As várias espécies de salmão do Pacífico têm vindo a diminuir de tamanho nos últimos 60 anos. O facto de as espécies estarem a voltar do mar mais cedo terá influência neste fenómeno.
O recente declínio verificado no tamanho médio do salmão do Pacífico poderá estar na origem de perdas económico-ambientais significativas, aponta uma equipa de investigadores de universidades e instituições norte-americanas e canadianas, num estudo publicado em agosto na revista Nature Communications.
Tendo o estado do Alasca como pano de fundo, as conclusões deste estudo partem de uma base de dados consolidada pelos autores, compreendendo um período de 60 anos (1957-2018) e 12,5 milhões de exemplares oriundos de 1.014 locais de amostragem. Dentro deste conjunto, encontram-se quatro espécies distintas: o salmão-real (Oncorhynchus tshawytscha), o salmão-cão (O. keta), o salmão-prateado (O. kisutch) e, finalmente, o salmão-vermelho (O. nerka).
Ao papel central (e cultural) do salmão do Pacífico no Alasca, quer para os seus ecossistemas, quer para os seus habitantes, junta-se, assim, o tamanho (do corpo), uma característica fundamental a vários níveis, como na reprodução, na fisiologia e nas dinâmicas predador-presa.
“O facto de que provavelmente veremos algumas reduções nos serviços dos ecossistemas devido à diminuição do tamanho do salmão [do Pacífico] é preocupante, especialmente para as espécies e áreas onde essas consequências serão agravadas pela abundância reduzida, como é o caso de populações de salmão-real em muitas partes do estado [do Alasca]”, alerta Krista Oke, uma das investigadoras.
Em média e por salmão-real (O. tshawytscha), os autores estimam reduções de, aproximadamente, 16% na produção de ovos, 28% no transporte de nutrientes, 21% no valor comercial e 26% nas refeições fornecidas em zonas rurais, aliadas a perdas menores, mas consideráveis, para as restantes espécies.
Da análise de dados e modelação estatística elaborada, é também possível refinar as principais evidências deste estudo acerca do declínio do tamanho médio do salmão do Pacífico. Com base num total de 179 populações, o salmão-real apresenta o maior declínio (8%), seguido do salmão-prateado (3,3%), do salmão-cão (2,4%) e, por fim, do salmão-vermelho (2,1%).
Analisando, por outro lado, a evolução anual do tamanho médio, verifica-se uma tendência geral negativa para todas as espécies, intensificada a partir de 2010 e sem um padrão constante ao longo do tempo.
De modo a complementar a visão geral, os autores ressalvam as diferenças existentes entre espécies, regiões do Alasca e populações de salmão, quer na comparação direta entre os dois períodos, quer nos padrões anuais mostrados.
O menor tamanho das quatro espécies de salmão deve-se, sobretudo, a alterações nas suas estruturas etárias — estes salmões estão a regressar do mar mais cedo, reproduzindo-se em idades mais jovens, conforme mencionado pelos autores (os salmões são peixes anádromos, pois nascem em água doce, crescem no mar e, no final, reproduzem-se em água doce). Embora nenhum fator isolado explique este fenómeno, tanto o clima como a competição no mar estão associados às mudanças no tamanho destas espécies no Alasca, segundo os autores.
Separadamente, a partir de 33 populações diferentes, os autores também investigaram os efeitos da taxa média de exploração na mudança de tamanho do salmão-vermelho (25) e do salmão-real (oito). Contudo, os autores não detetaram nenhuma relação significativa. Por outro lado, motivados pela disponibilidade limitada de dados adequados e pelas diferenças metodológicas no setor das pescas, os autores deixam um alerta acerca da possível generalização desta conclusão.
“[Um próximo estudo] interessante seria a análise mais aprofundada sobre as consequências das mudanças no tamanho corporal. Analisámos uma série de potenciais consequências, mas algumas serão influenciadas por fatores externos que não pudemos abordar à escala do nosso estudo. Por exemplo, as consequências comerciais serão provavelmente influenciadas por outros fatores que influenciam o preço do salmão, como os custos de produção, as flutuações do mercado ou a disponibilidade de bens substitutos como o salmão do Atlântico de viveiro. Focar numa única espécie pode facilitar a análise destes potenciais fatores externos”, complementa Krista Oke.
O estudo encontra-se disponível em acesso aberto.