Cientistas da Universidade de Coimbra conseguiram provar, pela primeira vez, que algumas espécies de aves ajudam fungos a chegar a novos territórios, em conjunto com as sementes das suas parceiras plantas.
Em causa está um tipo de fungos conhecidos como fungos micorrízicos arbusculares, que formam relações estreitas com quase 80% das espécies de plantas terrestres.
“Os fungos colonizam a raiz e contribuem para uma maior absorção de nutrientes e água para as plantas que conseguem ter um crescimento maior e serem mais saudáveis. Em troca, a planta dá ao fungo uma “casa” e alimento fabricado na fotossíntese”, explica um comunicado divulgado esta quarta-feira pela Universidade de Coimbra (UC).
O objectivo do estudo foi tentar perceber como é que estes fungos micorrízicos conseguem chegar a grandes distâncias, pois têm sido encontrados em diferentes continentes do mundo e mesmo em ilhas remotas. “Como chegavam os fungos a estes territórios remotos era até agora desconhecido, já que não seria possível a dispersão a tão longas distâncias só pelo vento”, indicou Marta Correia, autora principal do artigo científico publicado na revista New Phytologist.
Para encontrar uma explicação, a equipa de cinco investigadores do Centro de Ecologia Funcional, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, recolheu amostras de excrementos de aves numa floresta próxima de Coimbra, ao longo de mais de um ano. Depois de plantarem as sementes encontradas em 63 desses excrementos, viram nascer 54 plantas de seis espécies diferentes, incluindo silvas (Rubus ulmifolius) e medronheiros (Arbutus unedo).
Seguiu-se a análise das raízes dessas plantas em laboratório. Conclusão? 13% destas raízes tinham sido “imediatamente colonizadas por fungos ‘amigos’, provando que estes só podem ter sido transportados conjuntamente com as sementes no interior das aves.”
Os resultados indicam também que este transporte conjunto de sementes e fungos micorrízicos é realizado pelo menos por duas espécies de aves europeias: o pisco-de-peito-ruivo e a toutinegra-de-cabeça-preta. Ambas são frugívoras, ou seja, os frutos formam uma parte da sua alimentação, sem causarem danos às sementes que estão no interior.
“Em grande escala, a grande abundância de aves frugívoras que fazem migrações sazonais todos os anos podem transportar milhões de sementes”, ajudando igualmente os fungos ‘amigos’ a chegar a diferentes regiões do mundo, destacam os autores do artigo.
Recordam também que no caso do pisco-de-peito-ruivo, esta espécie é parcialmente migradora, com migrações através da região Paleártica Ocidental, ou seja, incluindo o Norte de África, Europa e parte da Ásia, até às montanhas dos Urais.
O estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e por fundos europeus do FEDER, no âmbito do programa PT2020.
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