Medusa-do-Tejo (Catostylus tagi). Foto: Duarte Frade/WikiCommons

Qual a diferença entre medusas e alforrecas?

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Os seres gelatinosos que, por vezes, encontramos na praia ou nos rios serão medusas ou alforrecas? Será só uma questão de semântica ou de taxonomia? Ou será tudo a mesma coisa? A equipa do GelAvista ajuda-nos a saber qual a forma mais correcta de nos referirmos a estas espécies.

São 12 as espécies de gelatinosos que podemos ver em Portugal, uns mais raros, outros mais comuns: caravela-portuguesa (Physalia physalis), veleiro (Velella velella), medusa-do-Tejo (Catostylus tagi), água-viva (Pelagia noctiluca), medusa-tambor (Rhizostoma luteum), medusa-compasso (Chrysoara hysosecella), medusa-da-lua (Aurelia aurita), Phacellophora camtschatica, salpas (Salpa spp.), Pyrosoma atlanticum, groselha-do-mar (Pleurobrachia spp.) e Bolinopsis spp.

Medusa-do-Tejo (Catostylus tagi). Foto: Duarte Frade/WikiCommons

Frequentemente ouvimos falar em alforrecas e medusas. Mas serão a mesma coisa?

Segundo a equipa do GelAvista – programa do IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) responsável pela monitorização dos organismos gelatinosos em toda a costa portuguesa, lançado em 2016, – os “termos medusa e alforreca são sinónimos”.

“Medusa é o termo usado cientificamente e o mais correto, enquanto alforreca é o nome comum usado para designar medusas de maiores dimensões”.

“De forma geral, ambos se referem à fase pelágica (livre) do ciclo de vida de alguns animais invertebrados do filo dos cnidários (que inclui animais como os corais e as anémonas), conhecidos como gelatinosos”, explicam estes peritos.

Pode ser importante explicar agora que estas espécies podem ter fases diferentes ao longo da sua vida: uma primeira fase em que estão fixas no fundo do mar e outra posterior em que passam a estar à deriva no oceano (fase pelágica, livre).

“Nesta fase do ciclo de vida, as medusas são uma componente do zooplâncton, encontrando-se à deriva no oceano, sendo que a sua baixa capacidade de locomoção não lhes permite contrariar as correntes. Esta é uma das razões para serem frequentemente arrojadas à costa, se as condições forem favoráveis.”

Água-viva (Pelagia noctiluca). Foto: Hectonichus/WikiCommons

A forma de uma medusa é tipicamente reconhecida pelos cidadãos. “O seu corpo apresenta uma estrutura característica em forma de guarda-chuva ou sino – a campânula – que permite que se movam através de contrações rítmicas, resultando num movimento lento de propulsão contra a água.”

Além disso, têm “tentáculos suspensos verticalmente, com células urticantes – os cnidócitos – que podem provocar queimaduras em contacto com a pele. Esta forma característica é partilhada tanto pelas medusas de maiores dimensões, facilmente observadas pelos cidadãos, como pelas mais pequenas e que passam mais despercebidas a olho nu, como as hidromedusas (classe Hydrozoa)”.

Nesta forma livre do ciclo de vida, a medusa contrasta com a forma fixa, o pólipo, que tem uma forma de medusa invertida, com os tentáculos virados para cima. “Os pólipos encontram-se fixos a substratos ou ao fundo do oceano e, por isso, são considerados bentónicos e não zooplâncton.” Embora não sejam animais gelatinosos, as anémonas são um exemplo claro desta forma fixa.

“Apesar disto, a palavra alforreca é muitas vezes usada pelos cidadãos quando se referem à medusa-do-tejo (Catostylus tagi), uma vez que se tratam de medusas muito comuns e frequentes em águas de Portugal continental. Por outro lado, nas ilhas dos Açores e Madeira, em que as medusas da espécie Pelagia noctiluca são mais abundantes, estas são conhecidas na região como águas-vivas, devido ao seu poder urticante. Trata-se, mais uma vez, de um sinónimo para a fase de medusa.”

Mas estes termos não se deverão utilizar no caso, por exemplo, da caravela-portuguesa (Physalia physalis). “Isto porque o ciclo de vida desta espécie não inclui uma verdadeira forma de medusa. Estes animais pertencem a um outro grupo (ordem) dentro dos cnidários, o grupo dos sifonóforos que, embora próximos das medusas em termos evolutivos, são bem distintos.”

Veleiro (Velella velella). Foto: Ryan Hodnett/WikiCommons

Outro exemplo interessante e distinto, segundo o GelAvista, é o caso da veleiro (Velella velella) “que, tal como a caravela-portuguesa, apresenta uma colónia que flutua à superfície do oceano. Esta forma flutuante representa o pólipo, ao contrário do que seria de esperar. No entanto, a veleiro apresenta a fase de medusa no seu ciclo de vida, embora se tratem de medusas muito pequenas e difíceis de observar a olho nu. Assim, para esta espécie, a fase colonial será mais facilmente observada pelos cidadãos do que a medusa.”

Muitos cnidários têm as duas fases durante o seu ciclo de vida – medusa e pólipo – mas outros podem só ter uma ou outra. “A alternância entre estas diferentes fases do ciclo de vida é uma das razões para o grande sucesso destes animais no meio aquático, sendo capazes de se reproduzir rapidamente num curto espaço de tempo e dar origem a grandes densidades de organismos.”


Agora é a sua vez.

Ajude a conhecer melhor os gelatinosos de Portugal enviando para o GelAvista as suas observações. Envie para o email [email protected] as seguintes informações: data, hora e localização do avistamento, a fotografia (se possível com algum objecto que sirva de referência de escala) e o número de organismos avistados na mesma zona (0; 1-5; 6-10; 11-50; + de 50; + de 100; + de 1000).

“Qualquer informação é preciosa para uma contínua monitorização das populações destes organismos, incluindo avistamentos e fotografias antigas! É também muito importante receber informação de que não se encontram organismos gelatinosos nas praias (avistamentos nulos), sendo a única forma de sabermos que não estão de facto a ocorrer”, salienta o GelAvista.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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