uma só vez o maior deserto quente do mundo, num voo de 40 a 60 horas sem pausas pelo meio. Nesta parte da rota, a espécie contraria o comportamento apresentado durante o resto da viagem, quando voa quase sempre apenas durante noite.
Estes investigadores, da Universidade de Groningen, colocaram em 2013 pequenos aparelhos geolocalizadores em 52 machos e 28 fêmeas de papa-moscas-pretos, nos seus territórios de nidificação em Drenthe, na Holanda, explica o estudo publicado na revista científica Biology Letters.
Em 2014 e 2015, Janne Ouwehand e Christiaan Both conseguiram recapturar 27 destas aves com os respectivos aparelhos. Cada um com um peso de cerca de 0,5 gramas, estes geolocalizadores são como “mochilas muito pequenas”, descreveu Ouwehand à BBC, explicando que gravam os níveis de luz e de temperatura em cada cinco a dez minutos, durante meses.
Foi ao analisarem estes dados que os investigadores concluíram que os papa-moscas-pretos fazem a travessia do deserto num único voo.
Os dois cientistas consideram ainda que estas aves fazem dois percursos diferentes, de acordo com as épocas do ano: durante a Primavera, voam directamente sobre o deserto, mas durante o Outono fazem um desvio de rota sobre o Atlântico.
“A nossa observação de que os papa-moscas na Primavera realizam um voo ininterrupto de pelo menos 500 km para sul, desde o início do deserto, sugere que a fisiologia não é obstáculo para uma grande travessia”, sublinha a equipa no estudo publicado.
Janne Ouwehand e Christiaan Both pretendem agora comparar estas estratégias com as de outras aves migradoras de longa distância – um estudo que consideram “especialmente importante”, tendo em conta os grandes desafios que essas espécies enfrentam actualmente nos territórios onde passam o Inverno.
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Se quiser conhecer melhor o papa-moscas-preto e quais os locais e alturas do ano em que pode observar esta pequena ave, pode encontrar essa informação no portal Aves de Portugal, aqui.