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Juvenil de águia-imperial surge “de surpresa” no Norte do país

27.09.2018

É muito raro encontrar águias-imperiais, espécie Criticamente Em Perigo de extinção, tão a Norte do país. Esta ave foi captada por uma câmara de foto-armadilhagem num campo de alimentação de aves necrófagas em Miranda do Douro (Bragança).

 

A águia-imperial (Aquila adalberti) juvenil foi captada a 4 de Setembro pelas câmaras de foto-armadilhagem de um dos Campos de Alimentação de Aves Necrófagas (CAAN) geridos pela associação no concelho de Miranda do Douro (Bragança), no âmbito do projeto “LIFE Rupis – Conservação do Britango (Neophron percnopterus) e da Águia-perdigueira (Aquila fasciata) no vale do rio Douro”.

 

 

A notícia foi dada a 25 de Setembro pela Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural.

“O registo desta espécie a Norte do país demonstra que os esforços de conservação da águia-imperial-ibérica que estão a desenvolver no Sul do país estão a produzir resultados. A população está a crescer e a aumentar a sua área de dispersão”, comentou José Pereira, biólogo e presidente da Palombar, em comunicado.

Esta águia, que apenas existe na Península Ibérica, deixou de se reproduzir em Portugal no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. A sua nidificação só voltou a ser confirmada em 2003 na região do Tejo Internacional.

Lentamente, a águia-imperial tem vindo a colonizar o território. Este ano, a população nacional nidificante totalizou 17 casais distribuídos pela Beira Baixa, Alto Alentejo e Baixo Alentejo.

 

águia-imperial-ibérica em voo
Águia-imperial-ibérica. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

 

“Este é o único registo que temos, e que será de um juvenil em dispersão”, contou hoje à Wilder José Pereira.

É em Janeiro que as águias formam casal, normalmente com os mesmos pares quando já são adultas, e o nascimento das crias acontece entre Abril e Maio. As crias deixam os ninhos por volta de Julho ou Agosto.

Não se sabe se esta águia-imperial continua, ou não, na região porque a monitorização que é feita nos campos de alimentação já não é tão frequente. O biólogo explicou que nesta altura do ano está suspensa a deposição de alimento nos campos de alimentação, uma vez que as aves que os utilizam começaram a migração.

 

Uma observação muito rara

Grande parte do regresso da águia-imperial deve-se ao LIFE Imperial (2014-2018), projecto co-financiado pela União Europeia e coordenado pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN). “É muito raro recebermos dados de observações da espécie tão a norte do país, pelo que este registo é muito interessante e importante para o projeto (LIFE Imperial) e agradecemos imenso à equipa da Palombar no LIFE Rupis por o ter partilhado”, escreveram os responsáveis pelo projecto dedicado à águia numa nota no Facebook. 

Para estes conservacionistas, “este registo demonstra também a elevada importância destes locais (campos de alimentação) para a conservação das aves necrófagas, mesmo que ocasionais como é o caso da águia-imperial (particularmente os indivíduos imaturos)”.

A Palombar está a reforçar a reforçar a rede de campos de alimentação para aves necrófagas, “que tem vindo a crescer e que permite um aumento da disponiblidade alimentar para estas espécies e promove a conectividade entre as áreas protegidas”.

Segundo José Pereira, a deposição regular de alimento nestes campos será retomada em Janeiro, “altura da reprodução de espécies como a águia-real, grifo e abutre-preto”. Entre Janeiro e Abril, a deposição é feita semanalmente. Depois, quando chegam as aves migradoras e quando já nasceram as crias, a deposição passa a ser feita duas vezes por semana.

O biólogo informou que o grifo é a espécie mais frequente nos campos de alimentação, mas também são utilizadores regulares o abutre-preto, a águia-real, o milhafre-real e o milhafre-preto.

Esta é uma boa notícia para a águia-imperial mas ainda há muito a fazer pela sua conservação.

Actualmente, “o tamanho da sua população reprodutora é tão reduzido que existe um elevado risco de extinção da espécie”, salienta o LIFE Imperial. Isto pode acontecer “face ao aparecimento, por exemplo, de uma doença, por redução significativa da população devido a alta mortalidade e períodos consecutivos de baixa produtividade e/ou por deterioração genética (devido à possível reprodução entre indivíduos da mesma “linhagem”, diminuindo a viabilidade e a diversidade genética da espécie)”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais

O LIFE Rupis (2015-2019) é coordenado pela Sociedade Portuguesa Para o Estudo das Aves (SPEA) e conta com vários parceiros nacionais e internacionais, entre os quais a Palombar. O projeto, que decorre  na Zona de Proteção Especial (ZPE) Douro Internacional e Vale do Águeda e na Zona de Especial Protección para las Aves (ZEPA) Arribes del Duero, pretende reforçar as populações de duas espécies prioritárias, nomeadamente o britango (Neophron percnopterus) e a águia-perdigueira (Aquila fasciata), através da redução da sua mortalidade e do aumento do seu sucesso reprodutor.

As ações do LIFE Rupis beneficiam também outras espécies, como é o caso agora registado da águia-imperial-ibérica, e ainda o abutre-preto (Aegypius monachus) e o milhafre-real (Milvus milvus). As populações de todas estas espécies estão em declínio, estando globalmente ameaçadas, em particular na Península Ibérica.

 

[divider type=”thick”]Torne-se um perito.

Recorde como identificar as águias-imperiais e a distingui-las de outras aves de rapina em Portugal, neste artigo da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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