PUB

Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Centro de Silves soltou 11 linces que já foram pais na natureza

09.05.2016

Jacarandá é um dos 11 linces-ibéricos nascidos no Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, que já se reproduziram na natureza. Para o director do centro, a cria de Jacarandá representa o fechar de um ciclo.

 

A notícia do nascimento da primeira cria de lince-ibérico confirmada na natureza em Portugal foi recebida com entusiasmo no CNRLI, um dos cinco centros ibéricos que reproduzem e treinam linces para a liberdade.

“Sempre trabalhámos na esperança de ajudar Portugal a restabelecer as populações de lince-ibérico no campo”, disse Rodrigo Serra, veterinário e director do centro, à Wilder. “Este nascimento é o fechar de um ciclo em que recebemos os animais em Portugal (vindos de Espanha), reproduzimo-los em cativeiro, treinámo-los, soltámo-los e agora eles conseguem fazer no campo o que fazem no centro. É a cereja no topo do bolo.”

De momento, o lince-ibérico (Lynx pardinus) está a ser reintroduzido na natureza no Vale do Guadiana (Portugal) e em três comunidades espanholas: Andaluzia, Castela-La Mancha e Extremadura. De todos os linces soltos na natureza até agora, um total de 44 nasceram nas instalações do CNRLI. Pelo menos 11 destes já foram pais.

“Desejamos a todos os animais que libertamos a melhor sorte e que se reproduzam. Para nós, esta cria valida o nosso trabalho”, acrescentou.

Ainda assim, é preciso cautela para ver o que acontece nos próximos meses. Nada está garantido para Jacarandá e para a sua ninhada. “Há uma série de desafios no campo, a começar pelos predadores. Além disso, esta fêmea foi mãe pela primeira vez, não é experiente”, lembrou o responsável.

No terreno estão equipas de biólogos e veterinários a acompanhar os 15 linces que estarão a viver no Vale do Guadiana por estes dias. “Estamos em contacto permanente com as equipas de seguimento”, para acompanhar estes animais dentro do possível, acrescentou Rodrigo Serra, que também é coordenador dos veterinários do projecto de reintrodução.

Jacarandá fez parte das primeiras ninhadas que Portugal treinou para a liberdade. Nasceu em 2012 e foi solta no final de 2014. “Esteve mais de dois anos e meio em cativeiro mas conseguimos que não se ‘estragasse’”, explicou. É que os linces para reintroduzir na natureza são treinados de maneira diferente em relação aos linces que estão no centro para reprodução. Nos primeiros, o contacto com humanos tem de ser reduzido ao mínimo, para aumentarem as hipóteses de sobreviver na natureza.

Este ano, os lince para reintrodução foram soltos com 11 meses de idade. No ano anterior, tinham entre os 14 meses e os dois anos. “Ainda não houve um ano tipo e estamos sempre a aprender. Ainda não sabemos qual é a melhor idade.” Jacarandá tinha mais de dois anos e meio. “Não houve condições para a soltar antes”, explicou Rodrigo Serra. “Havia no total 44 crias para soltar e, nessa altura, só tínhamos a Andaluzia como local de reintrodução. Por isso, tivemos de atrasar as soltas.”

O processo das reintroduções é um puzzle com muitas peças. São várias as coisas a ter em conta para tomar decisões sobre que animais soltar, quando e onde.

Por exemplo, os técnicos conservacionistas tentam que cada zona de reintrodução tenha um número equilibrado de machos e de fêmeas, que estes sejam o mais distantes geneticamente que for possível e que as zonas tenham um seguimento adequado. Depois, há que considerar o espaço disponível nos centros de reprodução. “A altura das soltas é crucial mas uma questão complexa”, diz Rodrigo Serra. “Quando os centros precisam de espaço para a temporada de reprodução é quando no campo o número de coelhos-bravos está nos mínimos, em Janeiro, Fevereiro. Tudo isto tem de ser acertado e tudo tem influência.”

Até agora, as coisas têm corrido bem. “O êxito das reintroduções é bastante alto e o êxito reprodutivo é bastante bom. Em menos de dois anos de reintroduções já todas as comunidades espanholas e Portugal já registaram nascimentos.” Além disso, salienta, “a taxa de sobrevivência pós-solta, a nível ibérico, é de 70%”, o que é raro nos casos de reintroduções na natureza.

 

[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico

Saiba como nasce um lince-ibérico, conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves e descubra onde pode observar linces na série Wilder “Como nasce um lince-ibérico”, que estamos a publicar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss