As mais de 400 espécies de líquenes que vivem nas rochas da Antárctida estão a ajudar esta equipa de investigadores espanhóis a descobrir que efeitos terão as alterações climáticas na biodiversidade do continente gelado.
Há 24 anos que estes investigadores olham atentamente para o crescimento de seis espécies de líquenes que vivem onde o gelo e a neve nunca chegam, na península da Antárctida. Querem compreender de que forma as alterações nas temperaturas afectam o desenvolvimento destas espécies, muito sensíveis à poluição atmosférica e excelentes indicadores dos efeitos das alterações climáticas.
Aquilo que descobriram acaba de ser publicado num artigo na revista Scientific Reports, onde participaram investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais, da Universidade Complutense, da Universidade Politécnica e da Universidade de Alcalá de Henares.
Segundo os cientistas, entre 1991 e 2002, quando a temperatura média no Verão aumentou 0,42ºC, cinco das seis espécies de líquenes aumentaram o seu crescimento. Mas, entre 2002 e 2015, quando a temperatura média no Verão desceu 0,58ºC, a taxa de crescimento de quatro das espécies diminuiu e as outras duas colapsaram, sofrendo um forte declínio populacional.
Também comprovaram que os nevões afectam mais os líquenes quando a temperatura ambiente é mais fria. E que as populações destas espécies desaparecem se a neve permanece durante muito tempo.
Segundo Fernando Valladares, investigador do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais, “entre 1951 e 1998, a temperatura anual foi aumentando. Mas desde 1998 diminuiu em média 0,25ºC por década”.
“Graças à reacção rápida destas espécies, ao monitorizar o seu crescimento conseguimos comprovar a existência de períodos de arrefecimento dentro da tendência geral de aquecimento e pudemos ver como estas alterações de temperatura, que poderiam parecer insignificantes, afectam estes líquenes de forma drástica”, acrescentou o investigador em comunicado divulgado ontem. “Tudo isto permite inferir alterações no funcionamento dos ecossistemas antárcticos e do planeta no seu conjunto.”
O potencial dos pequenos líquenes para dar sinais de alerta sobre o que está a acontecer aos ecossistemas do planeta já despertou a atenção internacional. Em Janeiro deste ano, um artigo publicado na revista Methods in Ecology and Evolution defendeu os líquenes enquanto indicador ecológico mundial, reconhecido pelas Nações Unidas. Os autores do artigo, coordenados por Paula Matos (investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), apresentaram uma nova métrica para que os líquenes possam passar a ajudar a analisar os efeitos do clima e da poluição a nível mundial.
[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.
Aqui tem um guia de campo útil para distinguir e identificar 12 espécies de líquenes que crescem nas árvores em Portugal.
Saiba identificar seis espécies de musgos e líquenes das árvores e telhados do nosso país.