Na nova série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo vai responder às dúvidas que todos temos quando pensamos no que fazer para um mundo mais natural, à nossa porta. Seja no jardim, num bosque ou mesmo numa floreira.
Para que serve uma árvore? Infelizmente são muitos os que acham que uma árvore não tem utilidade nenhuma, a não ser que dê peras, maçãs ou cerejas.
Mas a árvore é muito mais do que isso. É ar puro, é frescura, é aroma, é vida e é cor. A árvore é, muitas vezes, o elemento central de qualquer espaço verde. É o resultado monumental de milhões de anos de evolução dos vegetais em busca de um lugar ao sol.
Quando pensamos em plantar uma árvore num jardim é fundamental perceber a sua importância, a função a que se destina e, acima de tudo, se as condições que lhe temos para oferecer são adequadas ao seu bom crescimento.
A árvore no jardim
A distribuição de árvores num jardim ou em qualquer espaço verde deve ocorrer de forma a conseguir um conjunto harmonioso, dar aspeto de irregularidade por diversidade de formas, esconder motivos sem interesse e dar a noção de maior profundidade ao espaço.
No entanto, a quantidade e a dimensão das árvores a plantar, bem como o local disponível para o seu crescimento, são fundamentais e devem ser levados em consideração antes mesmo de colocar em prática os trabalhos de plantação.
Em jardins mais pequenos não temos de abdicar das árvores, mas devemos olhar para o espaço disponível e escolher uma árvore que não cresça muito em altura, nem em diâmetro, para que não venha, no futuro, a ocupar mais espaço do que aquele que tem ao seu dispor e se possa desenvolver plenamente.
É fundamental pensar que quando plantamos uma árvore ela é, na maioria das vezes, pequena e jovem, mas que se vai tornar grande. É por isso necessário ter atenção às distâncias em relação à envolvente da árvore, nomeadamente ao edificado adjacente.
Uma árvore é muito mais do que o tronco, os ramos e as folhas. Muitas vezes as suas raízes são esquecidas, mas estas representam aproximadamente duas vezes o volume dos ramos. Logo, plantar uma árvore jovem muito próxima de um muro ou de um edifício, pode vir a causar inúmeros problemas no futuro.
Em jardins de maiores dimensões, a arrumação das árvores pode ser feita de forma diferente.
Se houver espaço suficiente, pode escolher-se plantar árvores isoladas de maior porte ou formar conjuntos de menor ou maior número de árvores – maciços – que devem ser constituídos por uma ou, no máximo, duas espécies, dispostas irregularmente, evitando alinhamentos, qualquer que seja o ângulo em que se observa o conjunto.
Nestas situações, as árvores devem ser plantadas com um compasso que permita observar o seu porte e que tenham espaço suficiente para que cresçam sem limitações ou constrangimentos.
A árvore isolada deve considerar-se como um prolongamento dos conjuntos e a sua existência tem de ser justificada por características que a tornam digna deste destaque.
A sua localização no meio de um jardim de certa extensão é sempre um quadro de grande efeito ornamental.
Árvores de folha caduca ou folha persistente?
E se o número de espécimes a plantar deve estar intimamente relacionado com espaço, na forma, no preenchimento, na textura e na cor, haverá que jogar com os contrastes, evitando não só o seu excesso, como o choque de formas.
A forma refere-se ao aspeto visual da copa da árvore. Existem árvores com copa arredondada, cónica, colunar, pendente, entre outras. O carvalho-alvarinho (Quercus robur) e a oliveira (Olea europaea), por exemplo, são espécies de copa arredondada. Já o teixo (Taxus baccata) tem uma copa cónica, o pinheiro-manso (Pinus pinea) em forma de chapéu-de-sol e o salgueiro-chorão (Salix babylonica) tem uma copa pendente.
O preenchimento refere-se à densidade ou grau de ramificação e à quantidade de folhas que a copa possui. Generalizando, pode-se dizer que as árvores podem ter copa, mais ou menos densa, ou seja, com maior ou menor quantidade de folhas. As árvores com copas mais densas dão mais sombra, por exemplo.
Além disso, também é importante ter em consideração o tipo de folhagem.
Existem árvores de folha caduca, também conhecidas como caducifólias e decíduas, ou seja, árvores cuja folha cai espontaneamente na estação do ano mais desfavorável, como acontece com o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), a tramazeira (Sorbus aucuparia), o jacarandá (Jacaranda mimosifolia), a faia (Fagus sylvatica) e a magnólia (Magnolia x soulangeana).
Também existem árvores de folha persistente ou perene, também conhecidas como perenifólias. Estas árvores mantêm as folhas verdes ao longo de todo o ano, fazendo a sua renovação gradual sem ficarem totalmente despidas, como é o caso do sobreiro (Quercus suber), o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), a camélia (Camellia japonica), o cipreste-comum (Cupressus sempervirens), o medronheiro (Arbutus unedo) e o cedro-do-Líbano (Cedrus libani).
Habitualmente é comum a mistura dos dois tipos de árvores, devendo respeitar-se uma proporção de 3 árvores de folha caduca para 1 árvore de folha persistente, para que no verão se tenha a sombra e a frescura desejada, em dias de muito calor e, no inverno o sol para aquecer em dias de muito frio.
Embora as árvores de folha caduca passem, muitas vezes, despercebidas, pois numa grande parte do ano encontram-se despidas, são elas que no verão fornecem a maior sombra e frescura.
A textura e cor
Finalmente, a textura e a cor são outras características estéticas a ter em consideração quando escolhemos árvores para um jardim. A combinação perfeita permite criar ambientes incríveis e particulares em cada jardim.
As folhas das árvores podem ser largas (aveleira (Corylus avellana)), pequenas (sobreiro (Quercus suber)) ou ter forma de agulha (pinheiro-bravo (Pinus pinaster)), podem ser rígidas (azevinho (Ilex aquifolium)) ou macias (ulmeiro (Ulmus minor)), inteiras (loureiro (Laurus nobilis)) ou compostas (tramazeira (Sorbus aucuparia)), verdes, nas mais diversas tonalidades, avermelhadas , amareladas (bordo (Acer pseudoplatanus)), arroxeadas (ameixoeira-de-jardim (Prunus cerasifera “pissardii”)) ou variegadas (árvore-quarenta-dinheiros (Ginkgo biloba)).
Já as flores podem ser mais ou menos vistosas, perfumadas ou não, simples ou compostas e com uma gama de cores muito ampla, que pode variar entre o vermelho (camélia (Camellia japonica)), o rosa (tamargueira (Tamarix africana)), o roxo, o azul (jacarandá (Jacaranda mimosifolia)), o amarelo (Tipuana (Tipuana tipu)), o branco (magnólia (Magnolia denudata)) e até mesmo o verde e o variegado (tibouchina (Tibouchina mutabilis)).
Também o tronco das árvores varia, quer na cor como na textura, existindo troncos com ritidoma – casca – com características únicas de cada espécie. O ritidoma pode ser mais rugoso (sobreiro (Quercus suber)) ou liso (árvore-de-júpiter (Lagerstroemia indica)), pode desprender em placas (amieiro (Alnus glutinosa)), tiras (teixo (Taxus baccata)) ou escamas (castanheiro-da-Índia (Aesculus hippocastanum)), apresentar espinhos (paineira (Ceiba speciosa)), lenticelas (bétula (Betula pubescens subsp. pubescens)) e outras estruturas especiais, e até exsudar resina (pinheiro-bravo (Pinus pinaster)) ou latex. Pode apresentar tons que podem variar entre o cinzento (freixo (Fraxinus angustifolia)), o castanho (castanheiro (Castanea sativa)), o vermelho (sequoia (Sequoia sempervirens)), o branco (bétula (Betula pendula)) e o verde (Plátano (Platanus spp.)).
A escolha criteriosa destas características torna algumas espécies muito interessantes para plantar num jardim. O bordo-japonês (Acer palmatum), por exemplo, é uma pequena árvore de folhas delicadas e verdes que adquirem tons dourados no outono, antes de caírem. As flores são avermelhadas, discretas e ocorrem na primavera. Outro elemento bastante decorativo desta pequena árvore é o fruto, uma sâmara que se desenvolve em pares e que também assume tons de verde e vermelho.
Escolher bem a árvore
É fundamental escolher a espécie adequada aos fins a que se destina. Já sabemos, por exemplo, que se o jardim for pequeno e talvez só tenha espaço para uma pequena árvore, para quê plantar um abeto ou um plátano? Daqui a uns anos terá de ser cortado ou massacrado com podas, porque cresceu demasiado.
Na hora de escolher uma árvore também é muito importante verificar se as condições ambientais do local da plantação são adequadas às exigências específicas da espécie pretendida. Existem árvores mais bem-adaptadas a determinadas condições edafo-climáticas do que outras.
Não vale a pena plantar uma árvore que necessita de solos húmidos e básicos, se o solo é seco e ácido.
Além disso, sempre que possível, devemos escolher espécies nativas, pois estão mais adaptadas às condições ambientais, o que facilita a sua instalação.
A bétula, o amieiro e o salgueiro, por exemplo, são espécies características das zonas ribeirinhas, logo têm preferência por locais mais frescos e húmidos.
Já o sobreiro e a oliveira são espécies mais bem-adaptadas a solos bem drenados e suportam mais facilmente períodos longos de seca.
A diversidade de árvores é grande, mas só a avaliação conjunta e o equilíbrio de todos estes fatores, permitirão uma escolha acertada, para garantir que o crescimento das árvores e a função que terão de desempenhar sejam atingidos na plenitude.
Todas as semanas, durante mais de dois anos, Carine Azevedo deu-lhe a conhecer novas plantas para descobrir em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
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