Com quase 600 mil quilómetros quadrados em águas internacionais ao largo dos Açores, a nova Área Marinha Protegida da Corrente do Atlântico e da bacia do monte submarino Evlanov, cuja criação foi aprovada a 1 de Outubro, é considerada vital para as aves marinhas.
Esta nova Área Marinha Protegida (AMP) foi aprovada durante a conferência das Partes da Convenção OSPAR para a proteção marinha no Nordeste Atlântico que aconteceu a 1 de Outubro no Palácio da Cidadela, em Cascais.
Os governantes e representantes de 15 países – Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Islândia, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça – e da União Europeia decidiram aprovar esta AMP que vai proteger “uma área de importância vital para a alimentação de aves marinhas”, segundo um comunicado do Ministério do Mar.
A área da NACES (Área Marinha Protegida da Corrente do Atlântico e da bacia do monte submarino Evlanov) é maior do que o Reino Unido e a Alemanha juntos, com os seus 595.196 quilómetros quadrados.
Nos últimos 50 anos, as aves marinhas registaram declínios de 70% a nível mundial e hoje são o grupo de aves mais ameaçado do planeta. Cinco espécies globalmente ameaçadas dependem desta nova AMP para a sua sobrevivência: a freira-das-Bermudas (Pterodroma cahow), a freira-da-Madeira (Pterodroma madeira), a freira-do-bugio (Pterodroma deserta), a gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla) e o papagaio-do-mar (Fratercula arctica). Estas aves estão classificadas como Vulneráveis e têm populações que estão em rápido declínio.
“Com base em dados de rastreio comprovou-se que a área é utilizada por aves marinhas, que se reproduzem nas costas do Atlântico Nordeste, e por aves migratórias que nidificam noutras partes do mundo”, segundo o Ministério do Mar.
Na verdade, este santuário para aves marinhas foi descoberto graças a um esforço internacional de várias organizações, coordenadas pela federação Birdlife International. “Usando dados de seguimento, fenologia e populacionais, a BirdLife mapeou a abundância e diversidade de 21 espécies de aves marinhas”, explicou esta federação em comunicado.
Aquele hotspot é utilizado anualmente por entre 2,9 a cinco milhões de aves marinhas de mais de 56 colónias dispersas pelo Atlântico Norte e Sul, fazendo desta uma das mais importantes concentrações de aves marinhas migradoras no Atlântico. “Foi a primeira descoberta registada até agora de concentrações de aves marinhas desta magnitude em alto mar”.
Além disso, os fundos marinhos desta AMP albergam uma vasta variedade de biótopos e de elementos batimétricos, como as planícies abissais, os canhões e os montes submarinos.
Durante o encontro foi ainda aprovada a nova Estratégia Ambiental do Atlântico Nordeste até 2030 para travar os impactos das alterações climáticas, perda da biodiversidade, acidificação e poluição nos ecossistemas marinhos.
As cinco Regiões do Nordeste Atlântico abrangidas são as Águas do Ártico, O Grande Mar do Norte, os Mares Celtas, o Golfo da Biscaia e a Costa Ibérica e o Atlântico Extremo).
Aquela Estratégia vai classificar como protegida 30% da Área Marítima OSPAR até 2030. Além disso, pretende proteger “importantes habitats florestais de algas que sequestram CO2 produzido pelas atividades humanas” e reduzir a poluição, incluindo por plásticos, em 50% até 2025 e em 75% até 2030.
Os ministros presentes em Cascais decidiram também avançar com normas de prevenção e esquemas de certificação para toda a cadeia de abastecimento de plástico, para combater a disseminação de granulados de plásticos de origem industrial no ambiente marinho.
Recentemente, a 10 de Setembro, foi publicado o Guia de Áreas Marinhas Protegidas (MPA Guide, em Inglês) por uma equipa internacional de 42 investigadores num artigo na revista Science. Este trabalho, resultado de 10 anos de trabalho, faz o ponto de situação das áreas marinhas protegidas no planeta.
Hoje, só 3% do oceano está totalmente protegido; a meta é chegar a 2030 com 30%. Disponível para todos neste site, o Guia, que teve o apoio também da Fundação Oceano Azul, mostra o que estamos mesmo a conseguir conservar, o que não funciona e o que é preciso fazer para ter sucesso.
Saiba mais.
Recorde aqui a entrevista a Emanuel Gonçalves, um dos investigadores que publicou o Guia de Áreas Marinhas Protegidas e administrador e coordenador científico da Fundação Oceano Azul.