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Estes são os vencedores do Concurso de Fotografia Aves Marinhas da Macaronésia

27.01.2025

Um rabo-de-palha-laranja, garajaus e gaivotas estão entre os vencedores da 4ª edição do concurso internacional de fotografia “Aves Marinhas da Macaronésia”, organizado pela Asas do Mar – Instituto de Ornitologia Marinha dos Açores.

 

Este ano, os organizadores do concurso receberam “81 imagens fascinantes de participantes de várias partes do mundo, que realçam a beleza e a importância das aves marinhas na região da Macaronésia”.

Os vencedores foram selecionados em duas categorias, incluindo jovens fotógrafos com menos de 18 anos e profissionais experientes.

“As inscrições deste ano capturaram verdadeiramente a essência da nossa missão: inspirar a conservação através da arte da fotografia,” disse, em comunicado, Kirstin Jones, membro do júri de 2024.

 

1º Lugar: Phaethon lepturus, fotografia de Gerby Michielson

Rabo-de-palha-laranja (Phaeton lepturus), Ponta Delgada, São Miguel.

Este ano o primeiro prémio vai para uma imagem de uma ave raramente observada nos Açores. De facto, trata-se apenas da segunda vez que esta ave foi observada em todo o paleárctico ocidental. O rabo-de-palha-laranja vive em oceanos tropicais e subtropicais e é frequentemente avistada perto de ilhas, onde faz ninhos em fendas rochosas. É uma ave marinha deslumbrante, reconhecida pelas suas longas e finas penas caudais, bem como pela sua plumagem branca brilhante com marcas pretas. Deixa uma impressão marcante pela sua silhueta distinta e elegante como se pode confirmar na fotografia vencedora da edição de 2024 do concurso de fotografia da Asas do Mar.

Cada ave rara tem a sua história e esta foi especialmente curiosa”, contou o fotógrafo. “Vista pela primeira vez no verão de 2011 na Fajazinha, Ilha das Flores, esta ave encontrava refúgio na torre de uma igreja, possivelmente fugindo da perseguição em São Tomé. Após desaparecer no outono, foi observada novamente em 2012 e 2013, regressando aos Açores por três anos consecutivos. Durante uma reunião na universidade em Ponta Delgada, avistei subitamente a ave atrás de um vidro, junto a um ar-condicionado onde tentava nidificar. Foi nesse momento que capturei esta imagem única com a Serra Gorda ao fundo. Um exemplo fascinante de uma ave que alterou sua rota migratória.”

 

2º Lugar: Últimas silhuetas, fotografia de Anxo Cao

Garajau comum (Sterna hirundo), Caloura, São Miguel, verão de 2024

O garajau-comum, com os seus mergulhos a pique, é uma das aves marinhas mais ubíquas dos Açores, um verdadeiro companheiro de mergulhos das zonas balneares dos Açores durante a época estival.

Trata-se de uma elegante ave marinha, conhecida pelo seu voo ágil e cantos característicos. Nos Açores, nidifica sobretudo em zonas costeiras (falésias e ilhéus), mas pode também ocorrer em zonas mais interiores, como é o caso das lagoas das ilhas das Flores e de São Miguel. Estas aves migratórias percorrem milhares de quilómetros entre as áreas de invernada (por exemplo Brasil e Argentina) e os Açores, onde se reproduzem. Estão presentes nas ilhas açorianas entre março e setembro, alguns indivíduos podem permanecer até novembro, confirmando a importância dos Açores como habitat vital para a conservação das aves marinhas.

Nesta fotografia do entardecer, capturei um garajau comum num momento diferente do habitual. Quis destacar o retorno à sua colónia costeira para descansar. Esta imagem mostra outro lado dos seus hábitos e reflete sua vida noturna”, comentou o fotógrafo Anxo Cao.

 

3º Lugar: Fotografia com som, fotografia de Francisco Garcia

Grito da gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis) no ilhéu de Vila Franca do Campo, São Miguel

A gaivota-de-patas-amarelas é uma das aves mais comuns dos Açores e a única espécie de ave marinha residente ao longo de todo o ano. Sendo assim, não é de estranhar que seja um tema comum de fotografia da natureza nos Açores. Nidifica em zonas costeiras, mas também em lagoas interiores. Em São Miguel localiza-se a colónia de maior altitude, em pleno Pico da Vara. Apesar de ser comum, desempenha um papel importante no ecossistema, ajudando a manter o equilíbrio natural, por exemplo, promovendo a dispersão de nutrientes e alimentando-se de pequenos roedores e insectos e ajudando a regular as suas populações. 

“O som característico da gaivota-de-patas-amarelas é inseparável de Vila Franca do Campo. Quem visita a marina ou o ilhéu é recebido pelos seus chamamentos, um pano de fundo natural que compõe a paisagem da região”, comentou o fotógrafo Francisco Garcia.

 

Menção Honrosa: Leucogaster no Gilberto Mariano, fotografia de Tomás Melo

Fotografia de Alcatraz-pardo (Sula leucogaster) no barco da Atlânticoline durante a travessia entre o Pico e o Faial.

Mais uma imagem de uma ave não nidificante nos Açores. O alcatraz-pardo é uma ave marinha de médio porte, conhecida pela sua plumagem preta e acastanhada e branca e pelos mergulhos espetaculares que faz em busca de alimento. Nidifica em áreas tropicais e subtropicais, preferindo regiões costeiras e ilhéus remotas para nidificar, formando colónias numerosas. No Verão de 2024 uma destas aves fez a delícia dos observadores de aves das ilhas do triângulo e não escapou ao olhar atento do arquitecto Tomás Melo. Aqui fica a história divertida desta imagem contada pelo Tomás:

“Durante uma viagem de ferry entre Madalena e Horta, um alcatraz surpreendeu todos ao viajar tranquilamente nas cadeiras do piso superior, completamente indiferente à presença humana”, contou o fotógrafo Tomás Melo. “Ao sentar-me ao seu lado para tentar fotografá-lo, ele aproximou-se ainda mais de mim, permitindo capturar esta imagem especial. Foi uma experiência memorável, evidenciando como algumas aves utilizam infraestruturas humanas para seu benefício, uma inversão de papéis que me entusiasma e fascina.”

 

Na categoria Jovem Fotógrafo, para menores de 18 anos, as imagens vencedoras foram:

1º Lugar: Lá vai ele, fotografia de Gabriel Costa

Cagarro (Calonectris borealis), perto do ilhéu de Vila Franca do Campo, São Miguel

2º Lugar: A caminho do paraíso, fotografia de Gabriel Costa

Ao cair da noite os cagarros (Calonectris borealis) iniciam a sua atividade de regresso às colónias.

3º Lugar: Garajau à procura de alimento, fotografia de Tiago Freitas

Garajau-comum (Sterna hirundo), Madalena, Pico

“Estava a fotografar uma garça branca que estava lá ao longe no paredão e fotografei este garajau que não parava de voar de um lado para o outro”, explicou Tiago Freitas. “De vez em quando lá fazia um voo picado para apanhar um peixe distraído.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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