Os primeiros resultados da expedição científica Tara Oceans, que durante cinco anos percorreu os oceanos de todo o mundo para estudar o plâncton, foram hoje publicados na Science.
Ao todo, são cinco estudos científicos, que resultam de amostras recolhidas entre 2009 e 2013 ao longo dos 140.000 quilómetros de viagem, e que revelam um mundo novo escondido nos oceanos. Mas este é ainda o início de um longo trabalho de análise que está a ser feito.
“Temos a mais completa descrição dos organismos do plâncton até hoje realizada: o que existe em termos de vírus, bactérias e protozoários”, afirmou Chris Bowler, coordenador científico da expedição e investigador do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Paris, à BBC.
Os primeiros resultados das amostras recolhidas ultrapassam as expectativas da equipa. Até agora, foram encontradas 35.000 espécies de bactérias, 5.000 novos vírus e 150.000 diferentes plantas e criaturas unicelulares, que se acredita serem novidade para a ciência na sua quase maioria.
Entre as bactérias, por exemplo, os cientistas identificaram 40 milhões de genes, a maioria nunca antes encontrados. E no que respeita aos vírus marinhos, de que se conheciam apenas 39 até agora, a equipa descobriu 5.437 nas amostras da expedição.
A forma como se organizam e interagem os organismos do plâncton e a influência da temperatura, especialmente nas bactérias, são outros temas de estudo.
“É a temperatura que determina que tipo de comunidades de organismos encontramos. Se olharmos para os dados e virmos que organismos ali estão, conseguimos prever, com 97% de certezas, a temperatura da água na qual eles vivem”, explica Bowler, que alerta para o impacto das alterações climáticas nestes seres.
As descobertas da expedição Tara Oceans vão ficar acessíveis para toda a comunidade científica, naquela que será uma das maiores bases de dados de DNA disponíveis em todo o mundo.
Acredita-se que os minúsculos organismos do plâncton, muitos deles invisíveis a olho nu, formam 90% da massa de toda a vida marinha oceânica. Além de serem a base de toda a cadeia alimentar, produzem metade do oxigénio que respiramos, através da fotossíntese.
Por outro lado, os genomas microbianos que se encontram no plâncton são apelidados, pela comunidade científica marinha, de “ouro azul”, lembra o El Pais.
Um gene proveniente de uma bactéria que habita as águas polares, por exemplo, é actualmente utilizado em produtos lácteos sem lactose. Entre os mais de 5.000 genes marinhos hoje patenteados, existem aplicações nos sectores da saúde, energia, alimentar, cosmético.
Mas os estudos estão ainda no início, pois falta analisar 98% das 35.000 amostras de plâncton e água recolhidas durante a viagem.
O projecto desta expedição multinacional, onde participaram cientistas de 40 nações, custou cerca de 10 milhões de euros.
Foi em 1995 que o director científico da expedição, Eric Karsenti, tomou a decisão de lançar o projecto, inspirado pela leitura do diário publicado por Charles Darwin em 1839, A Viagem do Beagle.
A ideia começou a ganhar forma apenas em 2007, quando a designer de moda francesa Agnès Troublé (dona da marca Agnès B.) cedeu o seu veleiro de 36 metros para ser utilizado como embarcação, numa iniciativa apoiado pelo Centro Nacional para a Investigação Científica, em França.