Investigadores encontram o mais antigo fóssil de morcego. E descrevem uma nova espécie

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Fósseis bem preservados de morcego, encontrados no Wyoming, Estados Unidos, podem ser os mais antigos jamais descobertos. Com 52 milhões de anos, os fósseis do Icaronycteris gunnelli oferecem aos investigadores mais informações sobre a evolução dos únicos mamíferos voadores.

Uma espécie já extinta de morcego foi descoberta escondida entre as colecções do Museu americano de História Natural, em Nova Iorque, e do Museu Real de Ontário. A Icaronycteris gunnelli foi descrita com base nos espécimes guardados naqueles dois museus.

Fóssil do holotipo de Icaronycteris gunnelli
Fóssil do holotipo de Icaronycteris gunnelli

Ambos os fósseis tinham sido encontrados no Wyoming. Os espécimes de Icaronycteris gunnelli – nomeado assim para homenagear o paleontólogo Gregg Gunnell – foram descobertos a uma profundidade maior do que qualquer outro fóssil de morcego descoberto até então. A sua posição nas rochas sugere que estes fósseis serão os mais antigos descobertos até agora.

“Durante muitos anos, os fósseis de morcegos que ali foram encontrados foram atribuídos a apenas duas espécies, dependendo do seu tamanho”, explicou Tim Rietbergen, o principal autor do estudo publicado a 12 de Abril na revista Plos One. Essas duas espécies foram descritas em 1966 (Icaronycteris index) e em 2008 (Onychonycteris finneyi).

Mas será que entre todos os fósseis que foram sendo descobertos no Wyoming haveria espécies diferentes daquelas duas?

“Tínhamos ouvido rumores sobre a existência de uma espécie de morcego mais pequena mas demorou algum tempo até esse espécime chamar a nossa atenção”, contou Tim Rietbergen.

Nancy Simmons, curadora do Museu de Nova Iorque e investigadora que ajudou a descrever a Onychonycteris finneyi em 2008, também tinha as suas suspeitas. “Sempre suspeitei que deveriam existir mais espécies ali”, disse, em comunicado.

Para acabar com este mistério, Rietbergen, biólogo no Museu de História Natural da cidade neerlandesa de Leiden, começou a estudar os espécimes de morcegos que tinham sido identificados em 1966 como sendo Icaronycteris index

“Os paleontólogos recolheram tantos morcegos que tinham sido identificados como Icaronycteris index que nos questionámos se não haveria várias espécies entre esses espécimes”, explicou o biólogo.

Até que Rietbergen soube de um novo fóssil, um especialmente bem preservado que tinha sido recolhido por um coleccionador privado em 2017 e comprado depois pelo Museu.

Fóssil do holotipo de Icaronycteris gunnelli

Usando tomografias computadorizadas dos espécimes, os investigadores compararam este fóssil de 2017 a outros morcegos do Eoceno (de há 56 a 34 milhões de anos atrás) e chegaram à conclusão que esta era uma nova espécie. Um segundo fóssil, encontrado no mesmo local em 1994 e nas colecções do Royal Ontario Museum, também foi confirmado como sendo Icaronycteris gunnelli.

Como é que os morcegos evoluíram?

Hoje em dia, os morcegos são um dos grupos de mamíferos mais diversos, com mais de 1.400 espécies conhecidas. Vivem por todo o mundo, à excepção das regiões polares e de algumas (poucas) ilhas remotas.

Ainda assim, pouco se sabe sobre as suas origens. Os morcegos são notórios por ter um registo fóssil incompleto, com alguns estudos a estimar que 88% desse registo não seja conhecido.

Muitos dos fósseis que foram encontrados estão fragmentados, o que limita a informação que estes podem dar. Por exemplo, morcegos extintos como o Australonycteris foram descritos apenas a partir de dentes e de pequenos fragmentos de ossos.

“Os morcegos são pequenos e têm ossos delicados, por isso é raro encontrar esqueletos completos”, explicou Neil Adams, curador dos fósseis de mamíferos no Museu americano de História Natural. 

É quase certo que os antepassados dos morcegos passaram por diferentes fases na sua evolução até ao voo, como o trepar a árvores e penhascos e depois o deslizar, usando caudas para um maior equilíbrio. Mas ainda não foram encontrados fósseis destes animais intermédios.

“De momento não temos nenhuns fósseis completos dos antepassados dos morcegos”, disse Neil Adams. Assim, os cientistas tiveram de fazer deduções a partir dos esqueletos existentes.

Há muito por saber. Por exemplo, uma grande questão é se os morcegos adquiriram primeiro o voo ou a ecolocalização. Ou se desenvolveram os dois ao mesmo tempo.

O I. gunnelli rearranjou algumas parte da árvore de família dos morcegos. Acreditava-se que o Onychonycteris representava um dos ramos mais antigos mas o novo estudo mostra que não. Encontrar mais fósseis ajudará a definir melhor estas relações e a explicar como evoluíram os morcegos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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