Quinze tauros, bovinos selvagens, foram libertados a 30 de Abril no Grande Vale do Côa para recuperar e restaurar a natureza, anunciou hoje a Rewilding Portugal.
Os animais – três touros Tauros e 12 vacas, quatro das quais grávidas – vão viver em estado semisselvagem nos cerca de 600 hectares da área rewilding do Ermo das Águias, em Vale de Madeira (Pinhel) no Grande Vale do Côa.
Estes tauros chegaram no início de Abril vindos da Holanda e entretanto estiveram num num cercado fechado para se poderem aclimatar ao novo ambiente, enquanto a equipa monitorizou a sua saúde e comportamento durante algumas semanas antes da libertação.
A libertação dos Tauros no Grande Vale do Côa é uma continuação do projeto europeu Tauros Programme, uma colaboração entre a Rewilding Europe e a Fundação Taurus. “Este programa tem como objetivo devolver à Europa uma espécie bovina autossuficiente e integrada na vida selvagem, geneticamente e funcionalmente semelhante ao auroque, capaz de ocupar o mesmo nicho ecológico”, explicou, em comunicado, a Rewilding Portugal. “Através de uma cuidadosa reprodução de antigas raças bovinas, assim nasceu o tauros.”
A equipa da Rewilding Portugal recebeu formação da Fundação Taurus para que compreendesse o comportamento destes grandes bovinos antes da sua chegada.
“No passado, o Grande Vale do Côa já foi casa do ancestral dos tauros, o auroque. O auroque é o antepassado selvagem de todos os bovinos domésticos, sendo por isso considerado o animal mais importante da história da humanidade.”
Vestígios deste antigo bovino podem ainda ser encontrados em gravuras rupestres pré-históricas no Vale do Côa. O auroque foi caçado até à extinção em 1627. Antes de ser declarada extinta, esta espécie-chave percorria grande parte da Europa, Ásia e Norte de África.
Segundo a Rewilding Portugal, esta manada recém-libertada “contribuirá diretamente para a criação de habitats variados e biodiversos, ao mesmo tempo que eliminará a vegetação densa e reduzirá o risco de incêndios devastadores, permitindo assim que florestas nativas se regenerem”.
Além disso, acrescentou, “desempenham também um papel fundamental na cadeia trófica alimentar. O Vale do Côa já alberga o lobo ibérico e os abutres, que beneficiarão muito com o regresso de um bovino de grande porte. Invertebrados necrófagos, aves e pequenos mamíferos, menos conhecidos, também se desenvolverão em maior abundância com a sua presença”.
A associação lembra que, por causa do despovoamento das comunidades rurais e do desaparecimento de gado para pastoreio, “as paisagens outrora abertas estão agora cobertas por vegetação arbustiva densa ou por vastas extensões de floresta jovem, ambas pobres em biodiversidade e suscetíveis a incêndios”.
“Os herbívoros de grande porte desempenham um papel essencial no consumo de biomassa e na criação de paisagens mais resilientes para proteção contra os incêndios”, explicou Sara Aliácar, diretora de Conservação da Rewilding Portugal. “Serão também excelentes a espalhar sementes para ajudar a restaurar os habitats que já se perderam com os incêndios, melhorando os espaços para a vida selvagem.”
A introdução dos tauros no Ermo das Águias foi feita com o apoio da população local. Quando a equipa da Rewilding Portugal comprou a propriedade, fez um trabalho de sensibilização da comunidade e incentivou o envolvimento através de atividades organizadas. “Já existe uma boa compreensão local sobre a importância dos animais de pasto, devido às suas próprias experiências com a gestão do gado doméstico.”
Os tauros não estão sozinhos no seu papel de restauro ecológico, já que se vão juntar a alguns dos 25 cavalos de raça autóctone Sorraia que já foram libertados pela Rewilding Portugal. Uma manada de 13 cavalos circula livremente na região norte do Ermo das Águias, enquanto os tauros foram libertados a sul. A equipa espera que as duas espécies se encontrem e pastem juntas nesta área rewilding assim como os seus ancestrais selvagens teriam feito.
“Esta é a primeira libertação em Portugal e planeamos agora introduzir tauros em mais áreas rewilding do Grande Vale do Côa, à medida que continuamos a melhorar a conectividade do mesmo”, afirmou Deli Saavedra, Diretor de Paisagens Rewilding da Rewilding Europe.
Estas libertações ajudarão a concretizar a visão de rewilding para a região, com a equipa da Rewilding Portugal a trabalhar agora para fortalecer um importante corredor ecológico de 120.000 hectares entre o Douro e a Malcata. Os seus esforços são apoiados por financiamento do Endangered Landscapes Programme.
Embora a zona do Ermo das Águias onde os Tauros andam à solta não esteja atualmente aberta ao público, será acessível e segura para os visitantes no futuro. A equipa planeia criar percursos pedestres com sinalização informativa, que incluirá instruções claras sobre o que fazer ao encontrar os tauros, nomeadamente como manter uma distância respeitosa.