Na semana do Dia Internacional do Fascínio das Plantas, que se comemora a 18 de Maio, a Wilder desvenda-lhe as espécies que especialistas no mundo botânico desejam observar. Saiba também o que os fascina e que medidas gostariam de ver aplicadas em Portugal.
Carine Azevedo é consultora na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
Wilder: Que planta gosta de ver a florir no mês de Maio em Portugal?
Carine Azevedo: Não há uma planta em particular que seja a minha preferida, pois todas as plantas têm um toque especial na sua época de floração. E em Maio, os campos, os jardins e tantos outros espaços verdes enchem-se de cores e aromas únicos. Mas se tivesse que escolher uma planta ou plantas, escolheria todas as espécies nativas da família Cistaceae, como é o caso da esteva, a estevinha, a roselha, a tuberaria e a sargaça.
W: Porquê? E onde é que podem ser encontradas?
Carine Azevedo: Pela beleza e resistência das suas flores, grandes, vistosas, coloridas e delicadas. Pela sua grande capacidade de se desenvolver em locais agrestes, degradados, com solos pobres, pedregosos, de baixa fertilidade e clima quente e seco. E também pelo seu elevado valor ecológico, pois são bastante atrativas para os polinizadores, nomeadamente borboletas, abelhas, escaravelhos e outros insectos, excelentes soluções para combater a erosão do solo, etc.
Esta família de plantas está presente um pouco por todo o território nacional, habitualmente em solos ácidos, arenosos, xistosos ou graníticos e pedregosos.
W: O que é que considera mais fascinante nas plantas?
Carine Azevedo: As plantas são seres únicos, vivemos rodeados de plantas. São organismos essenciais para o equilíbrio do planeta. Estão presentes quando respiramos, naquilo que vestimos, no que calçamos, no papel que escrevemos, no que comemos, na cosmética, nos medicamentos e em tantas outras aplicações.
As plantas são também abrigo para muitos outros seres vivos e estão relacionadas com outros fatores importantes para a sobrevivência do planeta, como a libertação de oxigénio, a captação de dióxido de carbono, a regulação da humidade atmosférica, etc.
O que mais me fascina nas plantas é a sua “inteligência”. São seres extremamente complexos que vivem em constante adaptação e interação com os factores bióticos e abióticos do habitat do qual fazem parte. Têm a capacidade de “capturar”, “armazenar”, “processar” e “transmitir” informação fundamental para a sua sobrevivência, interagindo de forma equilibrada com o meio que a rodeia.
Um outro aspecto que sempre me fascinou é perceber o quanto a nossa vida é pequena, curta e frágil, quando comparada a muitas espécies de árvores e até plantas mais pequenas. Quando comparadas com o ser humano, as plantas ocupam o nosso planeta há muito mais tempo, existem muitas plantas milenares, já desenvolveram habilidades adaptativas bastante importantes para garantir a sua sobrevivência e nós ainda temos muito que aprender sobre elas.
W: No que respeita à flora portuguesa, que medidas são hoje mais prioritárias?
Carine Azevedo: As espécies nativas desempenham um papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas. Devemos cada vez mais apostar na sua conservação e proteção em geral, através do desenvolvimento de planos de recuperação, de conservação, manutenção e restituição de habitats e conservação da diversidade genética.
Aponto como prioritária a necessidade imediata de:
– Conservação efetiva de espécies protegidas e/ou ameaçadas, através do desenvolvimento e planeamento de ações de conservação para conter ou reverter o seu declínio, com implementação e monitorização imediata e constante;
– Controlo e gestão de espécies exóticas, nomeadamente espécies invasoras ou com comportamento potencialmente invasor, uma vez que estas espécies têm reduzido significativamente a abundância e a diversidade da flora nativa, de forma a conseguir-se proteger e preservar as espécies autóctones e os seus habitats;
– Controlo e gestão das populações de espécies nativas, aplicando técnicas adequadas para cada uma das espécies, com o objetivo de recuperar habitats degradados ou em risco de desaparecerem, por exemplo;
– Promover o reconhecimento do valor do património natural;
– Desenvolvimento de ações de replantação devidamente planeadas das áreas afetadas por incêndios, em campos e terrenos abandonados e outros espaços degradados por má gestão, para reequilíbrio desses ecossistemas;
– Plantação em meio urbano de mais espécies nativas, para valorização das espécies e por serem espécies mais bem adaptadas às condições ecológicas do nosso território, acompanhadas de um plano de ação e de gestão adequados ao bom desenvolvimento das mesmas;
– Evitar a fragmentação de habitats;
– Em obras de requalificação deixar solo livre e não o impermeabilizar.
Saiba mais.
Acompanhe os artigos de Carine Azevedo na Wilder, todas as sextas-feiras. E leia aqui os que publicámos até agora.