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Irlandeses foram desafiados para andarem à procura de lagartos

03.05.2016

A lagartixa-vivípara e o licranço são duas espécies de répteis que ocorrem na Irlanda. Todos os cidadãos do país foram agora desafiados a procurar e a registar as observações, para ajudarem no seu mapeamento.

 

A iniciativa é do Irish Wildlife Trust e convida todos os irlandeses a andarem de olhos atentos ao terreno até 2017, no âmbito do National Reptile Survey, enviando um email com os detalhes e a data de cada encontro com estas duas espécies.

“As vossas observações vão ser utilizadas para mapear a distribuição irlandesa destas duas criaturas fascinantes e todos os registos ajudam”, apelam os organizadores do inquérito.

Conhecida em português como lagartixa-vivípara ou lagartixa-de-turfeira, a espécie Zootoca vivipera  não é dada como ocorrendo em Portugal. Ainda assim, é possível observá-la bem perto, no extremo norte de Espanha, como é o caso da região dos Picos da Europa e dos Pirinéus.

No Norte da Europa este réptil é bem mais comum, incluindo a Grã-Bretanha e a Irlanda, onde é uma espécie nativa que habita em áreas costeiras, mas também em pradarias e em pântanos.

Nos países mais frios, aliás, esta lagartixa é também reconhecida por não colocar ovos, mas sim eclodi-los internamente, pelo que as crias nascem já formadas. Esta característica, que a diferencia da maior parte dos répteis, é encarada pelos cientistas como uma adaptação a climas mais agrestes.

Já nas regiões mais a Sul onde pode ser observada, como o Norte de Espanha e Norte de Itália, esta pequena lagartixa (mede cerca de 13 centímetros) costuma ser ovovípara, colocando ovos.

Quanto ao licranço (Anguis fragilis), que mede cerca de 40 centímetros, terá sido introduzido na Irlanda nos anos 1970, na região de Burren, e os cientistas pretendem agora saber até onde é que se espalhou essa população.

 

Licranço. Foto: Viridiflavus / Wiki Commons

Em Portugal, o licranço pode ser encontrado no Norte e no Centro, mas já foram localizadas também populações isoladas na Serra de Sintra e em Azeitão, indica o Atlas dos Anfíbios e Répteis terrestres de Portugal.

“É na verdade uma criatura peculiar. Parece uma pequena cobra mas é de facto um lagarto sem pernas”, descrevem os responsáveis do Irish Wildlife Trust, que acrescentam que se trata de um animal inofensivo para os humanos. “É um lagarto que se adaptou a uma vida sem pernas, deslizando na vegetação rasteira à caça de caracóis e de insectos lentos.”

É quando começa o calor que as duas espécies se tornam mais visíveis, na Irlanda. Logo a partir de Abril, podem ser encontradas a “tomar banhos de sol”, ou refugiadas debaixo de uma rocha. A actividade volta a aumentar no final de Agosto, quando nascem os juvenis, que imitam os progenitores e andam também à caça de insectos ou ficam parados ao sol, para aquecer.

 

[divider type=”thin”]Agora é sua vez.

A lagartixa-vivípara não ocorre em Portugal, mas há registo de muitas outras espécies de répteis terrestres, como o próprio licranço. Se as quiser conhecer melhor, pode consultar o Atlas dos Anfíbios e Répteis terrestres de Portugal, disponível no site do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

E que tal tentar atrair algumas espécies de lagartos e lagartixas para o seu jardim ou quintal, para os poder observar? Kieran Flood, do Irish Wildlife Trust, deixou algumas sugestões numa notícia publicada pelo The Irish Times:

“Os lagartos são animais de sangue frio, precisando de utilizar o calor externo aquecendo ao sol para manter o metabolismo a funcionar. Por isso, pode colocar no chão uma placa de metal ferrugento, placas de madeira, material para revestimento de telhados (‘roofing felt’) ou uma carpete velha – qualquer coisa espalmada e escura – e deixar isso ficar durante um par de semanas. Este material atrai-os [aos lagartos] porque fica ‘ensopado’ de calor e será um pouco mais quente do que a área em redor. E tenha a certeza de verificar por baixo, caso o lagarto tenha procurado aí abrigo.”

Kieran Flood nota ainda que estas espécies são mais fáceis de encontrar a ‘tomar um banho de sol’ de manhã cedo ou em dias mais frescos ao longo do Verão, pois nestas alturas “precisam de aquecer um pouco mais”.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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