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Ursos já não hibernam como dantes por terem alimento dado por humanos

06.12.2016

O Inverno aproxima-se e, nesta altura do ano, os ursos em todo o mundo estão a preparar-se para hibernar. Mas um novo estudo científico sugere que nem todos os ursos vão passar o Inverno em abrigos, especialmente quando têm alimento disponibilizado por humanos, para fins de caça ou diversão.

 

Os investigadores – coordenados por Miha Krofel, da Universidade de Liubliana – estudaram a hibernação dos ursos-pardos (Ursus arctos) nas florestas da cadeia montanhosa de Dinaric, na Eslovénia, um país onde se pratica a alimentação intensiva dos ursos com maçarocas de milho durante todo o ano.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A equipa de cientistas usou dados de telemetria GPS para localizar abrigos de hibernação, maioritariamente cavidades naturais, e para monitorizar a utilização desses locais pelos ursos. Para isso, entre 2005 e 2009, os investigadores colocaram colares GPS em 33 ursos-pardos adultos. Mas no final, apenas foi possível conseguir informação sobre 17 animais, cinco machos e 12 fêmeas (cinco ursos foram abatidos, um morreu atropelado, quatro conseguiram remover o colar e em seis os colares deixaram de funcionar).

De acordo com os resultados do estudo, o período de hibernação foi, em média, de 82 dias para as fêmeas e 57 dias para os machos. Isto significa que a disponibilidade de alimento providenciado por humanos encurtou o período de hibernação em 45% nas fêmeas e em 56% nos machos para o que seria de esperar em animais que vivem naquela latitude.

O estudo mostra também que, durante os meses de Inverno, 61% dos ursos saíram várias vezes dos seus abrigos para visitarem locais de alimentação.

Os investigadores acreditam que estes resultados têm importante implicações ecológicas e de gestão das populações selvagens, uma vez que “reduções nos períodos de hibernação aumentam o potencial de interacções dos ursos com outras espécies, incluindo com humanos”, escrevem os autores no artigo.

Segundo os investigadores, a hibernação é uma estratégia de várias espécies para conservar energia quando a disponibilidade de alimento é escassa e as temperaturas são baixas.

É entre Novembro e Dezembro que os ursos começam a hibernar, período que termina entre Fevereiro e Abril. Durante a hibernação, o ritmo cardíaco dos ursos desce de 40-50 para 10 pulsações por minuto. O ritmo respiratório baixa para metade e a temperatura reduz-se em 4 ou 5 graus. A energia que gasta é aquela que conseguiu acumular em reservas de gordura durante o Outono.

Mas em vários locais da Europa faz-se a alimentação suplementar de ursos com vários fins, desde a caça ao urso até ao ecoturismo e redução de conflitos entre ursos e humanos.

“A hibernação é uma parte importante no ciclo de vida dos ursos”, diz Miha Krofel, principal autor do estudo publicado na revista Journal of Zoology. “A nossa investigação mostra que o providenciar alimento aos ursos pode perturbar este ciclo e aumentar o período em que os ursos interagem com pessoas”, acrescentou.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie em perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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