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Papagaio-do-mar (Fratercula arctica). Foto: Andrea Schmidt

Andrea quer proteger aves marinhas no mundo inteiro

19.03.2015

Andrea Schmidt decidiu abraçar a vida que tem hoje quando viu a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) passando no mar, juntamente com os filhotes ao largo do arquipélago de Abrolhos, no litoral brasileiro. “Ver animais livres, protegidos, com filhotes, deu-me uma sensação tão boa que naquele exacto momento decidi que era isso que eu queria fazer. Ser fotógrafa de natureza”, explicou à Wilder esta bióloga brasileira de 28 anos, especializada em conservação de animais silvestres.

Mas ver as baleias “pela primeira vez ali pertinho” foi apenas o primeiro passo em direcção a um projecto que se transformou no seu dia a dia: fotografar aves marinhas e alertar para o quanto estas podem sofrer com a poluição, especialmente plásticos. Desde então tem viajado por inúmeros países, em especial pela América do Sul e Europa, “procurando aves marinhas pelo mundo” (como testemunha o perfil da sua página no Facebook).

Em Outubro de 2013, enquanto fotografava as focas de Helgoland, uma pequena ilha alemã no Mar do Norte, “tropeçou” num enorme rochedo com aves marinhas. Foi a primeira vez que as fotografou, mas desde então nunca mais deixou de as procurar. “Passei vários dias fotografando as aves e, sem dar por isso, o meu projecto começou a desenvolver-se. Todas as minhas próximas viagens foram para fotografar aves.”

Alcatraz ou ganso patola (Morus bassanus). Foto: Andrea Schmidt
Alcatraz ou ganso patola (Morus bassanus). Foto: Andrea Schmidt

 

A decisão de juntar a tudo isso a educação ambiental surgiu pouco tempo depois, em Junho de 2014, numa viagem de Andrea à Escócia para conhecer de perto uma colónia de papagaios-do-mar (Fratercula arctica). Foi aí que se deparou com a Bass Rock. Nessa ilha no leste do litoral escocês, que é “a maior colónia única” de gansos-patolas (Morus bassana) do mundo, juntou a surpresa boa de visitar “um lugar incrível” com uma desilusão.

“Encontrei algumas aves carregando e comendo plástico. Também encontrei ovos enrolados com plástico no ninho e foi nesse momento que eu decidi juntar a fotografia das aves com educação ambiental”, explica a fotógrafa brasileira, que alerta que “pequenos actos nossos, como deitar lixo para a rua, pode causar enormes danos para o ambiente”.

Papagaio-do-mar (Fratercula arctica) Fotografia: Andrea Schmidt

 

Quando o tema é educação ambiental, uma das espécies que prefere são os papagaios-do-mar, como este que foi fotografado na ilha de Iona, Escócia, numa das fotos “mais especiais” para ela.

“Eu gosto sempre de destacar as fotos dos papagaios-do-mar quando falo sobre conservação, porque esta espécie, apesar de ser uma das mais lindas que eu já vi, sofreu muito com a caça e correu o risco de desaparecer”, conta à Wilder. “Os papagaios-do-mar são muito curiosos e a melhor forma que achei de fotografá-los foi ficar deitada no chão. Eles aproximaram-se cada vez mais e consegui fazer esta fotografia usando a vegetação como moldura natural.”

Alemanha e Brasil são os dois países onde hoje em dia passa mais tempo. No primeiro país, onde Andrea tem família, fica no intervalo das suas viagens e aproveita para “editar as fotos e preparar material para publicação”. Quanto ao Brasil, mata saudades dos pais quando viaja pela América do Sul.

Mas até agora, houve três países que a marcaram “pela natureza surpreendente”: Escócia, Grécia e Argentina, onde foi surpreendida pelas espécies que conseguiu ver em lugares protegidos.

Foto: Andrea Schmidt
Pelicano-crespo (Pelecanus crispus). Foto: Andrea Schmidt

 

Andrea conta que foi no Lago Kerkini, no Norte da Grécia, que deparou com uma das aves que mais a impressionaram: o pelicano-crespo (Pelecanus crispus) (na foto acima).

“Ficar cara a cara com a maior espécie de pelicano do mundo foi um dos pontos altos do meu projecto. O olhar deles é intenso, o que traz mais força às fotografias. Esta espécie é descrita como vulnerável e por isso tem um destaque importante no projecto”, explica. “Eu precisei da ajuda de um pescador, que me levou de barco até meio do lago, onde os pelicanos se aproximaram pensando que tínhamos peixe.”

Mas como se financiam tantas viagens? A fotógrafa conta que juntou dinheiro enquanto trabalhava para uma revista sobre natureza do Brasil, além de que vai vendendo as suas fotografias. “Mas estou à procura de parceiros e patrocínio para ajudar no desenvolvimento de eventos de educação ambiental”, avisa.

A última expedição foi à Patagónia argentina, onde encontrou enormes colónias de pinguins, juntamente com os respectivos filhotes – encontrar crias na natureza é “a melhor parte de trabalhar com conservação”, comenta.

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Cria de pinguim na Patagónia argentina. Foto: Andrea Schmidt

 

Andrea acredita que os seus trabalhos estão a ter efeitos positivos, desde logo inspirando outras pessoas, incluindo fotógrafos, para que abram os olhos para a natureza.

Agora, ainda durante a Primavera, Portugal vai ser uma das próximas paragens do seu trabalho, pois é “um país com uma das maiores diversidades de aves da Europa”. Daqui, vai partir para o Reino Unido e Irlanda até ao final do Verão, altura de reprodução das aves.

 

A publicação de um livro de fotografias das aves marinhas da Europa e da América do Sul está nos planos para o futuro, mas a intenção é continuar com o mesmo projecto nos outros continentes.

“Pretendo especializar-me cada vez mais como fotógrafa de natureza e continuar sempre com este trabalho, ajudando os animais de todas as formas que eu conseguir”, conclui esta apaixonada pelas aves marinhas e pelo mundo natural.

[divider type=”thin”] Se quer conhecer mais sobre o projecto de Andrea Schmidt, pode consultar a página dela na Internet, aqui. Também pode ir acompanhando as aventuras de Andrea, na página que ela mantém no Facebook.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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