Hoje existirão cerca de 800 linces-ibéricos em estado selvagem, graças a vários anos de trabalho de conservacionistas em Portugal e Espanha. Mas o futuro da espécie precisa que os núcleos populacionais deste felino estejam interligados, avisa a WWF Espanha.
É preciso começar a trabalhar para favorecer a ligação entre as várias populações de lince-ibérico, disse ontem à agência de notícias espanhola EFE Ramón Pérez de Ayala, coordenador dos projectos dos grandes carnívoros da WWF Espanha.
O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie classificada Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Tem este estatuto desde 22 de Junho de 2015, depois de ter estado anos na categoria mais elevada, Criticamente Em Perigo de extinção.
Actualmente há populações reprodutoras no Vale do Guadiana (Portugal), na Andaluzia (Doñana-Aljarafe, Andújar-Cardeña, Guarrizas e Guadalmellato), Extremadura (Valle del Matachel) e Castela-La Mancha (Serra Morena Oriental e Montes de Toledo).
Estima-se que a população mundial de lince-ibérico tenha hoje cerca de 800 animais na natureza, incluindo 135 fêmea reprodutoras.
Estes núcleos foram criados e desenvolveram-se a partir das populações da Serra Morena e de Doñana, com animais vindos dos cinco centros de reprodução em cativeiro.
Em 2020, as reintroduções começaram em Espanha a 20 de Janeiro com a libertação de Queso e Quirina – macho e fêmea que tinham, então, 10 meses de idade – nos Montes de Toledo. Estes dois linces nasceram no centro de reprodução em cativeiro de Zarza de Granadilla (Cáceres).
“O projecto Life + Iberlince correu melhor do que estávamos à espera porque em todos os locais onde reintroduzimos linces correu tudo muito bem e já têm mais de 10 fêmeas reprodutoras”, disse Ramón Pérez de Ayala.
O responsável sublinhou que hoje há “populações fortes” de linces, com “fêmeas reprodutoras que criam sozinhas”. Agora, o desafio é evitar que, “a longo prazo, a endogamia prejudique a espécie”.
O problema da baixa diversidade genética
A diversidade genética demasiado baixa é um dos maiores desafios à sobrevivência do lince-ibérico, a par dos atropelamentos, da dependência das populações de coelho-bravo e do envenenamento e perseguição. Quanto mais consanguíneos forem os animais que se reproduzam, menor será o tamanho das ninhadas e menor será a taxa de sobrevivência das crias, por exemplo.
“Os núcleos ainda não estão devidamente conectados”, disse à Wilder Rodrigo Serra, director do Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI) numa entrevista em Março de 2018, onde defendia a necessidade vital de ligar as populações de lince para trazer de volta esta espécie aos seus territórios históricos em Portugal e Espanha.
“Não há corredores naturais devidamente consolidados. E isso traz-nos o risco acrescido de qualquer coisa que aconteça a uma destas populações – como incêndios ou epidemias – poder eliminar um núcleo”, acrescentou Rodrigo Serra.
Uma das formas para conseguir aumentar essa diversidade é fazer com que os animais de diferentes populações se encontrem e se reproduzam.
Mas este não é um desafio de fácil resolução. “Em alguns casos há uma distância grande entre populações”, lembrou Ramón Pérez de Ayala. Daí a importância do novo projecto LIFE Lynx Connect, que vai apostar em ter pequenas populações-ponte entre os grandes núcleos reprodutores, ligadas através de grandes corredores naturais.
“Já sabemos quais são estes corredores naturais e este ano começaremos a determinar a sua idoneidade com a realização de censos de coelho-bravo que nos permita identificar os lugares chave que constituam esses pontes intermédios”, explicou o responsável espanhol.
Hoje, os peritos já sabem por onde tendem a movimentar-se os linces e onde estaria o habitat adequado. “Agora, o que precisamos conhecer é se têm coelho ou não”.
Nestas “populações-ponte”, acrescentou, “pode favorecer-se a chegada natural dos linces ou reintroduzir-se inicialmente alguns exemplares até conseguir, pelo menos, duas fêmeas reprodutoras na zona”.
[divider type=”thick”]Saiba mais.
Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana.
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