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Portugal é o segundo maior exportador mundial de carne de tubarão

08.06.2022

Portugal é o segundo país a nível mundial com maiores exportações conhecidas de carne de tubarão e o sexto maior importador de carne de raia em termos de volume, alerta a organização ANP-WWF no Dia Mundial dos Oceanos.

A ANP-WWF lançou um mapa interativo que mostra a sobre-exploração, as rotas de comércio global dos principais produtos à base de tubarões e raias (carne e barbatanas) e o impacto causado por Portugal no estabelecimento de pontes comerciais entre grandes importadores e exportadores, como o Brasil, Itália, Espanha e Namíbia. 

“O comércio mundial à base de tubarões e raias está a esgotar estas espécies e movimenta mais de quatro mil milhões de dólares anualmente, envolvendo mais de 190 países ou territórios”, comentou Ângela Morgado, Diretora Executiva da ANP|WWF.

Tintureira (Prionace glauca). Foto: Mark Conlin/NMFS/WikiCommons

“O valor resultante do comércio de carne de tubarão e raia é atualmente quase o dobro do valor do comércio das suas barbatanas, apesar destas terem muito mais atenção mediática.”

“Este comércio é pouco regulado, não transparente e perpetua a exploração destas espécies de uma forma pouco saudável para elas e para nós, já que o equilíbrio do ecossistema depende em larga escala delas”.

Estima-se que, por minuto, 192 tubarões e raias sejam pescados por todo o mundo, numa rede de comércio complexa que ameaça a sobrevivência destas espécies e a boa saúde dos oceanos.

Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal no que toca a tubarões e raias: 95% das importações de carne de raia vêm de Espanha e 75% das exportações de Portugal de carne de tubarão vão para Espanha.

Para Ana Henriques, especialista em Oceanos e Pescas na mesma ONG, “implementar medidas para a proteção dos tubarões e raias em Portugal tem o potencial para afetar toda a rede comercial global, o que justifica a criação de um Plano de Ação Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias, que colocaria Portugal na liderança europeia da proteção destas espécies, dando o exemplo a outros países europeus importantes no comércio, como é o caso de Espanha e Itália, para que reforcem e melhorem a proteção a estas espécies tanto ao nível da pesca como do seu comércio”. 

Apesar do papel desempenhado pelo nosso país ser maioritariamente de exportação, principalmente no que toca a tubarões, a ANP|WWF alerta ainda que o consumo também acontece em Portugal, muitas vezes de forma escondida.

Para o demonstrar, a ONG criou um guia de consumo que refere as dezenas de pratos gastronómicos à base de tubarões e raias que estão a ser consumidos em Portugal, e os nomes comerciais mais comuns que, principalmente em relação aos tubarões, não permitem identificar diretamente a espécie consumida (como por exemplo, cação, tintureira, e pata-roxa).

Cação (Carcharhinus plumbeus). Foto: National Marine Sanctuaries/WikiCommons

Além da gastronomia, os produtos à base de tubarão e raia (que são extraídos de diferentes partes do corpo) têm aplicações na cosmética, farmácia, alimentação animal, suplementos alimentares, uso industrial, produtos decorativos, entre outros.

Este trabalho vem no seguimento do lançamento do relatório Guardiões do Oceano em Crise, em 2021, onde a ONG apontava para a necessidade de adoção de medidas que minimizem as principais ameaças, a nível da pesca e comércio, assim como de reforçar questões de governança, por exemplo, melhorando a monitorização e controlo da pesca, e implementando boas práticas a bordo que melhorem a sobrevivência dos indivíduos libertados ao mar. Desde esse relatório, o anterior executivo deu início à criação de um Plano de Ação Nacional de Gestão e Conservação de Tubarões e Raias, que agora deverá transitar para o novo executivo e ser colocado para discussão com os diferentes intervenientes, para que seja rapidamente iniciada a sua implementação. 

De recordar que esse relatório alertou que das 117 espécies que se conhecem nas nossas águas, quase metade está ameaçada, o que, para Ana Henriques, “é um sintoma claro da sobre-exploração marinha, com repercussões no equilíbrio, produtividade, resiliência e capacidade do Oceano para mitigar os efeitos das alterações climáticas. Os tubarões e raias são muito mais importantes no Oceano do que no nosso prato. Para reverter esta situação, precisamos urgentemente de desenvolver e implementar um Plano Nacional de Ação que os proteja, tal como foi prometido pelo anterior Governo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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