Uma equipa de investigadores detalhou num artigo publicado este mês na revista Scientific Reports como controlar a quitridiomicose, doença que já causou o declínio de pelo menos 501 espécies de anfíbios.
Esta é a primeira vez que se consegue combater a quitridiomicose sem precisar de retirar os animais da água onde vivem, antes de aplicar o tratamento, dizem os investigadores.
A quitridiomicose foi descoberta há pouco mais de 20 anos e é causada por um fungo microscópico, o Batrachochytrium dendrobatidis. As infecções por quitrídio afectam a pele dos anfíbios e acabam por conduzir à sua morte porque impedem a correcta regulação da água e dos electrólitos, gerando uma falha cardíaca.
A doença causada pelo Batrachochytrium dendrobatidis está por detrás do alarmante declínio das populações de anfíbios por todo o planeta, desde rãs e sapos a tritões e salamandras.
Para este trabalho – liderado por investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN) e o Instituto Mixto de Investigación en Biodiversidad (IMIB), ambos do CSIC (Conselho Superior espanhol de Investigação Científica) – a equipa trabalhou com populações de sapo-parteiro-bético (Alytes dickhilleni), uma espécie endémica da cordilheira ética, no Sudeste da Península Ibérica.
“Os anfíbios são o grupo de animais mais ameaçado do planeta por causa da perda de habitats e da enorme incidência desta doença”, explicou, em comunicado, Jaime Bosch, investigador do IMIB. “Depois de muitos anos de estudo à procura de possíveis vias para reduzir a incidência desta doença conseguimos eliminar o fungo no meio natural sem que seja preciso retirar antes os animais e essa é uma notícia que nos traz muita esperança”, acrescentou.
Anteriormente, uma equipa liderada por Jaime Bosch teve sucesso com populações de sapo-parteiro-de-maiorca (Alytes muletensis), em Maiorca, mas era preciso retirar os animais dos corpos de água e esvaziá-los antes de aplicar o tratamento, o que era demasiado dispendioso.
Agora, a equipa de investigadores usou um fungicida utilizado na agricultura, o tebuconazol, para tratar as águas infectadas onde se reproduz o sapo-parteiro-bético, uma espécie especialmente sensível a esta doença.
“Esta é uma espécie endémica da cordilheira bética que está catalogada como Em Perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza, uma vez que a sua tendência populacional é claramente negativa”, acrescentou a investigadora do MNCN Barbora Thumsová.
Com duas aplicações do fungicida, a equipa conseguiu reduzir significativamente a carga infecciosa dos animais na maior parte das massas de água tratadas. Além disso, em seis dos 10 pontos tratados, a desinfecção manteve-se por mais de dois anos.
Felizmente, os vestígios do produto desapareceram uma semana depois da sua aplicação, sem deixar efeitos significativos nas características químicas e biológicas da água.
“Sabemos bem que o uso de químicos na natureza nunca é desejável, mas dada a situação de extrema gravidade na qual se encontram algumas espécies de anfíbios em todo o mundo, por culpa do ser humano, é imprescindível fazer intervenções eficazes em algumas populações especialmente ameaçadas”, explicou Thumsová. “É tarde para muitas espécies que temos visto extinguir-se diante dos nossos olhos mas talvez não seja para outras”, concluiu.