Toutinegra-de-cabeça-preta. Foto: Fábio Fonseca

A história da fotografia onde Fábio, finalmente, conseguiu a “sua” toutinegra-de-cabeça-preta

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Esta é uma fotografia que nos faz lembrar o inverno na natureza em Portugal mas é mais do que isso. Conheça a história por detrás da fotografia onde Fábio Fonseca conseguiu, depois de muitas tentativas, captar uma toutinegra-de-cabeça-preta.

Fábio Fonseca, 33 anos, natural de Paredes (Porto) e operador logístico num armazém de peças de automóvel, fotografou esta ave no passado domingo dia 15 dezembro quando passeava ao final do dia pela Albufeira do Azibo no distrito de Bragança.

“Fui lá com o intuito de observar e fotografar aves mas, no que diz respeito à fotografia, não estava nos meus dias de sorte”, contou à Wilder. “Havia poucas aves nas árvores e arbustos junto ao trilho que circunda a lagoa; na água havia muitas aves mas estavam distantes e contra luz o que dificultava tudo na hora de fotografar.”

Mas nestas coisas, o que vale é a perseverança e saber esperar. “Quando regressava ao carro pensei, ‘seria lindo conseguir uma imagem de uma ave aqui nestes arbustos com estes frutos vermelhos’. Mais à frente estava um cartaxo-comum pousado num poste de uma vedação. Comecei a fotografá-lo e este fez-me a vontade e voou para o tal arbusto. Quando me preparava para o fotografar vejo um vulto cinzento na parte inferior do arbusto. Era uma toutinegra-de-cabeça-preta numa pose muito acrobática, de cabeça para baixo, a alimentar-se das bagas. Com sorte ela permaneceu lá alguns segundos e consegui fazer algumas imagens dela, sendo que esta foi a minha favorita.”

“Não estava nada à espera de conseguir fotografar esta espécie, já tinha tentado várias vezes sem sucesso, mas desta vez a natureza decidiu surpreender e proporcionar-me este momento que me deixou extremamente feliz. Fez o meu dia.”

Segundo Fábio Fonseca, o que mais gosta nesta fotografia “é a combinação de cores, a luz do pôr do sol, o contraste dos frutos vermelhos com as cores da ave. Depois demonstra o habitat onde podemos encontrar esta espécie”.

A  toutinegra-de-cabeça-preta (Curruca melanocephala) é, segundo o portal Aves de Portugal, uma das mais abundantes toutinegras da nossa avifauna. No entanto, conseguir fotografá-la pode ser um verdadeiro desafio.

“A toutinegra-de-cabeça-preta é uma espécie que habita em zonas de mato denso. Embora seja observada com alguma facilidade, fotografá-la é uma tarefa difícil uma vez que anda pelo meio das ramificações dos arbustos, de um lado para o outro, em busca de alimento. E como pára pouco tempo em zonas abertas nem sempre é possível focar e fotografar”, explicou Fábio Fonseca. 

Fábio Fonseca começou a fotografar vida selvagem em fevereiro de 2023.

“Sempre fui um apaixonado pela natureza. Estar na natureza transmite-me tranquilidade e desliga a minha mente do stress do dia a dia”, contou. “Como fã dos programas da National Geographic sempre tive o desejo de um dia viver essas experiências e certo dia, numa viagem com o meu amigo Telmo Sá pelo Norte transmontano, encontrei um ninho de cegonhas junto à estrada. Parei o carro e tentei fotografar como podia com a minha lente de kit.

“Foi nesse momento que se deu o clique. Comecei a pensar em adquirir uma teleobjectiva e sair à descoberta da fauna que existe no nosso país. Desde então tenho dedicado todo o meu tempo livre a explorar a natureza e, no fundo, a dar a conhecer através das minhas fotografias as espécies que estão à nossa volta e que passam muitas vezes despercebidas.”

E ainda há muitas espécies que lhe faltam fotografar. “O esquilo-vermelho é, sem dúvida, aquele que mais quero fotografar; já são muitas as horas no terreno em busca dele mas só tenho a sorte de o encontrar quando não tenho a teleobjectiva comigo. Depois há muitas outras espécies que gostaria de fotografar como a marta, a lontra, o bufo-real e a lista vai por aí fora.” 


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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