Ao longo das últimas semanas registaram-se muitas dezenas de carvalhos-negrais com as folhas secas em vários concelhos do Parque Natural da Serra de São Mamede, no Alto Alentejo. Com base na distribuição desta espécie no Parque, estima-se que possam estar afectadas milhares de árvores.
Em causa está uma área protegida situada no Alto Alentejo, que se estende pelos concelhos de Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e Arronches, com uma área total de 56.061,31 hectares. Segundo o site natural.pt, neste Parque Natural convivem carvalhais, castinçais, sobreirais e azinhais, a par de mantos de giesta, esteva e carqueja, que servem de abrigo a diferentes espécies, incluindo aves de presa e morcegos. Esta é também considerada a zona do país com “maior número de espécies de anfíbios e répteis”, onde existem 14 das 17 espécies de anfíbios da fauna portuguesa.
No ano passado, de acordo com um comunicado da Quercus, verificou-se a existência de carvalhos-negrais secos no Parque Natural da Serra de São Mamede durante o mês de Agosto. Na altura, esta organização não governamental de ambiente (ONGA) alertou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para este facto e questionou o que estaria a acontecer e o que poderia ser feito. “O assunto foi exposto pela Quercus em várias reuniões da Comissão de Cogestão do Parque Natural da Serra de São Mamede, sem que se tivesse obtido qualquer resposta”, afirmam os ambientalistas.
No entanto, “neste momento verifica-se que as árvores com folhas secas aparecem em áreas maiores e em meados do mês de Julho”, nota a Quercus, que adianta ter alertado novamente o ICNF para o que se está a passar.
“O fenómeno deste ano pode estar ligado à seca e ao calor intenso que se faz sentir”, afirma a ONGA portuguesa, que apela a que se faça “uma investigação rigorosa do fenómeno”, por recear que o ecossistema da Serra de São Mamede esteja em perigo.
O carvalho-negral (Quercus pyrenaica) encontra-se na parte norte da Serra de São Mamede, com influência atlântica, onde existe mais humidade. Esta serra constitui praticamente o limite sul da distribuição desta espécie de árvore em Portugal, constituindo uma espécie de ilha ecológica, rodeada pela planície alentejana, de influência mediterrânica, mais seca.
“Os locais onde existem carvalhos-negrais são habitats para uma grande diversidade de seres vivos, desde aves, mamíferos, insetos, répteis e anfíbios, até uma grande variedade de cogumelos”, descreve a associação, que avisa que “a seca destas árvores pode levar à destruição destes ecossistemas”.
“Nas zonas onde o carvalho-negral sofreu desflorestação verifica-se uma erosão dos solos irreversível, por isso tem de se destacar o importante papel das suas raízes, que fixam o solo solto e que bombeiam nutriente do subsolo para a superfície.”
A Quercus defende que se deve investigar “a fundo” a causa destas árvores estarem a secar e tomar medidas para as conservar, e lembra que a espécie não tem proteção legal fora das zonas especiais de conservação da Rede Natura 2000.
O símbolo da associação é precisamente uma folha e uma bolota de Quercus pyrenaica, “espécie representativa da floresta autóctone e da biodiversidade portuguesa, que urge proteger”.