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Clima explica extraordinária expansão de morcego europeu

09.02.2016

O morcego-de-kuhl, espécie comum em Portugal, tem vindo a conquistar a Europa do Norte e de Leste nos últimos 40 anos, numa expansão extraordinária. Cientistas acreditam que as alterações no clima são o principal factor por detrás deste aumento territorial.

 

Nos últimos 40 anos, o morcego-de-kuhl (Pipistrellus kuhlii) aumentou os seus territórios em 394% diz Leonardo Ancillotto, principal autor de um estudo publicado recentemente na revista The Science of Nature (Springer) e investigador na Università degli Studi di Napoli Federico II, em Nápoles. Ou seja, a espécie passou de um território com 1.510,116 quilómetros quadrados para um com 5.946,351 quilómetros quadrados.

Os morcegos do género Pipistrellus são muito flexíveis e conseguem viver em vários tipos de paisagens, mesmo em cidades. Por isso, os autores decidiram estudar o morcego-de-kuhl para compreender o que está a causar a sua expansão territorial.

A equipa recolheu 25.132 registos deste morcego na Europa entre 1980 e 2013, graças à observação directa ou pela identificação acústica feita por especialistas em morcegos. Depois, conjugou estes dados com vários modelos para prever se a colonização de novas áreas ao longo dos anos foi causada pelo aumento da urbanização ou pelas alterações climáticas.

Os primeiros registos indicam que o morcego-de-kuhl se encontrava no Norte de África, no Sul da Europa e na Ásia ocidental. Ao longo dos últimos 40 anos, a espécie tem-se espalhado para outros países, incluindo o Reino Unido, República Checa, Eslováquia, Ucrânia, Hungria, Roménia, Bulgária, Sérvia e Polónia.

“Os modelos indicam que isto aconteceu como resposta às alterações climáticas e, em particular, devido às temperaturas mais amenas durante o Inverno registadas nas regiões colonizadas mais recentemente”, explicam os autores do estudo, em comunicado. A urbanização não teve muita influência na expansão dos territórios da espécie.

“Segundo o nosso trabalho, o morcego-de-kuhl é um ‘vencedor’ no contexto das alterações climáticas”, comentou Ancillotto.

“Dada a sua flexibilidade ecológica, pode representar uma forte competição para outros morcegos nas regiões recentemente ocupadas e ter graves consequências nas populações de morcegos”, alertou ainda. No estudo, os autores recordam o exemplo da expansão do morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus) na Suíça que poderá ter causado o declínio do morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros), uma espécie mais sensível, por competição por alimento.

Estas consequências exigem “investigação cuidadosa”, alertam os investigadores.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Portugal Continental vivem 25 espécies de morcegos. Se quiser saber mais sobre eles, leia sobre o trabalho de uma ilustradora portuguesa, Lúcia Antunes, que fez um guia de identificação para todas as espécies.

Descubra sete coisas fascinantes sobre morcegos, aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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