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Investigadores descobrem como controlar doença que ameaça anfíbios em todo o mundo

25.03.2024

Uma equipa de investigadores detalhou num artigo publicado este mês na revista Scientific Reports como controlar a quitridiomicose, doença que já causou o declínio de pelo menos 501 espécies de anfíbios.

Esta é a primeira vez que se consegue combater a quitridiomicose sem precisar de retirar os animais da água onde vivem, antes de aplicar o tratamento, dizem os investigadores.

Sapo-parteiro-bético. Foto: Jaime Bosch

A quitridiomicose foi descoberta há pouco mais de 20 anos e é causada por um fungo microscópico, o Batrachochytrium dendrobatidis. As infecções por quitrídio afectam a pele dos anfíbios e acabam por conduzir à sua morte porque impedem a correcta regulação da água e dos electrólitos, gerando uma falha cardíaca.

A doença causada pelo Batrachochytrium dendrobatidis está por detrás do alarmante declínio das populações de anfíbios por todo o planeta, desde rãs e sapos a tritões e salamandras.

Para este trabalho – liderado por investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN) e o Instituto Mixto de Investigación en Biodiversidad (IMIB), ambos do CSIC (Conselho Superior espanhol de Investigação Científica) – a equipa trabalhou com populações de sapo-parteiro-bético (Alytes dickhilleni), uma espécie endémica da cordilheira ética, no Sudeste da Península Ibérica.

“Os anfíbios são o grupo de animais mais ameaçado do planeta por causa da perda de habitats e da enorme incidência desta doença”, explicou, em comunicado, Jaime Bosch, investigador do IMIB. “Depois de muitos anos de estudo à procura de possíveis vias para reduzir a incidência desta doença conseguimos eliminar o fungo no meio natural sem que seja preciso retirar antes os animais e essa é uma notícia que nos traz muita esperança”, acrescentou.

Anteriormente, uma equipa liderada por Jaime Bosch teve sucesso com populações de sapo-parteiro-de-maiorca (Alytes muletensis), em Maiorca, mas era preciso retirar os animais dos corpos de água e esvaziá-los antes de aplicar o tratamento, o que era demasiado dispendioso.

Agora, a equipa de investigadores usou um fungicida utilizado na agricultura, o tebuconazol, para tratar as águas infectadas onde se reproduz o sapo-parteiro-bético, uma espécie especialmente sensível a esta doença.

“Esta é uma espécie endémica da cordilheira bética que está catalogada como Em Perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza, uma vez que a sua tendência populacional é claramente negativa”, acrescentou a investigadora do MNCN Barbora Thumsová.

Com duas aplicações do fungicida, a equipa conseguiu reduzir significativamente a carga infecciosa dos animais na maior parte das massas de água tratadas. Além disso, em seis dos 10 pontos tratados, a desinfecção manteve-se por mais de dois anos.

Felizmente, os vestígios do produto desapareceram uma semana depois da sua aplicação, sem deixar efeitos significativos nas características químicas e biológicas da água.

“Sabemos bem que o uso de químicos na natureza nunca é desejável, mas dada a situação de extrema gravidade na qual se encontram algumas espécies de anfíbios em todo o mundo, por culpa do ser humano, é imprescindível fazer intervenções eficazes em algumas populações especialmente ameaçadas”, explicou Thumsová. “É tarde para muitas espécies que temos visto extinguir-se diante dos nossos olhos mas talvez não seja para outras”, concluiu.
 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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