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Foto: Cláudia Rodrigues

Das aves aos golfinhos e tubarões, o novo projecto REDUCE quer reduzir as pescas acidentais

28.12.2023

Portugal participa num consórcio internacional composto por 13 países. Catarina Silva, da Universidade de Coimbra, que coordena os trabalhos de monitorização das capturas acessórias, contou à Wilder o que vai ser feito.

Um novo consórcio internacional vai avançar com o projecto REDUCE, que tem como principal objectivo diminuir o número de capturas acidentais de animais marinhos no Atlântico Centro Leste. A iniciativa conseguiu assegurar um financiamento de cerca de nove milhões de euros do programa Horizonte Europa, anunciou a Universidade de Coimbra (UC), que faz parte da equipa.

Hoje em dia, estão em vigor vários regulamentos na Europa para diminuir o número de animais marinhos pescados involuntariamente, mas tem sido insuficiente. Enredados acidentalmente nas redes e noutras artes de pesca que tinham como alvo outras espécies, muitos milhares de animais morrem todos os anos.

Alcatrazes junto a uma embarcação de pesca, no Mar Cantábrico. Vídeo: Carlos Pereira Luengo/CSIC

“A captura acidental pode representar até 40% do total das capturas de pesca, atingindo globalmente até 38 milhões de toneladas descartadas por ano, perturbando a cadeia alimentar oceânica e podendo representar uma ameaça à sobrevivência de espécies já sob pressão de várias outras atividades humanas”, explica a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, numa nota de imprensa.

O novo projecto é liderado pela Universidade de Barcelona e conta com três investigadores do Departamento da Unidade de Ciências da Vida da UC, incluindo Catarina Silva, que vai coordenar os trabalhos relacionados com a monitorização de capturas acessórias. Além de Espanha e Portugal, do consórcio fazem parte 11 outros países, incluindo a França, o Reino Unido e o Senegal. Com início em Janeiro de 2024, a conclusão está prevista para Dezembro de 2027.

Catarina Silva, investigadora na Universidade de Coimbra. Foto: D.R.

“O REDUCE vai apostar no desenvolvimento e teste de novas tecnologias e estratégias de gestão para uma melhor avaliação, monitorização e redução das capturas acessórias de aves, tartarugas, cetáceos, tubarões e raias na frota europeia de pesca de longa distância composta por arrastões, cercadores e palangreiros que operam nas águas do Oceano Atlântico, desde as costas da Península Ibérica até à Macaronésia e Golfo da Guiné”, explica a investigadora.

No que respeita à monitorização das pescas acidentais, haverá uma aposta forte na monitorização electrónica, testando os novos sistemas que hoje estão disponíveis. Em causa estão as tecnologias de vídeo que são instaladas a bordo para monitorizar as capturas e devoluções de pescas, indica Catarina Silva.

Testes em pelo menos 20 embarcações

Como o objectivo costuma ser registar as capturas de espécies comerciais, as câmaras vídeo são normalmente apontadas para o convés ou o tapete rolante, “onde são efectuados os descartes da pesca”. Já neste novo projecto, como se pretende obter mais informação sobre as capturas acessórias, as câmaras de vídeo serão instaladas “em locais onde possamos observar não só as capturas acessórias da megafauna (aves marinhas, tartarugas, tubarões) que é desembarcada no convés, mas também em locais onde possamos observar as interacções da megafauna com as redes de pesca de fora da embarcação, por exemplo instalando câmeras na popa.”

Rede de pesca onde ficaram enredados alcatrazes, por acidente. Foto: Carlos Pereira Luengo/CSIC

Estes sistemas de monitorização electrónica vão ser instalados em diversas embarcações portuguesas, espanholas e francesas, em especial naquelas que se dedicam à pesca de arrasto e palangre na zona de pesca do Atlântico Centro-Leste. “Vamos instalar e testar equipamentos o mais atualizados possível que estejam disponíveis no mercado, por exemplo em termos de resolução de imagens e estabilizadores”, informa a investigadora. O objectivo é testar esses sistemas em pelo menos 20 embarcações, distribuídas pelos três países.

Também os programas de observação tradicional, com a presença de responsáveis a bordo, vão ser alvo de testes e de experiências de melhoria no âmbito deste novo projecto. Prevista está ainda, entre outras medidas, a realização de workshops e o desenvolvimento e distribuição de kits informativos sobre medidas de mitigação, manuseio e reanimação de megafauna marinha.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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